por Roberto Bueno
para OBSERVATÓRIO DO CINEMA
Roteirista e crítico de cinema têm algumas coisas em comum, como viver do que escreve. Porém, enquanto o primeiro escreve belíssimas histórias com as palavras, o segundo as usa para atacar as histórias criadas.
Após a Segunda Guerra, com o inicio e o aprofundamento da Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética, quaisquer pessoas que tiveram ou tivessem algum tipo de contato com o Partido Comunista era considerada uma traidora.
Hollywood não escapou incólume desta perseguição insana aos ditos infiltrados na sociedade norte-americana. Uma lista negra – a do título – foi criada com o nome de inúmeros profissionais das mais diversas áreas do cinema. Muitos dos que lá trabalhavam tiveram suas carreiras interrompidas, e até destruídas por causa disso. Trumbo é a cinebiografia de um dos maiores roteiristas da indústria cinematográfica dos Estados Unidos, Dalton Trumbo. Ele acabou fazendo parte desta infame lista.
1947. Los Angeles. O roteirista Dalton Trumbo (Bryan Cranston), um dos mais bem sucedidos da indústria do cinema até aquele momento, não tinha medo de enfrentar os chefões dos estúdios em prol de melhores salários para seus colegas de profissão. Afinal, eram eles que construíam os sonhos pelos quais todos iam às salas de projeção.
Trumbo era casado com Cleo (Diane Lane) e pai de uma menina e um menino – mais tarde ainda teriam mais uma garota. Ele e outros colegas realmente eram comunistas e alguns outros, como o ator Edward G. Robinson (Michael Stuhlbarg), eram liberais. Eles realmente faziam reuniões e piquetes em prol dos suas categorias.
Muitos daqueles profissionais acabaram denunciados pela Aliança da Indústria Cinematográfica pela Preservação dos Ideais Americanos (Motion Picture Alliance for the Preservation of American Ideals, em inglês) e pelo Comitê de Atividade Antiamericanas (ou, em inglês, House Un-American Activities Committee). Faziam parte da Aliança, atores e ex-atores, como respectivamente, John Wayne (David James Elliott) e Hedda Hooper (Helen Mirren). Hedda acabou se tornando colunista de fofocas no jornal The Hollywood Reporter. Este veículo denunciou os integrantes da indústria que eram subversivos para época. Foram listados 10 nomes. Trumbo estava entre eles e acabou encabeçando o grupo. Eles acabaram sendo convocados pelo Comitê para deporem. Mas ao se negarem a falar, acabaram processados pelo Congresso dos Estados Unidos, e ao perderem em todas as instâncias, até mesmo Suprema Corte daquele país, acabaram sendo presos.
Trumbo é sobre como o roteirista deu a volta por cima e acabou soterrando com uma pilha gigantesca de roteiros a perseguição movida pela aliança entre políticos de Washington e profissionais de Hollywood. Esta cinebiografia é baseada no livro Trumbo, de Bruce Cook. Quem a adaptou para as telas grandes foi John McNamara. Este é o seu primeiro roteiro para o cinema. Ele sempre trabalhou em televisão, ora em séries, ora em telefilmes. McNamara não teve muito trabalho com a história em si, porque ela já tem peso próprio por causa da genialidade de Trumbo e as circunstâncias dramáticas que o cercaram. McNamara, porém, querendo explicar algumas partes da história mais detalhadamente, como a Aliança e o Comitê, acabou deixando o filme um pouco arrastado. Isso compromete um pouco o longa, porque muitos poderão acha-lo um pouco cansativo e até chato.
Trumbo é sobre como o roteirista deu a volta por cima e acabou soterrando com uma pilha gigantesca de roteiros a perseguição movida pela aliança entre políticos de Washington e profissionais de Hollywood. Esta cinebiografia é baseada no livro Trumbo, de Bruce Cook. Quem a adaptou para as telas grandes foi John McNamara. Este é o seu primeiro roteiro para o cinema. Ele sempre trabalhou em televisão, ora em séries, ora em telefilmes. McNamara não teve muito trabalho com a história em si, porque ela já tem peso próprio por causa da genialidade de Trumbo e as circunstâncias dramáticas que o cercaram. McNamara, porém, querendo explicar algumas partes da história mais detalhadamente, como a Aliança e o Comitê, acabou deixando o filme um pouco arrastado. Isso compromete um pouco o longa, porque muitos poderão acha-lo um pouco cansativo e até chato.
