Monday, December 3, 2018

WHITMAN, MEU BROTHER (por Flávio Viegas Amoreira)



I “discorre sobre o tempo
Inconcluso
a lua ovula encarnada
domesticado o maldito medo
rente ao rio
olhar distante
o astro agora de boa monta
assoma o cristal divino

inclina-me o rosto amado
nessa lenda intima
na soleira chovia com imprecisão
num canto
a noite se deteve
artificial
antúrio
para o absurdo atente ao cotidiano
do caminho:
entretêm neste
a colheita
nos minutos:
o desespero
é o infinito

para negar-me
achei-me
linha turva
estreito e profundo
rompendo qualquer som
que reverbere
limite que estenda
até rota que se quebre
aí vou
destemor
aí sigo
se o que dou
é todo meu destino
avio-me
no teu mesmo passo
avanço
porque sem teu rastro
inacabado”

II- “agora que dei contigo
por que não há de amar–me um dia?
e eu por que fui tão desatento à tua chegada?
quero fazer contigo o poema das coisas inconcretas
desfiar a abstração erguida do teu sexo
o mais das coisas
sem tradução
e quando dobra artelho
move
algo em meu plexo solar:
dobra orgânica
desse romance
silente”


(trecho do novo livro do escritor Flávio Viegas Amoreira “Walt Whitman, Meu Brother”, que será lançado em 2019 no Bicentenário do poeta)


Poeta, contista e crítico literário,
Flávio Viegas Amoreira é das mais inventivas
vozes da Nova Literatura Brasileira
surgidas na virada do século: a ‘’Geração 00’’.
Utiliza forte experimentação formal
e inovação de conteúdos, alternando
gêneros diversos em sintaxe fragmentada.
Participante de movimentos culturais
e de fomento à leitura, é autor de livros como
Maralto (2002), A Biblioteca Submergida (2003),
Contogramas (2004) e Escorbuto, Cantos da Costa (2005).
Este é seu mais recente trabalho publicado:


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