Por que um recém-nascido, quando abre os olhos, não se assusta com o que vê, com pessoas que nunca viu, com coisas espantosas vistas pela primeira vez, muitas das quais nem ele mesmo tem, como bocas cheias de dentes, risos e palavras, olhos, narizes, em seres que lhe deveriam parecer estranhos?
Por que o tempo muda e tudo se altera quando um trem passa?
Por que uma mulher está feliz num dia e completamente infeliz e desesperada no outro?
Por que de manhã ela sorri e à noite chora como se passasse de uma dimensão a outra do espaço em que tudo se inverte?
Por que ninguém para a olhar as árvores se movendo vivas, dançando a música silenciosa do vento que as balança?
Por que um homem se deita na calçada tal como todos os outros homens em suas camas e acorda no dia seguinte para repetir seus passos até novamente à noite ir dormir na calçada e se entregar aos mesmos sonhos de todos os outros?
Por que nas obras de arte as pessoas parecem estar sonhando?
Seríamos todos estúpidos por não nos assustarmos com o que se forma quando fechamos os olhos, assim como com tudo o que se insurge à frente quando os abrimos?
Por que você está fazendo isso?
Não teria afinal o capitalismo incorporado o comunismo em seu sistema, de modo que hoje todos comem e compram as mesmas coisas e viajam para os mesmos lugares?
Seriam estas perguntas completamente inúteis a ponto de se tornarem poesia?
Se o homem enfim conquistar outro planeta, a Terra se tornará uma colônia?
Você é livre? Por quê?
Por que todas essas pessoas na rua andando de um lado para o outro parecem ir para algum lugar e por que parece ser normal isso?
Como se completa um estado de ser algo? Não se vai à igreja para se tornar completamente fiel? Não se vai ao hospital para se tornar completamente doente? Não se vai ao cemitério para se tornar completamente morto?
Por que os quero-queros estão sempre irritados? E os bem-te-vis, por que todas as manhãs aprontam confusão?
E aquele homem, por que aprisiona um gavião e uma arara?
Por que crianças fazem perguntas esquisitas e adultos não fazem perguntas?
Por que domingo deu praia?
Por que hoje o céu está nublado?
Por que quando chove cai granizo e quando venta caem árvores, destelham casas?
Por que a vida afetiva se manifesta nos objetos?
Por que prazer e sofrimento estão no mesmo pacote?
Por que diante de um semáforo nos encontramos com a eternidade?
Por que um animal come outro animal?
Por que você ainda está lendo este texto?
Chove hoje?
Quem garante que o céu que nos protege não cairá sobre nossas cabeças?
Por que tanta beleza no mundo e tão poucos olhos para desfrutá-la?
De que lado deve ser visto o óbvio?
Por que a luz foge à velocidade da luz?
Por quê?
Por quê?
[publicado originalmente em 13/11/2008]
Ademir Demarchi é santista de Maringá, no Paraná,
onde nasceu em 7 de Abril de 1960.
Além de poeta, cronista e tradutor,
é editor da prestigiada revista BABEL.
Possui diversos livros publicados.
Seus poemas estão reunidos em "Pirão de Sereia"
e suas crônicas em "Siri Na Lata",
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