por Chico Marques
Claudia Alencar é uma mulher excepcional, e uma atriz vigorosa, dedicada, sempre vibrante e com uma pegada contundente em tudo que faz. É daquele tipo de pessoa que jamais conseguiu enbarcar num projeto pela metade, ou de forma protocolar, em nome de um suposto "profissionalismo". Já foi acusada por alguns de seus empregadores de ser impulsiva demais e ponderada de menos. Mas... como exigir ponderação de uma pessoa que só sabe trabalhar apaixonada por seus personagens?
Claudia Gomes de Alencar nasceu em São Paulo no dia 12 de julho de 1950. Desde pequena queria ser escritora, e em 1964, aos 14 anos, venceu um concurso nacional de contos promovido pelo jornal Correio da Manhã. Mas no meio de caminho do seu envolvimento com a Literatura, apaixonou-se pelo Teatro e pela Sociologia, e fez os dois Cursos na USP no final dos Anos 60 e início dos 70.
Virou professora de Artes Cênicas. Durante cinco anos lecionou no Colégio Oswaldo Aranha (ensino fundamental, no Instituto Alberto Conte (ensino médio) e na Faculdade Alcântara Machado. Como era filiada à Aliança Libertadora Nacional, participava de peças contra a censura e que denunciavam as torturas realizadas pelo Regime Militar.
Então, em 1972, durante o governo do General Médici, Cláudia foi presa e permaneceu 20 dias nas mãos da Operação Bandeirantes (OBAN). Foi torturada e submetida a diversos maus tratos. Quando foi libertada, não conseguiu mais trabalhar em nenhuma Instituição de Ensino, daí voltou para a USP para concluir ser Doutorado.
Só tomou coragem para voltar a atuar em 1975, quando aceitou um convite de Antunes Filho para fazer teleteatros na TV Cultura -- e nesses últimos 42 anos, Cláudia nunca mais parou de atuar, seja em teatro, TV ou cinema.
Participou de mais de 25 peças -- entre elas: "Tartufo", de Molière (ao lado de Paulo Autran), "Tiro ao Alvo" (com Marco Nanini), "A Partilha" (de Miguel Falabella), "Quase 84" (de Fauzi Arap), "O Momento de Mariana Martins" (de Leilah Assumpção") e "Os Inconquistáveis" (de Mario Vargas Llosa).
Na TV, participou de mais de 30 produções, e fez ainda 8 filmes longa-metragens.
Em 1988, lançou seu primeiro livro de poemas: "Maga Neón", pela Massao Ohno Editores. Desde então, já lançou outros dois volumes de poesia e mais dois sobre pesquisas teatrais.
Ganhou prêmios em praticamente todas as atividades artísticas em que se envolveu -- o que mostra que seu talento talvez seja amplo, geral e talvez irrestrito.
É mãe de Yann, nascido em 1988, e de Crystal, nascida em 1991.
ENTREVISTA com CLÁUDIA ALENCAR
(por Maria Valéria Pacheco
para o blog TUDO SOBRE SEU FILME)
Como começou a trabalhar na indústria do cinema? Quando surgiu a primeira oportunidade de atuar?
para o blog TUDO SOBRE SEU FILME)
Como começou a trabalhar na indústria do cinema? Quando surgiu a primeira oportunidade de atuar?
Como paulistana eu tinha na década de 80 uma única opção para cinema: pornochanchada. Para fazer cinema tinha que tirar a roupa. Me recusei. Enveredei para o teatro, televisão, projetos undergrounds pela cidade. Meu primeiro filme protagonizei "Doce Delírio" de Manuel Paiva ao lado de Eduardo Tornagh, o galã da época. Teve uma cena erótica ( jamais pornô) onde eu sozinha, deprimida, passava mel em minhas pernas e ia até a boca. A câmera de Carlão Reinchenbach me acompanhava. O filme trocou de nome por causa dessa cena. Depois fiz com Ozualdo Candeias que era um ser pensante, outro filme, a "Freira e a tortura", que co-protagonizava com Vera Gimenez e o galã das pornochanchadas na época, David Cardoso.
Como foi ser uma musa?
Musa? Nunca fui musa do cinema. fiz 11 filmes e não gosto de nenhum... prefiro os filmes dos outros, os bons filmes. Tarantino, Lars Von Trien, David Linch, etc.... No Rio de Janeiro se fazia bons filmes, mas em São Paulo, não. Em minha opinião... Isso na década de 80 inicio dos 90. Sinto não ser a Musa do cinema. Mas soya "musa" do novo cinema paulistano (risos).
Qual trabalho considera o melhor da sua carreira? E por quê?
O melhor trabalho foi em 2015 com "Réquiem para Laura Martin" de Paulo Duarte onde entrei como coadjuvante e sai como protagonista, com umas 6 ou 7 cenas. Ganhei o premio de melhor protagonista no festival Nacional de Petrópolis. Fui fazendo a cena, encarnando o personagem e o diretor com câmera na mão foi me seguindo, deixando rolar e o set todo chorando. Foi lindo. Mas é um filme que ainda não chegou lá... sob o meu ponto de vista, claro, mas o diretor foi imbatível, genial.
Nem sempre quem faz cinema, curte cinema. Qual sua experiência no mundo artístico que mais te marcou?
