por Chico Marques
Muita gente se emociona até hoje quando Rick, o personagem de Humphrey Bogart em "Casablanca", diz para sua amada Ingrid Bergman: "Nós sempre teremos Paris".
Mas, cá entre nós, quem em sã consciência acredita realmente que aquele incerto casal apaixonado tinha alguma chance de sobreviver no mundo real, com o desgaste implacável que o cotidiano provoca em qualquer relação amorosa?
É mais ou menos a partir dessa premissa que rola a trama de "Um Fim De Semana Em Paris", esse belo filme de Roger Michell, que volta ao cartaz nesta semana no MISS Museu da Imagem e do Som de Santos.
Os ingleses Nick (Jim Broadbent) e Meg (Lindsay Duncan) estão casados há algumas décadas e esperam que uma viagem à capital da França sirva para comemorar seu aniversário de casamento e também ajude a consertar as muitas diferenças que os aflingem.
Paris, para o casal, significa deixar para trás os pontos de desequilíbrio da longa relação entre os dois: a confusa carreira acadêmica de Nick, aparentemente encerrada, e as dificuldades com com um filho adulto que só traz problemas, entre outras coisas.
Paris, no entanto, acaba se revelando menos idílica do que aparenta: tudo é muito caro e o clima romântico que ela sugere se revela pouco acessível ao poder aquisitivo deles.
Quando chegam, Meg logo desdenha o hotel, e os dois saem em busca de outro hotel mais confortável, mais luxuoso e, claro, bem mais caro, mesmo sabendo que tal extravagância não cabe nas contas do casal.
O espectador logo percebe a dinâmica confusa que se estabeleceu entre eles: a calma e a passividade de Nick em contraponto à agitação e ao jeito autoritário dela, que sempre toma a frente das situações.
Pouco a pouco, a cidade romântica começa a servir de testemunha para a desintegração da relação entre os dois -- e, paradoxalmente, é nesse ambiente que Nick e Meg se tornam mais honestos um com o outro.
Boa parte do filme conta apenas com o casal em cena e, por conta disso, algo do espírito sonhador e anárquico dos anos de 1960 aflora nos dois personagens, em referências a filmes clássicos de Jean-Luc Godard e François Truffaut.
Isso faz sentido na medida em que Meg e Nick são crias daquela década, pessoas que esperavam um mundo melhor, mas que se acomodaram na zona de conforto da classe média.
Quando encontram, por acaso, com Morgan (Jeff Goldblum), um velho colega dos tempos em que estudavam em Cambridge -- que consegue permanecer jovial, além de ser rico, bem-sucedido, prestes a lançar um novo livro e a ter um filho com sua mulher mais jovem --, é como se um terremoto sacodisse a vida do casal, obrigando-os a rever uma infinidade de conceitos e abrir mão de inúmeros cacoetes existenciais adquiridos ao longo dos anos.
O tom de "Um Fim de Semana em Paris" oscila, assim, entre a melancolia e a alegria de viver escancarada, com Duncan, Broadbent e Goldblum brilhando intensamente, grandes atores que são.
E assim, o resultado dessa terceira colaboração entre o diretor Roger Michell (“Notting Hill”) e o escritor inglês Hanif Kureishi (“Intimidade”) acaba sendo extremamente satisfatório -- mais ainda do que nos trabalhos anteriores “Recomeçar” e “Vênus”.
Tudo é extremamente verdadeiro em "Um Fim De Semana Em Paris", a ponto de incomodar de forma positiva qualquer casal estabelecido que se predisponha a comprar ingressos para assistí-lo.
Verdade seja dita: comédias românticas como essa, voltadas para o público adulto, que proliferaram de quinze anos para cá, sobretudo nas produções inglesas e francesas, conseguiram revitalizar o gênero em grande estilo.
Muita gente se emociona até hoje quando Rick, o personagem de Humphrey Bogart em "Casablanca", diz para sua amada Ingrid Bergman: "Nós sempre teremos Paris".
