Vem chegando aí a versão nacional do ‘Dia de São Valentim’. Essa Mercearia, no afã de suas vendas alusivas à data (aquela lembrancinha... caixa de bombom, um foférrimo bicho de pelúcia, um chinelo de dedo transadíssimo...), vem à carga para um “boost” no faturamento em torno do “Dia Nacional da Flor Roxa, ...”.
Para os que têm motivo de celebração na próxima segunda, “Glória, Deus!”, “Oh, ‘bença’!”. Porque 15 entre 10 solteiros(as) hão de sacramentar que “... a porta anda estreita pacas!”.
Ter um par, hoje em dia, não é mais uma questão de “... você é que não sabe escolher...”, não! É pura questão de sorte! Ou como diria um esquecido escritor belmirense, “... um feliz acidente”.
Quem deu sorte, deu! Quem não deu, ...
O ‘trem’ é esquisitérrimo... O grande pensador Paulo Arantes costuma afirmar que o Brasil se acostumou com pouco, começou a redemocratização “no rebaixamento”. Pensamos que não é somente na vida política nacional, não.
São tempos difíceis. Já pegamos fregueses(as) nesse ‘secos-e-molhados’ afirmando alto & claro (alô, editor Chico Marques, aquele abraço!) que não tem mais paciência para esse tipo de troço. Não é que a qualidade despencou: simplesmente, não há qualidade alguma!
A coisa chegou num ponto que os(as) já compromissados(as) não fazem a menor ideia. O bagulho é um verdadeiro esculacho! Feito àquele grande sucesso do grupo belorizontino Skank, “Saideira”: “(...) tem um lugar diferente/lá depois da saideira/tem homem que vira macaco/e mulher que vira freira (...)”.
Não caberia aqui a questão do “coração partido”, “... foi infeliz no amor...”, “... deu azar”. Aquelas porradas que um bando de filho(a)-da-puta atenta contra nosso peito, fazendo-nos jogar a toalha e desacreditar em tudo. Na-na-ni-na-nina! É ‘lo-fidelity all stars’ meeeeeeesmo! É o rebaixamento citado pelo Paulo Arantes... haja saco! Falta de brilho, falta de tutano, ausência completa de conteúdo, um ‘saravá’ de empurrar com a barriga da perna.
Aí... lá pelas tantas, preparem-se! Vem um joguinho sujo do cacete, daqueles de dar engulhos, de fazer o(a) caboclo(a) erguer as mãos para os céus e perguntar: “Ó, Senhor! Que mal eu fiz a Ti! Não é possível... saí do banho e me enxuguei com o Santo Sudário!”.
Depois do mais brasileiríssimo tipo urbano denominado “louco de palestra” (aquele(a) sujeito(a) que, num painel de debates, pega o microfone e inicia sua participação com a célebre frase “eu gostaria de fazer uma colocação”), já se é possível identificar com extrema clareza a “mulher do IBGE”.
É óbvio que também há o “homem do IBGE”, mas o gênero masculino anda tão vazio ultimamente que sequer presta para escrever tal questionário. Há de se entender as agruras sofridas pelas freguesas dessa mal-amada Mercearia.
A “mulher do IBGE” é técnica: se alguém conseguir provar que uma cadeira dá um ótimo marido, ela casa com a citada peça mobiliária. É uma sujeita ‘pra frente’, empoderada, antecipada, emancipada, independente, pouco se importando com esse ‘mi-mi-mi’ de, quem sabe, estar interessada no outro (ou na pessoa do outro): ela mete o questionário sem dó e foda-se o resto!
A coisa não começa com “qual o seu nome” ou “onde você mora”. É mais ou menos assim:
“Você é casado?!”.
O candidato à roubada já começa a sentir o cheiro da tramoia. O sujeito lê Conrad, assiste Godard, é craque em Durkeim, mas sequer é questionado com coisas simples, tipo: “Você gosta de pizza?!”.
A primeira resposta é “não”. Ela, não satisfeita, amplia a artilharia:
“Mas você já foi casado?!”.
Ora, puta que pariu! Esse troço já deixou de ser uma paquera! Nem o Sérgio Moro faz esse tipo de pergunta. O cabra se sente em Curitiba, em alguma corte federal... só pode! Aquele papo de que “o passado é passado”, “... o que importa é daqui para frente” é uma belíssima de uma conversa, então?!
Segunda negativa: “não”. Ela, uma mulher vitoriosa, “a frente de seu tempo”, não reduz a marcha:
“Tem filhos?!”.
Para um cidadão divorciado, a pergunta até tem cabimento. Mas para quem é solteiro e nunca casou, essa pergunta é fatal: é o anti-viagra! É levantar e ir embora! Acabou a paquera! Se num primeiro momento a sujeita troca “qual seu tipo de filme favorito” por esse tipo de pergunta, é de se imaginar que a sex-shop que ela frequenta vende polígrafos.
Puta merda! Terceira resposta: “não”. Ela ainda não se tocou que você não casou, não teve filhos, não tem de passar o fim-de-semana com ‘os pequenos’, nem tem pensão para pagar. É uma agenda livre, desimpedida, agradável, pronta para topar qualquer parada. Mas qual! O que você é e seu alto cultivo não servem para nada, não tem relevância alguma. Num primeiro contato é dose para elefante.
Mas não pára por aí: “last, but not the least”, vem a pá de cal.
“Mas... gostaria de tê-los?!”.
Aí, companheiro, sutilmente peça licença para ir ao toilette, dê a volta por trás do bar/balada/restaua! Volte no dia seguinte para pagar a comanda do respectivo estabelecirante, pule o muro e desapareça! Summento e se una a uma ordem franciscana, tome banho de sal grosso, acenda incenso, porque a zica certamente habitará em você.
Ou, então, “release the kraken” e invoque as forças satânicas, devolvendo com uma pergunta: “Por quê?! ‘Cê’ tá pensando em abrir uma creche lá perto de casa?! É isso?!”, “...ah! Você fez ADM, né?! Gerencia maternidade?!”. Preocupação com controle de natalidade do alheio num primeiro contato é avacalhar o cangaço! Se essa pessoa não trabalha no IBGE ainda, não vê a hora de abrir o concurso.
Não é à toa que esse montão de fregueses(as) já não têm o menor saco para coisa alguma... pudera...
Portanto, caro(a) freguês(a), se você encontrou a sua “... metade da laranja”, “... cara-metade”, “... o chinelo velho para o seu pé cansado”, “... o Rondinelli para o seu Flamengo”, “...o Temer para o seu impeachment”, “... o pus para sua infecção”, trate de cuidar bem dele(a)! Muito respeito, amor, carinho, com bastante cafuné e dengo. Porque se você tiver de se juntar ao clube, ‘get ready’...
Nós, dessa casuística Mercearia, continuaremos a aquecer as vendas em torno de qualquer data festiva como da próxima segunda. Entretanto, ainda está para nascer alguém que nos faça responder questionários absurdos e/ou deixar de acreditar que o amor é uma tremenda flor roxa.
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
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