Adorooooooooooooooooooooooo cinema. Pena que nunca fiz um filme que gostasse. Laura Martim, sim.. todas as cenas que fiz adoreiiii, mas o filme em si..... nem tanto. Qual experiencia que mais me marcou? foi essa do Laura Martim. Em TV foi em "Porto dos milagres", em que entrei para fazer 30 capítulos e morrer, mas não conseguindo me matar, morri no capitulo 100, terminando protagonista e matando todos os vilões - Cassia Kiss e Zé de Abreu. Me impressiona que sempre encarno as personagens e os papéis crescem e tomam conta da trama. E o que mais me marcou foi no teatro, nas oficinas de Ariane Mnouchkine, com máscaras. Fiz um velho japonês que ensinava a outro japonês como fazer harakiri. Toda paramentada, depois de 6 dias de ensaios com outros personagens com mascaras, fui fazer esse. Ariane é muito exigente e queria que a máscara falasse... - Como?? me perguntava... pois o velho japonês começou a falar em japonês e a ensinar 5 maneiras de se fazer harakiri. Eu me via atrás da máscara, a mascara falava em japonês e via o publico rir até não poder mais!! Fiquei 2 dias em pleno êxtase vendo tudo brilhar, a aura das pessoas. Passei a outra dimensão. Isso é atuação Isso é verdade da arte. Nos meus workshops com meus alunos e há alguns que mudam de dimensão.....muito forte!
Existe uma lista dos filmes mais importantes para você, no cinema em geral?
Oito e meio de Fellini e O Piano mudaram o rumo de minha vida. Amo Ettore Scolla, David Linch, Lars Von Trien, Tarantino, Rosselini, enfim.. todos que me fazem pensar. M.V.: Inclusive, coincidentemente, assisti a uma belíssima cópia em bluray recentemente do filme "O piano".
Fale um pouco dos seus próximos projetos.
Acabei de fazer um filme em Sampa, Com Andradina e Diego como diretores chamado "30 anos blues" e faço Claudia Alencar, a MUSA dos personagens/diretores que usam o próprio nome . Eles se encantaram com minha atuação no teatro em Sampa com "Vestir o pai" de Mario Viana e se encantaram ainda mais com minha personalidade e conhecimento depois que fomos jantar na casa de Andradina. Me quiseram no filme de qualquer maneira. Inventaram essa cena em que dou uma festa em casa e falo o que quero, como quero, com quem quero, com toda a fauna intelectual paulistana. A câmera me seguia, nunca o contrário. Arrebentamos. Acho que vai ser o primeiro filme de que vou gostar. |Nunca aconteceu algo assim no cinema... pelo menos no cinema Nacional
E se pudesse deixar uma lição destes anos dedicados a arte, qual seria?
A Fundação do ator é a cultura! Ter disciplina, o esfôrço diário da criação literária, plastica, vocal e corporal. Impossível não ler todos os dias, não assistir um seriado, um filme um teatro pelo menos 3 vezes por semana.Impossível não ver museus, viajar, ver gente, conversar, se expor e colocar suas idéias. Prefiro falar o que acho e provocar reações do que calar e engolir, me entupir de lixo anímico. Pago um bom preço por ser o que sou. E cada vez mais sou uma mulher que como Isadora Duncan tem como lema: "Sans Limits". Se vou morrer plenamente, viverei plenamente!
Nota do Editor: Cláudia Alencar posou nua para a STATUS em 1983 e para a PLAYBOY em 1987. Os dois ensaios são trabalhos de extremo bom gosto, mas no caso específico do ensaio para a PLAYBOY, clicado por Bob Wolfenson, Cláudia revela muito mais que sua nudez: revela sua essência como mulher
Ano | NOVELAS E MINISSÉRIES DE TV | Papel |
---|---|---|
2017 | Rock Story | Tetê |
2015 | Felizes para Sempre? | Alice |
2013 | Beleza S/A | Lenira[2] |
2011 | Vidas em Jogo | Adalgisa |
2008 | Os Mutantes | Sandra Gisa de Albuquerque Andrade |
2006 | Alta Estação | Laila Viana (Lalá) |
2005 | Prova de Amor | Teresa Avelar |
2004 | Sob Nova Direção | Ilza Sarmento |
2003 | Kubanacan | Natasha |
2002 | O Quinto dos Infernos | Amapola |
2001 | Porto dos Milagres | Epifânia Pereira |
2000 | Esplendor | Laura Bernardes |
1998 | Você Decide | Vários Personagens |
Malhação | Inês | |
Hilda Furacão | Divinéia | |
1996 | Anjo de Mim | Divina |
1995 | Cara e Coroa | Martina |
1993 | Fera Ferida | Perla Menescau |
1990 | Fronteiras do Desconhecido | Raquel |
1989 | Tieta | Laura |
1986 | Roda de Fogo | Patativa |
1984 | Meus Filhos, Minha Vida | Zilda |
Padre Cícero | Lígia | |
1983 | Sabor de Mel | Teresa |
Campeão | Berenice | |
1982 | Renúncia | Lisete |
1981 | Os Imigrantes | Teresa |
Dona Santa | Dileta | |
1980 | Um Homem Muito Especial | Alcina |
1979 | Gaivotas | Denise |
1978 | Salário Mínimo | Isabel |
1976 | Canção para Isabel | Bia (Beatriz) |
Ano | FILMES LONGA METRAGEM - CINEMA | Papel |
---|---|---|
2017 | Talvez Uma História de Amor | Bianca |
2016 | Um Suburbano Sortudo | Narcisa |
2011 | Réquiem para Laura Martin | Raquel |
2005 | Por 30 Dinheiros | Anita / Madalena |
2001 | Xuxa e os Duendes | Jéssica |
1991 | Inspetor Faustão e o Mallandro | Sandrona |
1989 | Atração Satânica | Susan |
1984 | Shock: Diversão Diabólica | Eni[3] |
1983 | A Freira e a Tortura | Esposa do Delegado |
1982 | Doce Delírio | Eva |
1979 | Uma Estranha História de Amor | Beatriz |
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