O
avião que levou o sr. Silva de São Paulo para Curitiba não tinha nada de
sofisticado. Infinitamente diferente dos aviões a que ele está acostumado. Nada
de serviço de bordo, poltronas de couro, adoráveis (e, às vezes, acessíveis) aeromoças,
cardápio à la carte ou vinhos de rótulos inatingíveis para os simples mortais.
Essa aeronave, um monomotor turbo hélice, não viaja a velocidades estonteantes
e é considerada pelos pilotos da Polícia Federal, como um "trator":
resistente, forte, sem sofisticação, eficiente. Assim, o sr. Silva encerra uma
fase de luxo e glamour e cai na real, naquele Brasil ingrato que trata seus
filhos como bastardos. Ironicamente, o sr. Silva constará da lista de
passageiros desse quase ignóbil avião junto com nomes famosos. porém pouco
recomendáveis. Fernandinho Beira-Mar é um deles.
Mas
a luta continua. Seus advogados continuarão a bater nas portas do Supremo
Tribunal Federal apresentando recursos e apostando na fraqueza de alguns
juízes, como é o caso do Ministro Marco Aurélio Mello que pretende colocar a
discussão da prisão em segunda instância na pauta de quarta-feira do tribunal.
Não que a discussão do assunto não deva voltar ao plenário. Entretanto, vários
ministros, mesmo aqueles que são contra essa nova determinação, posicionaram-se
contra a pauta por um simples motivo: não é o momento. O País precisa de um
pouco de tranquilidade e esse assunto agora, logo após uma prisão importante
como a do sr. Silva, poderá incendiar as multidões e não se pode prever as
consequências. A Ministra Carmem Lúcia,
inclusive, pretendia (ou ainda pretende) engavetar o assunto por um ano,
conforme acerto com seus colegas. Trata-se, portanto, de bom senso. Qualidade
que parece não fazer parte do Ministro Aurélio.
No
momento, o mais importante é esquecer o sr. Silva e seus advogados. Teremos
eleições em outubro e, da maneira que anda o eleitorado, serão capazes de
eleger uma cadeira de rodas quebrada, tal o desencanto proporcionado por nossos
políticos. Toda e qualquer pesquisa publicada nos jornais ou divulgadas na rede
ou na tv tem pouca credibilidade. Mesmo com o aparecimento do sr. Silva na
liderança com 32% dos votos, seguido do inacreditável e insano Bolsonaro em
segundo com 15%, os números não devem ser levados muito em consideração: quase
70 % do eleitorado ainda não escolheu candidato e corre atrás de algo novo, de
um candidato que, antes de qualquer coisa, não esteja envolvido com a
Lava-Jato. Procuram, na verdade, um milagreiro que resolva todos os problemas
brasileiros como num passe de mágica.
Entretanto,
esses problemas não são poucos. Precisamos, acredito, de um líder de centro,
alguém que consiga pacificar e reunir nossa gente, com experiência suficiente
para iniciar as reformas tão discutidas, tão disputadas e nunca resolvidas. O
cardápio para esse milagreiro vai longe. Só para começar, vai aí uma ideia:
A)
Reforma da Previdência em caráter de urgência, ou vai faltar dinheiro para
pagar aposentado.
B)
Reforma do Sistema Tributário. O atual vai acabar enforcando o País e
penalizando, como sempre, os mais pobres.
C)
As leis que regulamentem, enfim, os regimes do funcionalismo público. Hoje
existe a dominação de corporações que mantém o Estado refém. É preciso acabar
com isso.
Mas
as reformas mais complicadas são aquelas que envolvem o Judiciário, por motivos
óbvios. Afinal, eles têm a caneta final:
A)
A prisão em segunda instância precisa de uma PEC definitiva. Assim todas as
dúvidas serão jogadas no lixo. Não teremos mais essas loucas noitadas com olhar
na tv acompanhando julgamentos intermináveis.
B)
Fim do Foro Privilegiado, algo que os políticos ficam com urticária apenas de
pensar sobre. No caso, políticos envolvidos em tramoias e falcatruas mil,
seriam julgados em tribunais inferiores e teriam suas sentenças definidas na
segunda instância, como foi o caso do sr. Silva. Seria uma delícia...
C)
Uma reforma eleitoral também seria de bom alvitre. Acabar, definitivamente, com
dinheiro para partidos. E tem mais: as eleições seriam, em primeiro lugar, para
o Executivo e em seguida para o Legislativo. Assim, o eleitor teria condições
de escolher, ou não, uma Câmara de vereadores, estadual ou federal forte o
suficiente para que os prefeitos, governadores ou o presidente pudessem
governar sem precisar dessas negociações espúrias e sujas que vem acontecendo
no país desde sua fundação. Não haveria necessidade de se formarem
"governos de coalizão" e, com certeza, a ideologia teria muito mais
peso na eleição.
Como
se pode concluir, a vida de nosso próximo presidente não será fácil. E fica
claro que o mais importante não será quem ou qual partido terá hegemonia no
poder, mas qual será o comportamento do eleitorado, esse mesmo que está cansado
de assistir circos de má qualidade como do último final de semana; esse mesmo
eleitorado que está cansado de rusgas que nunca terminam ou a terrível cisão
quase fraticida proporcionada por discursos ofensivos, agressivos e que acabam
gerando uma paralização moral, econômica e social em todo País.
Bem
dizia Ivan Lessa: "A cada 15 anos o Brasil esquece o que aconteceu nos
últimos 15 anos". Vamos esperar que, desta vez, incentivados pela prisão,
corretíssima, do sr. Silva, os eleitores realmente mudem e escolham homens
competentes e sérios e lembrem dos últimos 15 anos. O País precisa descansar um
pouco de tanto perrengue...Inté.
Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
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