Mas a direção do Jay Roach é muito bem realizada. Jay é acostumado a dirigir comédias. Um dos pouquíssimos dramas que dirigiu até hoje foi Recontagem. Também um filme baseado em fatos reais sobre os problemas com a contagem de votos após a eleição de republicano George W. Bush – que acabou sendo declarado ganhador – e o democrata Al Gore. Jay capricha na direção do atores e na diferentes atmosferas de algumas cenas do filme que parecem homenagens aos diferentes gêneros de produção, como o Noir e os de comédias. Trumbo, em suas mais de duas horas, pode ser chamado de um longa que perpassa por vários sentimentos. Esta é uma das razões porque ele é rico, mas, também, com um ritmo um pouco lento.
Jay pôde aproveitar todo a habilidade de atores como Bryan Cranston, Helen Mirrer, Diane Lane e outros. Os três são destaques, porque, o primeiro é obviamente o protagonista da história. A construção do personagem realizada por Bryan está magnifica. Ele costuma ter trejeitos já de conhecidos pelo público, mas você vê ali, na tela, uma outra pessoa, o Trumbo de Bryan.
Diane Lane, ao fazer a esposa que acaba mantendo a família unida, apesar de todo o furação pelo qual passam, revela uma mulher forte, e ao mesmo tempo delicada. Que sabe como tratar os filhos e ajudar o marido, mas que não baixa a cabeça quando este perde a dele e acaba distribuindo bordoada entre a própria família.
Helen Mirren está nojentamente boa neste filme. Ao fazer uma ex-atriz, que com o passar do tempo e a diminuição de papéis acabou virando colunista de jornal, percebe-se que manteve a pose, mas a amargura pode não ser mais o que já foi um dia a faz se virar contra os próprios colegas e mesmo contra os chefões dos estúdios quando estes parecem pouco se importar com o que fazem os seus contratados.
O filme, até por causa da reconstituição de época impecável e primorosa, tem uma fotografia que lembra os filmes coloridos entre os anos 1940 e 1960. O diretor de fotografia, Jim Denault, inclusive, saturou as cores do filme para se parecer com os dos antigos longas-metragens. Há toda uma série de referencias cinematográficas muito rica e espertamente colocada ali. Algumas cenas, como a da saída da prisão de Trumbo, lembram gêneros de filme, como o Noir.
Apesar de alguns momentos engraçados, em sua maioria, Trumbo é um drama. Possivelmente até para não ficar ainda mais pesado e arrastado, a trilha sonora composta por Theodore Shapiro é apenas suave, sem reforçar ou pesar no drama. Poderia até ficar bom se, em alguns momentos, não precisasse realmente de uma trilha que reforçasse o peso do que estava sendo contado. E para evitar o arrastar da história, o editor Alan Baumgarten faz um edição rápida e sem efeitos. Alan acabou conseguindo atenuar um pouco o ritmo lento da história.
Dalton Trumbo acabou conseguido voltar a trabalhar normalmente em Hollywood até a sua morte e mostrou que muitos profissionais acabaram tendo suas carreiras e vidas destroçadas por causa de uma paranoica perseguição contra comunistas que acabou levando muitos, não só na indústria do cinema, a perderem tudo. Poucos sobreviveram a esta Guerra Civil fria interna nos Estados Unidos.
"TRUMBO - LISTA NEGRA": UMA HISTÓRIA QUE MERECIA SER CONTADA HÁ MUITO TEMPO
por João Vitor Moreno
para PIPOCA RADIOATIVA
Filmes sobre filmes são sempre interessantes, principalmente aqueles que acompanham o processo criativo dos realizadores (Barton Fink, Adaptação e Desconstruindo Harry são alguns exemplos). Além disso, o “medo comunista” alimentado pelos EUA durante a Guerra Fria sempre possibilita temas ricos para o Cinema (afinal, diversas pessoas tiveram suas vidas destruídas só pelo fato de terem sido membras do Partido Comunista). Sendo assim, um filme sobre um roteirista perseguido por suas convicções políticas tinha de tudo para ser no mínimo interessante, e Trumbo de fato o é, ainda que seu roteiro tente a todo custo estragar até mesmo seus potenciais mais altos.
O filme se passa durantes os anos 40 e 50 nos Estados Unidos, e acompanha o roteirista Dalton Trumbo (Bryan Cranston), autor de clássicos como A Princesa e o Plebeu e Spartacus, e membro do Partido Comunista, que ficou impedido de vender seus roteiros por anos tendo que apelar para codinomes e trabalhar como “escritor fantasma”.
A primeira coisa que chama a atenção no filme é seu elenco. Não deixa de ser curioso ver o comediante Louis C. K. (pelo qual tenho grande admiração) em um filme dramático, mas sou obrigado a apontar que sua escalação foi equivocada, pois ele acaba trazendo seu senso de humor inerente a um personagem que deveria ser interpretado com uma carga dramática mais forte.
