Monday, April 9, 2018

SAM AT THE CABARET (por Germano Quaresma)



Sam States, um médio empresário norteamericano, gostava de excursionar ao Brasil. Legítimo representante da classe média de seu país, ele tinha poucos prazeres na puta da vida: nada entendia de arte, museus o cansavam, e conhecer outras culturas pouco lhe interessava, haja vista que nem a de seu rincão reconhecia. No Brasil experimentava as duas coisas que amava em abundância, comida e sexo. Adorava as churrascarias e as putas brasileiras, que devorava em generosos rodízios.

Ele está estendendo seus negócios pro cone sul, a ver se une agradável a útil. Pretende atuar em seu ramo, segurança privada. Sua empresa, a S.S. (Sam States) Security recruta brucutus dos bolsões de pobreza, pra reprimir movimentos sociais.

Homem de parcos costumes, ele sempre frequenta os mesmos lugares onde foi bem atendido. Assim, suas tertúlias gastronômicas as realiza no JBS Grill, churrascaria de um tal Joesley, ouvindo um forrozão esperto cantado pelo irmão do dono, Wesley. Pra desafogar os instintos de macho alfa, Sam gosta de ir no rendez-vous de seu amigo Óscar.

Na última excursão Sam vinha estressado com os negócios, e resolveu variar na lascívia. Tentaria algo novo, sexo a três. Ele era um homem comedido, temente a Deus e até dir-se-lo-ia medíocre - classe média. Mas o instinto, a animalidade, não trai, há que se satisfazer. Sam, enquanto dormia ao lado das flácidas carnes de Mrs. States, sonhava-se a praticar ignomínias com um casal desconhecido. Procurou a consultoria de seu amigo brazuca.

Óscar mostrou-lhe o famoso "book", o cardápio de seu cabaret. Para a sessão menagética que Sam sonhava indicou vários casais, uma infinidade de combinações ninfas e gogoboys, mas a preferência do cliente o surpreendeu: Sam States encantou-se de uma acompanhante madura, de cabelos encanecidos, Freud diria que projetava a esposa ou a mãe naquela safadeza do caralho.

O varão que Sam gostou era um cowboy de camisa preta e gravata. Um incauto veria naquela vestimenta algum doutor, mas Sam era vivido, enxergou na tez morena e nos modos chucros um legítimo capiau do Alabama gourmetizado. Fechado o negócio, bem barato pra Sam, foram às vias de fato. Uma última precaução levou Sam a inquirir seu fornecedor:

"Óscar, my dear. Eu não quero to be enrabated. Seu gogoboy não vai vir com graça, ok?"

"Never mind, Uncle Sam, never mind. Não tem perigo. Com americano ele é totalmente passivo."




Germano Quaresma, ou Manuel Herzog,
nasceu em Santos, São Paulo, em 1964.
Criado na cidade de Cubatão,
trabalhou na indústria química
e formou-se em Direito.
Estreou na literatura em 1987
com os poemas de "Brincadeira Surrealista".
É autor dos romances
"A Jaca do Cemitério É Mais Doce" (2017),
"Dec(ad)ência" (2016), "O Evangelista" (2015)
e "Companhia Brasileira de Alquimia" (2013),
além dos livros de poemas
"6 Sonetos D’amor em Branco e Preto" (2016)
e "A Comédia de Alissia Bloom" (2014)





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