Ser livreiro é levar um choque de humildade.
Praticamente moramos nas nossas livrarias, e recebemos um recado vindo das prateleiras.
Muitos dos livros em nossas estantes não serão lidos... e então me vem este sentimento: o que nos rodeia é bem maior do que nós.
E junto da humildade vem a descontração, “se não há remédio, remediado está”, acho que é por aí o ditado.
Nas minhas leituras tomo dois caminhos.
Os obrigatórios e os que dão na veneta.
Os primeiros são dos autores com os quais vou trabalhar, mediando papos com os leitores e encontros seguidos de sessões de autógrafos, ou ainda os originais que recebo para publicação.
Em meio a essa correria que antecede o Natal, estou lendo "Os Machões Dançaram - Crônicas de Amor e Sexo em tempo de homens vacilões", nova coletânea de crônicas ligeiras do amigo Xico Sá.
Antes, estava lendo "O Grifo de Abdera", último romance do também amigo Lourenço Mutarelli.
Nenhum dos dois foi, ou está sendo, lido por obrigação -- mas mesmo quando leio por obrigação, leio com gosto.
Esta é minha última crônica de 2015.
Ao longo do ano, tentei relatar nessas colunas para LEVA UM CASAQUINHO minha maneira de ver o mundo no qual estou inserido e minhas modestas, mas divertidas aventuras pelo universo dos escritores que cruzam o meu caminho -- ou cujos caminhos eu acabo cruzando, vai saber...
Algum dia ainda vou escrever um caderno de memórias vividas num balcão, com “causos” e passagens de duas décadas conversando com grandes figuras: os leitores.
Sou neto de árabes e costumo dizer que aplico a Filosofia dos Armarinhos.
Quando um cliente adentrava aqueles Secos e Molhados dos meus avós, com alguma mercadoria eles saiam, o sentimento de sobrevivência do imigrante dava uma força na criatividade, e lá seguiam os clientes com uma vassoura ou um chinelo de dedo.
No meu caso gosto de indicar leituras sem compromisso, me lembrando da iniciativa dos antigos, donos de Armarinhos que ilustram a minha infância.
Bem, falávamos da humildade de sermos muito menores do que o que nos rodeia, a fila dos livros intocados por nós, livreiros.
Muitas vezes o leitor nos orienta, é um iniciado no assunto do seu interesse.
Cabe ao livreiro ser sempre um bom ouvinte.
E vamos em frente com essa dança meio hesitante, estudada, sem os pisões nos pés, lutando o judô da ficção.
Claro que esta técnica só funciona com a presença do leitores, que merecem ser cuidados com carinho.
A esses leitores, e a todos os que fazem parte do círculo afetivo da Realejo Livros e Edições, aproveito para desejar um excelente Natal e um Ano Novo bem bacana.
E se precisarem de indicações de presentes de fim de ano para velhos e novos leitores, é só passar aqui na "Lojinha de Armarinhos Literários" da Marechal Deodoro nº2.
Assinado: o seu livreiro, José Luiz Tahan.
José Luiz Tahan é livreiro e editor,
e proprietário da Realejo Livros e Edições,
a livraria e publishing house
mais charmosa de Santos
e de todo o Litoral Paulista.
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