Meu primeiro contato com Leonard Cohen foi tardio, no ótimo Take This Waltz, aqui Entre o Amor e a Paixão, de 2011. Antes disso, provavelmente, tenha cruzado com varias versões de Hallelujah em alguns filmes, mas nunca havia ligado a musica à pessoa. A cena do filme em que Take This Waltz, que dá nome ao filme no título original, é tocada é tão poderosa e a musica é tão marcante – até hoje uma das minhas favoritas – que saí do cinema sem conseguir tira-la da cabeça. Com isso fui me informar mais sobre “o tal” Leonard Cohen, que cantava a música.
Comprei no iTunes a coletânea The Essential Leonard Cohen e não consegui parar de escutar durante um bom tempo. Fiquei impressionado de como consegui passar ao largo de coisa tão boa por tanto tempo. A partir daí comprei os dois ótimos CDs inéditos que foram lançados, Old Ideas (2012) e Popular Problems (2014) e passei a ouvir as suas musicas cada vez mais. As letras de suas músicas são muito fortes, sempre voltando a temas como religião, sexo, rupturas, e a algo que parece ter se perdido em alguma geração depois da minha, a fascinação pela nudez feminina.
Com o lançamento neste ano da biografia em português, o ótimo I’m You Man, de Sylvie Simmons, resolvi conhecer mais sobre ele. A experiência de ler o livro e ter a internet à mão para pesquisa foi muito interessante, nunca consultei tanto Youtube e comprei tantas musicas e vídeos no Itunes como durante a leitura deste livro. Frequentemente parava a leitura, ouvia uma música, baixava um CD ou um DVD e passava os dias seguintes ouvindo ou assistindo. Cheguei a comprar um DVD físico, que estava com preço muito bom.
A biografia é bem completa, fiz diversas descobertas sobre a carreira de Leonard, algumas, bem conhecidas dos fãs, como o famoso raincoat azul, o boquete de Janis Joplin que inspirou Chelsea Hotel #2, a influencia da AIDS em There is No Cure For Love e o desfalque dado pela empresária que o levou voltar para a estrada e fazer shows com mais de 70 anos. Mas o que mais me impressionou foi a trajetória complexa de sua carreira, ao contrário do que eu eu pensava, sua carreira foi se consolidando aos poucos, a intenção primeiro foi ser um escritor e poeta, a musica veio praticamente por acaso e a contragosto, com ajuda da cantora country Judy Collins, que gravou Suzane pela primeira vez. Seus discos fizeram razoável sucesso na Europa desde cedo, mas demoraram bastante para emplacar nos EUA. Somente com um disco de 1987 apenas com musicas dele, Famous Blue Raincoat, da cantora Jennifer Warnes –- que havia participado de turnês com ele como backing vocal –- que sua carreira começou a deslanchar nos EUA.
Suas músicas tiveram uma boa relação com o cinema, desde Onde os Homens são Homens, de 71, dirigido por Robert Altman, passando pela comédia Alta Tensão (Bird on a Wire, no original), com Mel Gibson e Goldie Hawn, de 1990, até o já mencionado Entre o Amor e a Paixão, mais um que tem como título original uma de suas músicas.
Sua relação com as mulheres também é das mais interessantes, sempre esteve as voltas com alguma linda mulher sem nunca conseguir estabelecer uma relação duradoura. Assim que a relação levava a algum tipo de acomodação ele dava um jeito de escapar, muitas vezes ainda mantendo a relação, mas sem a presença física constante.
Mas é no palco que evolução é mais impressionante, desde a extrema timidez, que dificultava muito suas apresentações ao vivo e tornava as turnês quase um tormento, até a volta aos palcos com mais de 70 anos.
Assisti e ouvi bastante coisa ao vivo, um show no festival da ilha de Wright em 1970, para 600 mil pessoas que teve uma série de tumultos, com pessoas derrubando o muro para entrar sem pagar. Nesse show, Kris Kristofferson foi expulso do palco sem conseguir cantar e Leonard entrou no palco visivelmente chapado depois de Jimi Hendrix. Suas músicas hipnotizaram de tal maneira a plateia que a levaram a assistir à apresentação numa improvável tranquilidade. O Show, lançado em DVD mais de 20 anos depois, é bem amador, mas sua relação com a plateia impressiona. Ouvi também o CD Field Commander Cohen, da turnê 79, já bem mais profissional, que mostra uma grande evolução nos palcos e nos arranjos ao vivo. Mas nada supera o DVD Live em Dublin que mostra um show de 2013. É incrível ver um sujeito de quase 80 anos que no inicio da carreira tinha horror ao palco e que passou por depressões encantar a plateia por mais de três horas com total desenvoltura e, principalmente, com visível alegria. É impossível não se emocionar com a imagem daquele senhor que entra e sai saltitante do palco com suas musicas poderosas, com arranjos lindíssimos, tocadas por excelentes músicos, ao fundo.
Não consigo pensar em uma definição melhor de envelhecer com dignidade.
I’M YOUR MAN - A VIDA DE LEONARD COHEN
Sylvie Simmons
Tradução: Patrícia Azeredo
(Editora Best Seller, 503 páginas, R$ 79,90)
Fábio Campos convive com filmes
desde que nasceu, 49 anos atrás.
desde que nasceu, 49 anos atrás.
Seus textos sobre cinema passam ao largo
do vício da objetividade que norteia
a imensa maioria dos resenhistas.
Fábio é colaborador contumaz
de LEVA UM CASAQUINHO.
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