Tuesday, January 19, 2016

AFINIDADES ELETIVAS (por Antonio Luiz Nilo)


Há algum tempo, postei no facebook um ótimo texto de Francisco Bosco, publicado na revista Serrote, sobre as impressões de uma viagem sua ao Tibete.

Uma semana depois, me deparei com um texto incrível de sua mulher, Antonia Pellegrino, num ilustre caderno de uma folha de São Paulo.

Claro que vou publicar aqui o link, até porque um texto como esse não pode circular apenas naquele pequeno reduto de leitores intelectuais (ou de meros farejadores curiosos, que é o meu caso).

Um texto brilhante e polêmico como esse merece ser lido, discutido e, é claro, divulgado.

Mas o que me faz escrever esse artigo não é o simples fato de elogiar o texto de Antonia e convencer o amigo leitor a apreciá-lo.

Não.

O tema aqui é o que eu posso chamar de “atração intelectual”.

Ou, para ser mais abrangente, de “aproximação por afinidade”.


Me respondam: o que fez Francisco Bosco, excelente cronista e filho do consagrado músico João Bosco, se aproximar, se declarar, conquistar e casar com Antonia Pellegrino?

Com certeza não foi por se esbarrarem na rua e se apaixonarem perdidamente ao primeiro olhar.

Tampouco foi por se encontrarem casualmente no bingo da Associação Cristã dos Moços, acompanhando seus respectivos avós na reunião quinzenal do grupo.

Nada disso.

Podem apostar que foi por a-fi-ni-da-de.

Pessoas com gosto semelhante, nível intelectual semelhante, e que frequentam lugares semelhantes, tendem a se aproximar e, em muitos casos, estabelecer um tipo de relação mais profunda.


Há vários exemplos, alguns até bastante conhecidos, como o de Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre; Bill e Hillary Clinton e os cientistas Pierre e Marie Curie. E isso também se estende, naturalmente, a outros níveis sociais e intelectuais.

É muito comum ver na TV, por exemplo, a notícia do casamento de um cantor de pagode com uma bailarina funk, de um jogador de futebol com uma panicat ou de um empresário envolvido com políticos corruptos com uma vagabunda da alta sociedade.

A cumplicidade amorosa costuma ter a mesma cara, vestir a mesma roupa, falar a mesma língua e, antes de tudo, ter o mesmo tipo de interesse.

Até porque, amor não é tudo.

O texto de Antonia, apesar de não tratar do assunto, descreve a relação de um casal que tinha em comum hábitos bastante incomuns para a sociedade.

Trata também da relação de quatro amigas que fariam qualquer mãe moderninha chorar de vergonha de seus rebentos.

Quatro amigas de sexo, drogas e rock’n’roll.

Quatro amigas muito diferentes desse universo comum de patricinhas cheias de massa muscular e vazias de massa cinzenta.

Quatro amigas quase niilistas, mas que ainda conseguem manter seus laços de amizade, independente de suas insanidades.

Uma relação profunda, que apesar da visceralidade ainda exala uma dose de amor e compreensão.

Uma relação degradante, sim...mas de pura afinidade.


e

Não recomendo a leitura pra quem tem menos de 15 anos e mais de 50% de pudor.

Antonio Luiz Nilo nasceu em Santos, 
e é redator publicitário e diretor de criação
há quase 30 anos,
com prêmios nacionais e internacionais.
Circulou a trabalho por todo o país,
com paradas prolongadas em Brasília,
Belo Horizonte e Salvador.
Publicou em 1986, o livro de poemas
"Poemas de Duas Gerações", 
e, mais recentemente, o romance
"Ascensão e Queda de Pedro Pluma"
(disponível para venda em alnilo@gmail.com).
Além disso, atuou como cronista
para o diário Correio da Bahia.
De volta a Santos desde 2013,
Antonio Luiz Nilo segue sua trajetória
cuidando de Projetos Especiais na Fenômeno Propaganda
e como sócio-diretor da Agência de Textos
TP - Texto Profissional.


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