Talvez
o ícone mais longevo em atuação no teatro latino americano seja mesmo Zé Celso
através desse monumento a liberdade criativa que é o Oficina.... Zé Celso que
encenou Gorky com rara maestria num Brasil dado ao panfletário, Zé que dirigiu
um Tchekhóv impecável em ´´As três irmãs´´, Zé que no recheio nos deu ´´O Rei
da Vela´´ e ´´Roda Viva´´ forças da
natureza culturais da brasilidade , Zé que estava em Paris em 1968 e em Lisboa
na ´´Revolução dos Cravos´´ em 1974, Zé que é expressão máxima da arte da mais
deleuziana cidade do Ocidente: Sampa de Cacilda que um dia vai voltar virar
sertão engolida pela Mata Atlântica fazendo fronteira com o mar belo mar
selvagem na ribanceira do mundo....Antropofágico, regurgitofágico hoje, Zé
Celso nunca foi tão contemporâneo de nossa perplexidade. O fragmento, a literatura do estilhaço, a libertação tranZmoderna, essa obra em
transe entre Rimbaud e Hakim Bey feita nos trópicos para interpretar o planeta
a partir do nosso umbigo. Como diria Haroldo de Campos sobre o ´´Serafim Ponte
Grande´´ de Oswald cai perfeito ao teatro de Zé : bricolage ou ´pensée
sauvage´´ modernista e pós pós moderno. Nesse caos aparente existe sim uma ordem
imanente: as entradas e saídas para o
Brasil estão expostos na obra aberta do Oficina. Onipresente até onde a vista alcança lá está
Zé Celso e a subversão generosa no país
de Sousandrade e Qorpo Santo. No Bexiga
assistir Zé Celso sempre êxtase , ainda assim curto muito num palco neutro, sem
aparato que não o humano demasiado dionisíaco desnudamento da alma do demiurgo
e sua plêiade de talentos insurretos .
Nesse sábado 19 de maio cinqüenta anos pós 68 vou assistir Zé Celso
& Marcello Drummond e todo Oficina na re-encenação do ´´Rei da Vela´´ no
teatro do Sesc na terra de Plínio Marcos & Patricia Galvão! Em tempos de milícias, neo-fascismos e
extorsão consumista Abelardo e sua gente
bizarra nos diz muito nesse paroxismo ideológico canhestro . Vivemos mesma ortodoxia idiota dos anos 30,
sectarismo estéril e o cinismo do mercado correndo solto.... aja vista
resistência do Oficina na Rua Jaceguai.
Semana que vem comento aqui nesse espaço maravilhoso com casaquinho e
tudo a noite do ´´Rei da Vela´´. Evoé amigos!
Poeta, contista e crítico literário,
Flávio Viegas Amoreira é das mais inventivas
vozes da Nova Literatura Brasileira
surgidas na virada do século: a ‘’Geração 00’’.
Utiliza forte experimentação formal
e inovação de conteúdos, alternando
gêneros diversos em sintaxe fragmentada.
Vem sendo estudado como uma das vozes
da pós-modernidade literária brasileira
em universidades americanas e européias.
Participante de movimentos culturais
e de fomento à leitura, é autor de livros como
Maralto (2002), A Biblioteca Submergida (2003),
Contogramas (2004) e Escorbuto, Cantos da Costa (2005).
No comments:
Post a Comment