O FILHO DO SÉCULO
Nunca mais andarei de bicicleta
Nem conversarei no portão
Com meninas de cabelos cacheados
Adeus valsa "Danúbio Azul"
Adeus tardes preguiçosas
Adeus cheiros do mundo sambas
Adeus puro amor
Atirei ao fogo a medalhinha da Virgem
Não tenho forças para gritar um grande grito
Cairei no chão do século vinte
Aguardem-me lá fora
As multidões famintas justiceiras
Sujeitos com gases venenosos
É a hora das barricadas
É a hora da fuzilamento, da raiva maior
Os vivos pedem vingança
Os mortos minerais vegetais pedem vingança
É a hora do protesto geral
É a hora dos vôos destruidores
É a hora das barricadas, dos fuzilamentos
Fomes desejos ânsias sonhos perdidos, Misérias de todos os países uni-vos
Fogem a galope os anjos-aviões
Carregando o cálice da esperança
Tempo espaço firmes porque me abandonastes.
Murilo Monteiro Mendes (1901/1975)
foi o segundo maior poeta mineiro
de todos os tempos.
Seus poemas possuem uma musicalidade cadenciada,
e frequentemente mesclam visões apocalípticas
com política, amor e temas mais triviais.
Murilo Mendes universalizou
o máximo que pode sua poesia,
e foi absolutamente aventuresco
em suas experiências formais,
mas nunca permitiu que sua poesia
perdesse seu sotaque mineiro.
A obra completa de Murilo Mendes,
com poemas e crônicas,
foi reunida num único volume
muito luxuoso, em papel bíblia,
e publicada pela Editora Nova Aguilar.
Ítens esparsos de sua bibliografia
foram reeditados pela Cosac Naify.
É tio do jornalista Lucas Mendes,
do programa semanal Manhattan Connection.
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