Sunday, March 5, 2017

ESCRACHANDO O DEMÔNIO COM UM CHUTE NOS BAGOS #16 (FINAL)


UM VÊ A TERRA AZUL LÁ DE CIMA,
OUTRO VÊ MERDA ENTUPIDA NUMA PRIVADA
(1ª temporada, episódio 16 - final)


O segundo workshop aconteceu três semanas depois, em um estádio um pouco menor, com cerca de 25 mil lugares, também vendidos antecipadamente, uma grande quantidade arrematada por cambistas.



Às vezes é preciso cair fora. Desviar o foco.

Claro que você não precisa ir pro Himalaia, Índia ou Iraque.

Mas faça alguma coisa diferente. Envernize um guarda-roupa velho, faça algo inesperado, volte a ver desenhos animados antigos da sua infância, escreva poesia de péssima qualidade e jogue fora. Tente trepar um pouco mais.

Ou seja, faça qualquer coisa que afaste um pouco sua obsessão por encontrar a brecha.

Já contei a vocês que vi uma porção de gente surtando sem volta por se dedicar em tempo integral à busca da porta que leva para o outro lado.

Muitas dessas pessoas vivem até hoje à base de tranquilizantes pesados e estão totalmente fora do jogo, sem condições de voltar a campo.

Então, não exagere. Vá, mas vá com calma. Tire períodos sabáticos. Faça, temporariamente, qualquer coisa que diminua o que você considera sua “missão” na vida.

Até porque é sempre bom lembrar que, com frequência, você morre antes de ter descoberto porra nenhuma.

Hoje estou meio fantasiado de astronauta. Aliás, esse capacete tá pressionando muito a minha cabeça e não sei se vocês vão entender direito o que eu estou dizendo, por causa desse som metálico que deve estar saindo dos autofalantes.

De qualquer forma, estou com este capacete ridículo na cabeça pra mostrar que damos muito autoimportância ao que somos, ao que fazemos, e esquecemos que existem no planeta Terra milhares de outras coisas para sermos e fazermos.

Ser astronauta, por exemplo.

Me respondam sem pensar: qual a diferença entre um astronauta e um faxineiro de banheiro público masculino?

Ambos têm níveis culturais completamente diferentes, ficaram sentados com suas bundas nas cadeiras de colégios por períodos de tempo totalmente diferentes, ganham salários infinitamente desproporcionais.

Mas ambos têm que lidar com um problema comum a toda a humanidade. Se livrar da merda que cada um deles acumula nos intestinos dia após dia e dar destino não só a própria merda, mas a toda a merda do resto mundo.

Até agora, lidamos razoavelmente com esse problema, mas até quando? No momento, somos cerca de sete bilhões de cus despejando merda no planeta. Mas continuamos nos reproduzindo rapidamente, assim como aumentamos a merda que produzimos e produziremos.

Quanto tempo o astronauta e o faxineiro de banheiro masculino vão demorar para sentar lado a lado num balcão de bar e tentar uma solução urgente e desesperada para isso?



Apesar da situação aparentemente absurda aqui exposta, acredito que esse encontro no balcão de bar acontecerá bem mais rápido do que imaginamos.

Quer dizer, se o referido bar já não estiver inundado de merda de forma a impedir qualquer tipo de diálogo entre o astronauta e o faxineiro.

Um vê a Terra azul lá de cima, outro vê a merda entupida numa privada cujo cretino não tinha noção de quanto papel higiênico é necessário para limpar o rabo dignamente.

Quanto tempo demorará para que cada um dos dois vejam uma bola cheia de merda girando no espaço da escotilha da sua nave e no fundo de uma privada?

Então,quando saírem daqui, deem uma boa cagada, fixem bem os olhos na merda que acabaram de fazer e tentem imaginar um lindo planeta todo azul girando lá fora da escotilha na sua nave.

Obrigado e até breve.



Como não estava enxergando muito bem através do visor do capacete, dei uma porrada com a cabeça no batente da porta de entrada do vestiário. Por sorte, um faxineiro que limpava o chão me conduziu até a milagrosa SAÍDA vermelha para a rua dos fundos do estádio, onde tirei o capacete e dei uma longa e deliciosa mijada.


JR Fidalgo,
um jornalista que tem preguiça de perguntar,
um escritor que não tem saco pra escrever
e um compositor que não sabe tocar.

(mesmo assim escreveu dois romances
e uma quantidade considerável de canções
ao longo dos últimos 40 anos - nota do editor)





No comments:

Post a Comment