GLOSA
— Meu bemzinho, que desgosto
Me está causando você;
Sua boquinha me dê,
Para mim volte o seu rosto.
— Eu consinto no seu gosto,
Porem não ha de metter,
E si deseja saber
Si ainda tenho cabaço,
Com todo o desembaraço
PODE APALPAR, PODE VER.
— Aqui está! Metta o dedinho
Na cavidade do centro;
Não me carregue p'ra dentro
Que me magoa o conninho;
Não 'steja tão tristezinho
Por eu não me franquear;
Você me quer deshonrar!
Olhe, eu lhe faço um partido
Si é p'ra ser meu marido,
DAS COIXINHAS PODE USAR.
A coisa pode encostar
Por fora, não tenha susto;
E, si quer prazer mais justo
Pode os peitinhos chupar.
Em tudo deixo pegar,
Mas só faça o que eu disser,
Pois si minha mãe souber
Que você... Ai! Ai! Que dor! Ai!...
Dentro não, meu amor!...
POR FORA, QUANTO QUIZER!
— Ja vae você, minha vida,
Sua coisinha mettendo...
A pomba me está doendo...
Eu ja me sinto ferida;
Não me queira ver perdida...
Va pedir-me p'ra casar...
Meu Deus!... E elle a teimar...
Olhe que eu me vou embora...
Si quizer venha-se fora,
DENTRO NÃO, QUE HEI DE GRITAR.
Poucos conhecem o Bocage brasileiro,
um mulato chamado Laurindo Rabelo (1826-1864),
poeta romântico conhecido como "Poeta Lagartixa"
por seu porte magro e desengonçado.
Nascido no Rio, tentou estudar medicina,
mas por absoluta por falta de dinheiro,
teve que estudar na Bahia, onde se formou.
La conheceu o repentista Moniz Barreto (1804-1868),
com quem travou duelos e aprendeu a versejar
à moda dos cantadores nordestinos.
Graças a esse convivio, practicou a glosa,
transferindo o legado poético de Bocage
para uma ambientação tipicamente brasileira.
Ingressou na Academia Brasileira de Letras
e teve suas "Obras Completas" publicadas em 1882,
somente com seus poemas românticos:
seus poemas de sacanagem acabaram deixados de lado
por muitos e muitos anos.
Redescobertos no início do Século 20,
passaram a circular em edições clandestinas
de enorme apelo popular em bancas do Centro do Rio.
Hoje, são fáceis de encontrar pela Web.
Basta escrever no Google
LAURINDO RABELO SACANAGEM
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