Mas se Louis C. K não se livra de sua persona cômica, Bryan Cranston surge completamente diferente de seu papel mais famoso (Walter White, de Breaking Bad), fazendo por merecer sua indicação ao Oscar. Cranston não só imprime um carisma que faz o espectador se importar com seu personagem (o que é fundamental para o funcionamento do filme), como ainda convence com sua dedicação – e em certos pontos até obsessão – pelo seu trabalho, e sua performance atinge o ápice quando o personagem surge anos envelhecido para fazer um discurso de agradecimento na premiação do Sindicado de Roteiristas.
Helen Mirren por sua vez tem um grande obstáculo em seu caminho – o roteiro (que abordarei com mais detalhes daqui a pouco) –, mas ela acaba fazendo um trabalho admirável (e sua não indicação ao Oscar não deixa de ser uma surpresa), se divertindo com a vilania de sua personagem ao invés de levá-la a sério, convencendo de uma maneira surpreendente. Já John Goodman tem em suas mãos um personagem feito na medida para si, e não é novidade dizer que ele tira de letra, trazendo seu senso de humor característico e protagonizando os melhores momentos de alívio cômico do filme.
Também destaco o trabalho de Michael Stuhlbarg, que tem uma missão complicada – interpretar um ator famoso (neste caso, Edward G. Robinson, astro de clássicos noir como Alma no Lodo e Pacto de Sangue). Seu personagem surge como um dos mais complexos, e com certeza o mais conflituoso do filme, e um dos pouco méritos do roteiro está justamente em não exagerar em sua vitimização, admitindo seus erros, mas fazendo com que seus arrependimentos surjam de maneira orgânica.
E já que abordei a dificuldade de interpretar um ator famoso, não poderia deixar de citar o trabalho de David James Elliott e Dean O’Gorman. Elliott tem a tarefa de interpretar ninguém menos do que John Wayne (que é retratado de maneira bem vilanesca pelo roteiro – o que com certeza vai incomodar algumas pessoas) e se sai muito bem, convencendo sem nunca parecer que está simplesmente imitando o ator. O mesmo não pode ser dito de Dean O’Gorman, que transforma Kirk Douglas em uma caricatura pura, como se ele interpretasse um personagem até mesmo fora de cena, sendo digno de riso e até tirando um pouco o espectador da imersão do filme.
Em relação ao roteiro, além de deixar a desejar em relação aos personagens, ainda insiste em terminar diversas cenas com frases de efeito, que são artificiais e caricaturais (e o momento que traz a personagem de Helen Mirren desafiando um chefe de estúdio é particularmente ridícula e embaraçosa). Além disso, a falta de sutileza do roteirista John McNamara é gritante – por exemplo, quando o personagem de Louis C. K. revela que tem câncer (não é spoiler, isso acontece nos primeiros 15 minutos), eu juro que esperava ele cair na risada e dizer que era brincadeira, tamanha artificialidade e falta de timing. Ainda assim, é necessário apontar que ele consegue expor com competência o absurdo e a irracionalidade do medo comunista, e seus efeitos em pessoas inocentes – tema que também foi abordado no recente (e ótimo) Ponte dos Espiões. O afastamento do protagonista de sua família e sua obsessão crescente também são bem retratados, e por mais que o filme tenha duas horas, em nenhum momento ele soa cansativo ou arrastado – algo difícil de conseguir.
A trilha sonora de Theodore Shapiro peca por exagerar no melodrama, principalmente na cena que traz Trumbo olhando sua família de longe com tristeza e no momento em que o personagem conversa com um colega sobre o peso de um interrogatório. Já os figurinos erram por chamar demais a atenção para si, exagerando nas cores e pecando pela falta de sutileza, ainda que traga alguns momentos inspirados – como quando traz Trumbo com uma roupa completamente diferente de seus colegas roteiristas em uma reunião de estúdio.
Se salvando do esquecimento completo graças à força da história real e o trabalho dedicado de seus atores, Trumbo não é nada mais do que mediano, mas também oferece uma experiência agradável e uma história que merecia ser contada há muito tempo, afinal, poucas pessoas dão o valor necessário para o trabalho dos roteiristas.
TRUMBO
(Trumbo, 2015, 124 minutos)
Direção
Jay Roach
Roteiro
John McNamara
a partir de uma biografia escrita por
Bruce Cook
Elenco
Bryan Cranston
Diane Lane
Helen Mirren
Michael Stuhlbarg
David Maldonado
John Getz
Laura Flannery
David James Elliot
Toby Nichols
em cartaz nas melhores salas de cinema
do Rio e de São Paulo
(mas infelizmente não em Santos,
por culpa de OS DEZ MANDAMENTOS)
do Rio e de São Paulo
(mas infelizmente não em Santos,
por culpa de OS DEZ MANDAMENTOS)
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