Mas, cá entre nós, quem em sã consciência acredita realmente que aquele incerto casal apaixonado tinha alguma chance de sobreviver no mundo real, com o desgaste implacável que o cotidiano provoca em qualquer relação amorosa?
É mais ou menos a partir dessa premissa que rola a trama de "Um Fim De Semana Em Paris", esse belo filme de Roger Michell, que volta ao cartaz nesta semana no MISS Museu da Imagem e do Som de Santos.
Os ingleses Nick (Jim Broadbent) e Meg (Lindsay Duncan) estão casados há algumas décadas e esperam que uma viagem à capital da França sirva para comemorar seu aniversário de casamento e também ajude a consertar as muitas diferenças que os aflingem.
Paris, para o casal, significa deixar para trás os pontos de desequilíbrio da longa relação entre os dois: a confusa carreira acadêmica de Nick, aparentemente encerrada, e as dificuldades com com um filho adulto que só traz problemas, entre outras coisas.
Paris, no entanto, acaba se revelando menos idílica do que aparenta: tudo é muito caro e o clima romântico que ela sugere se revela pouco acessível ao poder aquisitivo deles.
Quando chegam, Meg logo desdenha o hotel, e os dois saem em busca de outro hotel mais confortável, mais luxuoso e, claro, bem mais caro, mesmo sabendo que tal extravagância não cabe nas contas do casal.
O espectador logo percebe a dinâmica confusa que se estabeleceu entre eles: a calma e a passividade de Nick em contraponto à agitação e ao jeito autoritário dela, que sempre toma a frente das situações.
Pouco a pouco, a cidade romântica começa a servir de testemunha para a desintegração da relação entre os dois -- e, paradoxalmente, é nesse ambiente que Nick e Meg se tornam mais honestos um com o outro.
Boa parte do filme conta apenas com o casal em cena e, por conta disso, algo do espírito sonhador e anárquico dos anos de 1960 aflora nos dois personagens, em referências a filmes clássicos de Jean-Luc Godard e François Truffaut.
Isso faz sentido na medida em que Meg e Nick são crias daquela década, pessoas que esperavam um mundo melhor, mas que se acomodaram na zona de conforto da classe média.
Quando encontram, por acaso, com Morgan (Jeff Goldblum), um velho colega dos tempos em que estudavam em Cambridge -- que consegue permanecer jovial, além de ser rico, bem-sucedido, prestes a lançar um novo livro e a ter um filho com sua mulher mais jovem --, é como se um terremoto sacodisse a vida do casal, obrigando-os a rever uma infinidade de conceitos e abrir mão de inúmeros cacoetes existenciais adquiridos ao longo dos anos.
O tom de "Um Fim de Semana em Paris" oscila, assim, entre a melancolia e a alegria de viver escancarada, com Duncan, Broadbent e Goldblum brilhando intensamente, grandes atores que são.
E assim, o resultado dessa terceira colaboração entre o diretor Roger Michell (“Notting Hill”) e o escritor inglês Hanif Kureishi (“Intimidade”) acaba sendo extremamente satisfatório -- mais ainda do que nos trabalhos anteriores “Recomeçar” e “Vênus”.
Tudo é extremamente verdadeiro em "Um Fim De Semana Em Paris", a ponto de incomodar de forma positiva qualquer casal estabelecido que se predisponha a comprar ingressos para assistí-lo.
Verdade seja dita: comédias românticas como essa, voltadas para o público adulto, que proliferaram de quinze anos para cá, sobretudo nas produções inglesas e francesas, conseguiram revitalizar o gênero em grande estilo.
Le Week-End
(2013 - 93 minutos)
Direção
Roger Michell
Roteiro
Hanif Kureishi
Roteiro
Hanif Kureishi
Elenco
Lindsay Duncan
Jim Broadbent
Jeff Goldblum
Em cartaz no MISS
Museu da Imagem e do Som de Santos
Pinheiro Machado 48 - Vila Mathias
Sessões às 16h00, 18h30 e 21h00
Museu da Imagem e do Som de Santos
Pinheiro Machado 48 - Vila Mathias
Sessões às 16h00, 18h30 e 21h00
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