Thursday, July 13, 2017

CARTEIRA BATIDA (uma crônica de Marcelo Rayel Correggiari)



É uma sensação muito estranha... sabemos. Não há muito o que fazer ao se deparar com ela, bem como com os sentimentos, dela, emergentes.

Até Freud anunciara um estranho desejo por isolamento naqueles vítimas de engodo. Não pelo desconhecimento de como lidar com sua resultantes, mas pela quantia de sofrimento quando o chão desaparece e a luta para se por de pé novamente ganha alguma urgência.

O mais cansativo da história toda acaba por se tornar o encontro exaustivo e desalentador com uma quantidade abissal de gente com carteira batida. “O mundo é dos espertos”?! Tudo depende do que se intui como “esperteza”, o que ela realmente vale e qual o devir de tamanha jagunçada.

Sim, porque se a resultante do batedor de carteira é ‘perder moral na casa’, há de se convir que sequer é possível chamar tal abordagem de “esperteza”, inclusive.


Primeiramente, é possível o(a) querido(a) freguês(a) se tornar mestre na mais fina arte de Vidoc?! Sim, se isso fizer parte de sua essência (ou natureza) e prestígio (ou reputação) é o que menos lhe importa no frigir dos ovos. É só correr para o abraço.

Segundamente, por qual motivo o(a) estimado(a) cliente deseja bater carteira?! Simplesmente para ter o que comer quando se é descamisado(a) ou para substituir as “dinastias monárquicas” vigentes por uma que lhe caia bem?! Sim, porque é preciso certo ‘din-din’ no ‘bol-sin’ para arcar com a própria ‘revolução pessoal’. No caso dos descamisados, até entendemos.

No caso dos ‘já preparados e com as devidas ferramentas’, o questionário sofre sua amplificação.

Uma pergunta que puxa outra. Bom... é melhor pararmos por aqui.


No caso do segundo time, uma mecânica basilar de iludir o próximo para bater-lhe a carteira: a fuga de uma norma socialmente esclarecida que, aliás, não é tão permissiva quanto se imagina. Bastante ‘humanismo’, o bom e velho ‘cunversê’, belíssimos ditados que até mesmo o(a) batedor(a) em questão acredita no que está falando. Insere-se um significado atraente sobre algo que já possui significado consagrado e o restante da desgraceira bem conhecemos.

Mas por que isso ainda funciona?! “Fidus”, meu/minha caro(a)! “Fidus”! “Confiança”, em Latim, sem ele ninguém consegue sair de casa para o trabalho e demais afazeres. Em algum ponto, há de se ‘fiar’ na “bona-fide” (a “boa-fé”) da pessoa diante de você. Há de se ter alguma quantidade de “fé” e/ou “confiança” para a prática das coisas e, assim, a “bateção” de carteira se perpetua.

É impossível não se tornar vítima dos ‘dedos-leves’ do alheio.

No caso da existência de uma indústria, a “mágica” aconteceria na retirada das determinações em torno de e/ou sobre um objeto. Quanto menor for a incidência de determinações, maior será seu grau de abstração. O(A) impostor(a) atua com essa sutileza, porém sem a clarividência de quando parar: o Verdadeiro surge quando a artimanha confronta a norma social consagrada por intermédio do Real (os fatos). Quanto mais devastadora a pugna, maior a sensibilidade de se estar na condição completa de manipulado(a).

Aí, meus caros e minhas caras... o circo terá de recolher suas lonas.


A queda do(a) batedor(a) de carteira é concomitante ao estado de alerta de quem está dentro do ônibus, do trem, no tumulto da saída de um show ou de um jogo de futebol. E não adianta impor a “ilusão de ótica” com base na distração de terceiros: as pessoas conversam. E não há “atribuição de significados” pessoais, o ‘empurrar’ de idiossincrasias goela abaixo do(a) vizinho(a), que fará a “mágica” acontecer novamente.

O teste para tal é deveras simples...

Cheguem numa biqueira e consumam os produtos sem maiores preocupações de limites. Ao receberem o valor final, deitem na conta de R$ 50,00 uma singela nota de dois e vejam qual a reação do traficante responsável pela astuta boca-de-fumo.

Se colar, colou. Sorte a de vocês. Se vocês forem parar no ‘micro-ondas’, bem... nas normas socialmente esclarecidas, R$ 50,00 sempre serão R$ 50,00. Pode ser que o traficante não fique muito satisfeito com o estratagema aplicado... vão por mim.



Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO


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