Monday, December 3, 2018

IMPUNIDADE GERAL (por Alvaro Carvalho Jr)



Diz a Constituição Brasileira de 1988 em seu artigo 84, sobre as atribuições do Presidente da República, parágrafo XII: “conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; ”. Portanto, Michel Temer, atual presidente (a gente sempre esquece dele...) tem todo o direito de dar indulto de Natal para aqueles que se encaixem nas regras já pré-estabelecidas. Portanto, o resultado do STF apenas confirma o que diz a lei e deve ser respeitado.

Moral? Imoral? Essa é a questão a ser discutida. Não concordo com o indulto, muito bem definido nas redes como insulto, e considero que se Temer tiver só um pouquinho de vergonha na cara, não dá indulto para ninguém. Simples assim. Porém, devemos considerar que Temer não é um bom exemplo de dignidade moral. Basta listarmos todas as sujeiras que apareceram e que incluíam seu nome como um dos envolvidos. Particularmente aquela reunião com um dos irmãos Wesley na calada da madrugada, quando se deu o pontapé inicial para seu martírio e consequente esquecimento geral.

Sei que é difícil engolir um fato como esse, quando corruptos, bandidos de todas as espécies podem receber indulto e simplesmente irem para casa sem cumprir totalmente suas penas. Imaginem uma mãe que teve o filho assaltado; ou aquele cidadão que fica horas na fila de um atendimento médico sabendo que o grande corrupto, responsável por sua agonia, poderá ser solto e ir para casa. Ou a criança que estuda em péssimas condições por conta de outro corrupto que surrupia as verbas para educação.
Mas, infelizmente, a Constituição permite o indulto e não pode ser ofendida, com o risco de enfrentarmos problemas bem maiores, como o caos, por exemplo. Dessa maneira, ficamos à mercê da moral e da dignidade dos políticos. Sabemos, como gatos escaldados, que não podemos esperar muito deles, ou melhor, nada. Assim, só nos resta um movimento popular forte, organizado e sem badernas para exigir mudanças radicais nas leis, impondo limites estreitos a usando políticos e penas mais rudes aos marginais. Não concordo, inclusive, com esse negócio de diminuir dias das penas a leitura como justificativa: leu um livro e diminuiu a pena. Ora, mantenha o cidadão na cadeia por toda a pena e, quem sabe, não teremos um leitor compulsivo ao final?

Nos dias de hoje, ocorre exatamente o que não deveria: a inversão de valores. Basta um incidente mínimo para que marginais sejam imediatamente defendidos pelos defensores irracionais dos direitos humanos; enquanto as vítimas, supostamente gente de bem, são simplesmente esquecidas. Não há ninguém interessado em ir ajudar uma família vítima de um homicídio, por exemplo, com um serviço terapêutico para amenizar a perda de uma pessoa querida. Mas o criminoso terá todas as garantias de segurança e ajuda psicológica e é classificado, imediatamente, de vítima do sistema. Uma piada...
Não sou contra os direitos humanos, muito pelo contrário. Sou contra as injustiças que se cometem diariamente e a gente não vê predisposição na hora  de ajudar as vítimas. Essa conversa de ser “vítima da sociedade” já cansou; conheço muita gente que veio das camadas mais baixas e pobres da sociedade, sem estrutura familiar; que enfrentou a fome; estudou aos trancos e barrancos e acabou vencendo. Não se trata de condição financeira (claro, os que podem tem a vida muito mais fácil...), mas de caráter. Meu caso, mesmo não tendo enfrentado a fome e sempre ter tido uma cama limpa para dormir, venho de uma classe operária; fui criado na Bacia do Macuco, convivi com muito bandido e nem por isso deixei-me levar pelo vício ou pela bandidagem. Minha mãe, que completou apenas o primário, fazia questão de me enfiar um livro nas mãos sempre que possível. Mulher sábia...

Tenho plena consciência de que são outros tempos, onde as exigências para se conseguir um emprego são muito mais complicadas. Nem mesmo um diploma de uma universidade é o suficiente para se conseguir um bom cargo, é preciso ter cursos paralelos, falar mais de um idioma e dar sorte. Mas, de qualquer maneira, o caminho da criminalidade nunca deve ser o principal. Nunca se deve levar políticos em consideração, pois eles são à favor da impunidade, da bandalheira organizada e tem em mãos uma arma fundamental: eles regem suas próprias vidas, seus aumentos, seus planos de saúde e tudo mais. São, por enquanto, componentes de uma casta privilegiada e intocável. Cabe a nós acabar com isso...


Quanto ao indulto, seremos obrigados a engolir o que sair da cabeça dos 11 ministros. A Constituição diz que Temer tem o poder de dar indulto para qualquer um. Quem sabe ele tenha compostura, hombridade, dignidade e vergonha na cara e não indulta ninguém. Infelizmente, não é o que ele tem demonstrado em mais de 40 anos de vida pública. Portanto....adiós.


Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
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