“Menos é Mais”
(máxima da propaganda)
Nunca gostei da badalação que cerca a propaganda. Acho exagerada. E sem sentido. Afinal, um sapateiro, solitário em seu ofício, agrega tanto valor para a sociedade quanto um publicitário. Com a vantagem de falar menos e não nos deixar a pé.
Outra coisa que me incomoda na profissão é a falsa intimidade. Você já reparou? Qualquer pessoa que atue na área se refere ao publicitário da moda como se tivesse morado com ele. É vergonhoso.
Por essas e outras, evito sempre que possível os grandes eventos do meio. Mas existem alguns a que você precisa ir. Por alguma razão imperativa. Daí, como não tem remédio, remediado está.
A historinha a seguir aconteceu numa dessas ocasiões, no começo dos anos 90. Intimado a comparecer, abotoei o paletó e encarei. Aliás encaramos, pois o Diretor de Criação da agência, Luiz Christino foi junto comigo. E o convescote em questão era a Semana Internacional de Criação, no Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo.
Como sempre, gente saindo pelo ladrão. Depois de muito aperto, conseguimos encontrar dois lugares na terceira fileira, a do gargarejo.
O palestrante era Sam Scally, fundador da Scally, McCabe & Sloves. Sócio de ninguém menos do que Ed McCabe, o mítico redator. Portanto, a noite tinha tudo para ser, no mínimo, interessante. Depois da falação de praxe, o colunista que fazia a vez de mestre de cerimônias, finalmente chamou ao palco o presidente da filial brasileira da agência, para apresentar o gringo.
Não vou citar o nome do cidadão por uma questão de respeito. O mesmo respeito que ele não teve pela inteligência da distinta platéia. Vaidoso, louco para aparecer, o publicitário abriu os trabalhos com o seguinte discurso. Sem tirar nem por.
“Sam Scally.
O que dizer de Sam Scally?
Dizer que, ao se unir a McCabe e Sloves,
Sam criou um novo modelo para as agências
de propaganda em todo o mundo?"
"Sam Scally... Sam Scally…
O que dizer de Sam Scally?
Dizer, por exemplo, que nós
da Scally, McCabe & Sloves do Brasil
estamos honrados com sua presença
nesta Semana Internacional de Criação?”
A essa altura você pode imaginar a reação da platéia. Ninguém no imenso salão de convenções do Maksoud Plaza estava acreditando nas pataquaras e baboseiras que ouvia. Mas, como os idiotas não têm tédio, o retardado narcisista continuou:
“Sam Scally... Sam Scally…
O que dizer de Sam Scally?
Dizer que Sam é meu ídolo?
Meu exemplo de profissional?
Não! Isso seria dizer muito pouco."
"Sam Scally... Sam Scally…
O que dizer de Sam Scally?
Faltam-me palavras que possam definir
a imensa importância de Sam Scally
na propaganda moderna."
"Sam Scally... Sam Scally… Sam Scally…
O que mais dizer de Sam Scally?
Senhoras e senhores,
com vocês o homem, a lenda, o mito...
Palmas para Sam Scally!!!”
O silêncio era gritante, constrangedor. Durante alguns segundos, não houve aplauso. Só um silencio profundo. As pessoas estavam chapadas.
De repente, meu amigo Christino não agüentou mais tanta bobagem e, em alto e bom som, resumiu o que todos estavam pensando:
"Vai apresentar mal assim na puta que o pariu!!!"
A platéia veio abaixo.
e cronista. É autor de
"Pela Sete - Breves Histórias do Pano Verde"
(2003, Editora Codex),
um mergulho no universo dos salões de bilhar
de São Paulo e escreve às segundas
de São Paulo e escreve às segundas
Kkkkkkkkkkkk, só o Christino pra soltar uma batata dessas., muito bom.
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