A falta de sexo, para Falópio, resultava numa insônia escruciante. Ele padecia de um priapismo crônico, e por tal razão passava os dias se arrastando, consequência das noites despertas.
Não
é que a rigidez peniana o impedisse de dormir, afinal todo homem, mesmo os
impotentes, acordam em ereção. Verdade que a primeira urina leva a dureza
embora, é o que o populacho, em demonstração de seu insuperável mau gosto,
denomina "tesão de mijo". Falópio dormiria com seu phallus erectus
não fosse o não menos rígido colchão ortopédico em que deitava, forçado por sua
coluna sentimental.
Ele
se recolhia cedo, e logo a lembrança cívica das namoradas de antanho o
assomava, fazendo o mastro erguer-se sem bandeira. Falópio usava dormir de
bruços, mas o atrito do membro face à tábua do colchão o despertava.
Foi
quando o psiquiatra o aconselhou a dormir de lado. Deu certo até o ingresso no
território da vigília. Uma vez dormido, a primeira mudança involuntária de lado
o fazia despertar, o membro batendo contra o colchão feito uma cancela de
pedágio que não se ergueu e barrou o coche.
Como
derradeira tentativa, esgotados os modos esquerda, direita e bruços, ou leste,
oeste e sul, Falópio enxergou um norte na bússola da esperança: podia tentar
dormir de barriga para cima.
Ele
se deitou na noite quente, ligou o ar condicionado, cobriu-se de edredom macio
e sentiu num torpor que poderia assim, rosto pro céu mirando Deus, entregar-se
à volúpia de um sono restaurador. Foi indo, bobinho, entrando nos limites de
Morfeu. Ao longe a lembrança de Váguina, sua namorada, o nome era isso,
feminino de Váguiner segundo sua sogra. Ele a amava.
Lembrando
o corpo nu de Váguina, seus seios esfregados contra a poça de sêmen que lhe
brotava da glande, Falópio sofreu ereção brutal, e relaxou mais ainda. Teria
dormido feito uma criança se o caralho, duro feito um diamante, não tivesse
erguido o edredom, descobrindo-lhe os pés, que ficaram expostos ao frio do ar
condicionado.
Germano Quaresma, ou Manuel Herzog,
nasceu em Santos, São Paulo, em 1964.
Criado na cidade de Cubatão,
trabalhou na indústria química
e formou-se em Direito.
Estreou na literatura em 1987
com os poemas de "Brincadeira Surrealista".
É autor dos romances
"A Jaca do Cemitério É Mais Doce" (2017),
"Dec(ad)ência" (2016), "O Evangelista" (2015)
e "Companhia Brasileira de Alquimia" (2013),
além dos livros de poemas
"6 Sonetos D’amor em Branco e Preto" (2016)
e "A Comédia de Alissia Bloom" (2014)
nasceu em Santos, São Paulo, em 1964.
Criado na cidade de Cubatão,
trabalhou na indústria química
e formou-se em Direito.
Estreou na literatura em 1987
com os poemas de "Brincadeira Surrealista".
É autor dos romances
"A Jaca do Cemitério É Mais Doce" (2017),
"Dec(ad)ência" (2016), "O Evangelista" (2015)
e "Companhia Brasileira de Alquimia" (2013),
além dos livros de poemas
"6 Sonetos D’amor em Branco e Preto" (2016)
e "A Comédia de Alissia Bloom" (2014)
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