Eu, Odorico Azeitona, que sempre morri de inveja de Hugh Hefner, hoje estou morrendo de pena dele.
Quem diria que chegaria o dia em que o grande criador e garoto propaganda do Playboy Way Of Life iria passar pelo que está passando?
A pergunta que não quer calar é:
É justo que uma das figuras mais emblemáticas do Século 20 assista de camarote seu Império vir abaixo às vésperas de completar 90 anos de idade?
Não... definitivamente não é.
A crise que assola as empresas do Grupo Playboy há anos, por conta das tiragens cada vez menores da revista, está obrigando seus diretores a repensar toda a "filosofia" divulgada e praticada pela revista Playboy de 1953 para cá.
O primeiro passo foi o anúncio do fim das fotos com nudez frontal tanto na revista impressa e em PDF quanto em Playboy.com, colocando-a na mesma categoria e no mesmo segmento de mercado de publicações masculinas gay-friendly como GQ e Maxim.
O segundo passo é ainda mais emblemático: foi colocada à venda na virada de 2015 para 2016, pela bagatela de 200 milhões de dólares, a emblemática Mansão Playboy, em Holmby Hills, California.
O preço é salgado, com certeza.
Mas o pior é que já apareceu um interessado em comprá-la.
Justamente ele: Larry Flynt. Em outras épocas, o pornógrafo mais odiado da América. Hoje, apenas um empresário bem-sucedido do meio XXX de Los Angeles, como vários outros.
O motivo pelo qual estou com pena de Hugh Hefner é justamente pelo fato da Playboy -- ao contrário de Bob Guccione da Penthouse e de Larry Flynt da Hustler -- sempre ter defendido um ideal erótico relativamente conservador e comportado, em contraponto a uma postura política e comportamental libertárias e bem fundamentadas.
É sempre bom lembrar que, ao longo da história da revista Playboy, grandes temas como a Luta pelos Direitos Civis nos Anos 60, a Liberação do Aborto nos Anos 70 e a AIDS nos Anos 80 e 90 sempre tiveram lugar nas páginas da revista, que sempre manteve uma postura afirmativa promovendo debates entre vários setores da sociedade e trazendo esclarecimentos para seus leitores.
Mesmo assim, Hefner acabou crucificado por grupos evangélicos que insistem que "a Playboy é pornográfica sim!", e tanto fizeram que acabaram conseguindo impedir a venda da revista em lojas de conveniência da Walmart e da 7-Eleven.
Mais recentemente, Hefner levou um golpe baixo das Agências de Publicidade que, pressionadas por associações simpáticas às causas LGBT e contrárias à maneira com que a Playboy retrata as mulheres, se viram obrigadas a negar à revista anúncios de seus clientes principais.
A PLAYBOY sentiu o golpe, e concluiu que das duas, uma: ou mudava sua atitude editorial, ou seria engolida pelo mercado editorial politicamente correto.
Diz Larry Flynt que seu interesse na Mansão Playboy é para montar na propriedade um de seus Clubes Hustler, mas é óbvio que não é nada disso.
Para Flynt, que sempre foi visto por todos como uma espécie de filhote enjeitado, sem estofo e sem verniz, de Hugh Hefner, ocupar a Mansão de 5 acres e 29 quartos de Hefner equivale a realizar uma espécie de sonho edipiano de vingança.
Resta saber se realizar esse sonho vale os 200 milhões de dólares pedidos pela casa.
Enquanto a Mansão Playboy não é vendida, Hefner segue com sua rotina diária acompanhado por seu harém de "girls next door", sempre com o suporte logístico de Viagra -- a Pfizer é um anunciante que nunca o abandonou -, usando dia e noite seu emblemático quepe de comandante e seu indefectível roupão vermelho estampado.
Pensando bem, retiro o que disse lá no início sobre estar com pena de Hugh Hefner.
Odorico Azeitona nunca esteve
na Mansão Playboy em Los Angeles,
mas sonhou por muitos anos
com as surubas
na piscina da gruta
que Hefner promovia.
Escreve toda semana
em LEVA UM CASAQUINHO
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