Ele e Ametista estão numa sala de bate-papo:
“Oi, Ametista!”
“Oiiiiiiiii......”
“Tudo bem?”
“Claro, e vc?”
“Muito melhor agora, conversando com uma pedra preciosa.”
“Olha que eu acredito!”
“É pra acreditar.”
“Escolhi esse nick porque tem tudo a ver comigo.”
“Minha pedra é a ametista/ minha cor, o amarelo/ mas sou sincero/ necessito ir urgente ao dentista.”
“rsrsrrsrsrsrsrsrsrsrsrsr..”
“Onde você está?”
“Diz vc primeiro.”
“Tão perto, tão longe!”.
“Como assim? rsrsrsrsrsrsrs......”
“Eu queria que você estivesse aqui, assim eu ia te ver agora mesmo.”
“E por que vc não vem me ver?..... vc é casado?”
“Não.”
“Um dia um cara veio me encontrar.”
“Que fim levou esse cara?”
“Ah, não gostei dele porque ele era feio.”
“Posso ser sincero?”
“seja sincero! por favor!”
“Pois bem: você me parece um pouco superficial. As mulheres não se preocupam tanto assim com a beleza masculina.”
“vc tem razão, agora estou procurando outro tipo de homem.”
“Que tipo?”
“...um que seja sincero. vc é sincero?”
“Sou.”
“Pra mim agora o que vem em primeiro lugar é a sinceridade. vc é sincero mesmo?”
“Sou sincero como uma ametista.”
“...então vou fazer um teste com vc..... posso?”
“Claro.”
“Quantos anos vc tem?”
“A idade é fundamental?”
“É só uma curiosidade rsrrsrs...”
“Quarenta e cinco.”
“E não casou até hoje?”
“Não...”
“...não casou por que?”
“Porque eu sou um infeliz amoroso. O que me preocupa é que a minha infelicidade já está indo longe demais. A solidão é uma armadilha.”
“Nossa!.... Nunca ninguém falou assim comigo.”
“Assim como?”
“Com tanta sinceridade... vc me parece um pouco triste.”
“Sei que não se deve perguntar a idade de uma mulher. Mas já que você tocou no assunto, pode me dizer quantos anos tem?”
“32”.
“Trinta e dois?... Adoro as mulheres de trinta e dois.”
“rsrsrsrs.... uma mulher de 32 é uma mulher igual as outras.”
“Sei o que estou dizendo! Uma mulher de trinta e dois anos não é uma mulher igual às outras!”
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“Ametista! Você está aí?”
“tô sim........ vc já namorou uma mulher de 32 anos?”.
“Uma coisa que aprendi namorando as mulheres de trinta e dois anos é que todas têm filhos. Você tem filhos?”
“Não, mas gostaria muito de ter!... vc mora com quem?”
“Moro só.”
“Não é ruim morar só?”
“O único problema é que ao morrer só vão reparar a tua falta dez dias depois, quando o corpo já está apodrecendo rssrrsrsrsrsrsr.....................”
“Não acho graça. isso é muito triste. muito triste mesmo! sou sensível e delicada.”
“Tem um poeta que disse: ‘Por delicadeza, perdi a vida’.”
“Para com isso! as vezes vc me dá medo!....... vc pensa em casar?”
“É só nisso que penso desde que nasci. Eu me lembro muito bem: no meu aniversário de um aninho eu estava no colo da minha mãe. Quando ela cortou o bolo e mandou eu fazer um pedido, pedi uma namorada.”
“Quem sabe sou eu essa namorada que vc pediu?”
“Presta atenção no que eu vou te dizer, Ametista. Eu vivo sonhando com pedras preciosas. Você acredita em sonhos?”.
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“Ametista?..... Ametista?”.
“oiiiiiiiiiiiiiiiê........”
“Onde você estava?”
“tava tentando lembrar de um sonho... vc sonha mesmo com pedras preciosas?”
“Vivo sonhando. Uma vez tive um pesadelo em que eu engolia um monte de pedras preciosas e acordei engasgado.”
“............rsrsrsr..... vc é engraçado!.....”
“De que cor é a ametista?”
“É violeta, translúcida.”
“As pedras preciosas dos meus sonhos têm essa cor!”
“Será que é algum sinal?”
“Deve ser... só pode ser! Qual é o teu signo?"
“Adivinha!........”
“Diz logo!”
“Sou de capricórnio. e vc?”
“Sou de Câncer. Câncer e Capricórnio combinam!”
“Ah, que bom se a gente combinasse. que bom!.........”
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“Tem alguém aí, por acaso uma garota sensível e delicada que se chama Ametista?”
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“Ametistaaaaaa?”
“rrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsr....”
“Pensei que você não estivesse mais aí.”
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“AMETISTAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!......”
Sob a direção de Márcia Okida,
a minipeça Ametista foi apresentada
em 27 de junho de 2010
pelo grupo Rinocerontes
no 14º Festival de Cenas (Fescete)
em Santos (SP).
Márcio Calafiori é jornalista.
Nasceu em 1957 e se formou
pela Facos em 1986.
Exerceu quase todos os cargos
em redações de jornais em Santos,
Santo André, Campinas e São Paulo.
Foi redator, repórter, revisor, editor,
secretário de redação,
chefe de reportagem e ombudsman.
Aposentou-se em 2012
como professor da Unisanta,
depois de 29 anos
de dedicação exclusiva
ao Jornalismo Impresso.
Colabora regularmente com
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LEVA UM CASAQUINHO.
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