I
“discorre sobre o tempo
Inconcluso
a
lua ovula encarnada
domesticado
o maldito medo
rente
ao rio
olhar
distante
o
astro agora de boa monta
assoma
o cristal divino
inclina-me
o rosto amado
nessa
lenda intima
na
soleira chovia com imprecisão
num
canto
a
noite se deteve
artificial
antúrio
para
o absurdo atente ao cotidiano
do
caminho:
entretêm
neste
a
colheita
nos
minutos:
o
desespero
é
o infinito
para
negar-me
achei-me
linha
turva
estreito
e profundo
rompendo
qualquer som
que
reverbere
limite
que estenda
até
rota que se quebre
aí
vou
destemor
aí
sigo
se
o que dou
é
todo meu destino
avio-me
no
teu mesmo passo
avanço
porque
sem teu rastro
inacabado”
II-
“agora que dei contigo
por
que não há de amar–me um dia?
e
eu por que fui tão desatento à tua chegada?
quero
fazer contigo o poema das coisas inconcretas
desfiar
a abstração erguida do teu sexo
o
mais das coisas
sem
tradução
e
quando dobra artelho
move
algo
em meu plexo solar:
dobra
orgânica
desse
romance
silente”
(trecho
do novo livro do escritor Flávio Viegas Amoreira “Walt Whitman, Meu Brother”,
que será lançado em 2019 no Bicentenário do poeta)
Poeta, contista e crítico literário,
Flávio Viegas Amoreira é das mais inventivas
vozes da Nova Literatura Brasileira
surgidas na virada do século: a ‘’Geração 00’’.
Utiliza forte experimentação formal
e inovação de conteúdos, alternando
gêneros diversos em sintaxe fragmentada.
Participante de movimentos culturais
e de fomento à leitura, é autor de livros como
Maralto (2002), A Biblioteca Submergida (2003),
Contogramas (2004) e Escorbuto, Cantos da Costa (2005).
Este é seu mais recente trabalho publicado:
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