Mesmo quem está habituado aos romances ambiciosos de Martin Amis vai ter sérias dificuldades em encarar “A Zona de Interesse”, seu mais novo trabalho, recém-lançado pela Companhia das Letras.
Primeiro porque Amis decidiu inserir elementos de humor numa narrativa passada no Campo de Concentração de Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial, um ambiente absolutamente incompatível com qualquer modalidade de humor.
E segundo porque em momento algum ao longo das páginas de "A Zona de Interesse" é feita a menor menção ao nome do führer alemão Adolf Hitler -- somente no epílogo, nas pesquisas bibiográficas de Amis, Hitler é citado.
E segundo porque em momento algum ao longo das páginas de "A Zona de Interesse" é feita a menor menção ao nome do führer alemão Adolf Hitler -- somente no epílogo, nas pesquisas bibiográficas de Amis, Hitler é citado.
O caso é que além de ser um grande estilista literário, Martin Amis é um provocador incansável. Quem conhece sua obra já está acostumado com suas investidas sobre temas, digamos assim, "perigosos". O foco principal de seus romances, contos e ensaios está sempre nos excessos da Civilização Ocidental cometidos na segunda metade do Século 20 e nesse início de Século 21.
Diante disso, vê-lo investigando o cenário mais tenebroso da Segunda Guerra Mundial talvez não devesse ser uma grande surpresa.
Mas é.
Até porque Auschwitz sempre foi considerado suficientemente distorcido em termos humanísticos para poder servir a sátiras ou caricaturas.
Diante disso, vê-lo investigando o cenário mais tenebroso da Segunda Guerra Mundial talvez não devesse ser uma grande surpresa.
Mas é.
Até porque Auschwitz sempre foi considerado suficientemente distorcido em termos humanísticos para poder servir a sátiras ou caricaturas.
Martin Amis é nabokoviano por excelência.
Aborda seus temas com a precisão de um legista, só que sempre com um sorriso mordaz num canto dos lábios.
Essa "marca da maldade" que sentimos em seu textos é absolutamente única, e em "A Zona de Interesse" ela surge mais intensa que nunca, sem medo de provocar desconforto em seus leitores.
Martin Amis exerce uma influência enorme em boa parte dos novos romancistas da boa e velha Inglaterra do Século 21, pois conseguiu trazer para a cena literária mais importante do planeta uma abordagem absolutamente nova e, ao mesmo tempo, perfeitamente inserida numa longa tradição que remonta a satiristas clássicos como Lawrence Sterne e Henry Fielding, passa por estilistas elegantemente debochados como Evelyn Walgh e seu pai, e flerta abertamente com a visão de mundo de judeus americanos com estofo existencial e senso de humor como Saul Bellow e Joseph Heller.
Não é à toa que The New York Times costuma se referir ao tom de sua narrativa como "the new unpleasantness".
"A Zona de Interesse" está dividida em 6 capítulos de três partes.
Cada uma dessas partes é narrada por um personagem.
Angelus Thomsen, o oficial enamorado por Hannah Doll, mulher do comandante alemão, é um deles.
O comandante alemão Paul Doll é outro.
E tem ainda o judeu soturno Szmul Zacharias.
Através de três pontos de vista distintos e frequentemente conflitantes, a história segue por rumos sempre inusitados e descompassos cômicos interessantíssimos.
Aborda seus temas com a precisão de um legista, só que sempre com um sorriso mordaz num canto dos lábios.
Essa "marca da maldade" que sentimos em seu textos é absolutamente única, e em "A Zona de Interesse" ela surge mais intensa que nunca, sem medo de provocar desconforto em seus leitores.
Martin Amis exerce uma influência enorme em boa parte dos novos romancistas da boa e velha Inglaterra do Século 21, pois conseguiu trazer para a cena literária mais importante do planeta uma abordagem absolutamente nova e, ao mesmo tempo, perfeitamente inserida numa longa tradição que remonta a satiristas clássicos como Lawrence Sterne e Henry Fielding, passa por estilistas elegantemente debochados como Evelyn Walgh e seu pai, e flerta abertamente com a visão de mundo de judeus americanos com estofo existencial e senso de humor como Saul Bellow e Joseph Heller.
No entanto, nunca pretendeu ser irônico e agradável no tom elegante usdo por seu pai, o também romancista Kingsley Amis, até porque gosta mesmo é de provocar deixar seus leitores sem ter como buscar refúgio em nenhuma zona de conforto.
Não é à toa que The New York Times costuma se referir ao tom de sua narrativa como "the new unpleasantness".
"A Zona de Interesse" está dividida em 6 capítulos de três partes.
Cada uma dessas partes é narrada por um personagem.
Angelus Thomsen, o oficial enamorado por Hannah Doll, mulher do comandante alemão, é um deles.
O comandante alemão Paul Doll é outro.
E tem ainda o judeu soturno Szmul Zacharias.
Através de três pontos de vista distintos e frequentemente conflitantes, a história segue por rumos sempre inusitados e descompassos cômicos interessantíssimos.
A trama, como não podia deixar de ser, é absolutamente banal: Paul desconfia de que sua mulher e o oficial Thomsen estão vivendo um romance, e incumbe de Szmul de seguí-la. Caso comprove visualmente a traição, Szmul está autorizado a matar os dois amantes.
E o que acontece a partir daí é muito cruel.
E muito engraçado também.
E o que acontece a partir daí é muito cruel.
E muito engraçado também.
Amis é extremamente hábil ao focar a ética e a moral dentro de um regime como o nazismo. Sua realismo é desconcertante. Até porque ele faz questão de retratar tanto Thomsen quanto Doll e Szmul como pessoas normais, apesar de estarem a serviço na máquina de extermínio nazista. Os pensamentos dos três são caseiros, preocupados com as questões pontuais do dia a dia. Fala-se muito em sexo, por exemplo, mas faz-se pouco.
Fico imaginando como Saul Bellow e Joseph Heller, a quem Amis tanto admira, iriam se sentir lendo uma sátira a Auschwitz. Será que eles conseguiriam gostar do resultado?
Fiaremos sem resposta a essa pergunta.
Lembrando que "A Zona de Interesse" vem sendo rejeitado por editores pelo mundo afora, sob a alegação de que não faz sentido abordar esse assunto dessa maneira.
Mas Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, judeu, fez questão de publicar o livro por aqui.
Curiosamente, a polêmica que cercou o lançamento do livro em vários países europeus e nos Estados Unidos, não o seguiu até aqui.
Fiaremos sem resposta a essa pergunta.
Lembrando que "A Zona de Interesse" vem sendo rejeitado por editores pelo mundo afora, sob a alegação de que não faz sentido abordar esse assunto dessa maneira.
Mas Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, judeu, fez questão de publicar o livro por aqui.
Curiosamente, a polêmica que cercou o lançamento do livro em vários países europeus e nos Estados Unidos, não o seguiu até aqui.
Daí, fica a pergunta: será que o público leitor brasileiro, cada vez menos apegado à herança cultural européia, deixou de se sensibilizar com temas como o Holocausto Nazista, a ponto de conseguir ler um livro cruel e intenso como "A Zona de Interesse" como se fosse uma sátira qualquer?
Eu, francamente, não me espantaria.
O Brasil é muito louco.
Até mesmo para alguém como Martin Amis.
O Brasil é muito louco.
Até mesmo para alguém como Martin Amis.
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