Quando rodou A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA em 1969, Peter Bogdanovich mergulhou na alma dilacerada de uma esquecida cidadezinha do Texas que vê sua história e seus valores desaparecendo e sendo substituídos por coisa alguma. Toda a aridez das imagens fica ainda mais intensa na fotografia em preto e branco utilizada no filme. Todo o desespero existencial dos que permanecem por lá entra numa dolorida contagem regressiva para o fechamento da única sala de cinema da cidade -- que guarda todos os sonhos não-realizados e todas as aspirações daquela pequena população. É um filme magnífico.
Pois agora tentem imaginar A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA dirigido não por Peter Bogdanovich, mas por algum fã ardoroso de Michelangelo Antonioni ou Wim Wenders. Transfiram a ação do interior do Texas para Brasília. Pronto: você já tem uma idéia preliminar do que vai ver em O ÚLTIMO CINE DRIVE-IN.
A história é mais ou menos assim: um jovem chamado Marlombrando (sic), que está solto pelo mundo, se vê obrigado a voltar a Brasília, sua cidade de natal, pois sua mãe, Fátima, muito está doente.
Em Brasília ele reencontra seu pai, Almeida, dono do único Drive-in da cidade há 37 anos.
Almeida insiste em manter o cinema funcionando, mesmo não atraindo mais as legiões de frequentadores que lotavam a casa décadas atrás.
Conta com a ajuda de apenas dois funcionários: Paula, que cuida da projeção e da lanchonete, e José, que vende ingressos e faz a limpeza do local.
Com a ameaça de desapropriação do Drive-in e o agravamento da doença de Fátima, pai e filho vão ter que achar uma saída para suas vidas.
O problema de O ÚLTIMO CINE DRIVE-IN é que todos esses personagens vagam por um vazio afetivo que só encontra algum refresco existencial na tela do cinema. Suas vidas são tão áridas quanto o clima de Brasília, e suas perpectivas para o futuro tão duvidosas quanto o cinema que insistem em manter funcionando, mesmo que no vermelho. Os silêncios são eloquentes. Os diálogos, propositadamente desencontrados. Cada um dos personagens parece estar protagonizando um filme diferente. E ninguém se entende.
Eu confesso que me irrita um pouco certas antonionices que pontuam o filme. Não vejo sentido em tantos climas vagos criando mais e mais indefinições na história e no perfil dos personagens, que às vezes aceitam bem a alternância da vida, outras vezes se rebelam contra as mudanças. Acredito que um diretor mais experiente que Iberê Carvalho -- este é seu primeiro longa metragem -- teria deixado a trama crescer de uma forma mais orgânica e menos confusa. O resultado final não chega a ser um desastre, mas podia ser muito melhor resolvido.
Daí, resta apenas elogiar o trabalho dos atores, principalmente Othon Bastos, que cria um personagem denso, intenso, complexo e fascinante. E que, de certa forma, dá o norte para todo o resto do elenco, graças a seu magnetismo pessoal e talento inegável.
O ÚLTIMO CINE DRIVE-IN tem chances de fazer bonito em festivais de filmes independentes no exterior. É um filme curioso e incomum, que certamente teria mais chances com um roteiro melhor e uma direção mais firme. Tem poesia de sobra no olhar de Othon Bastos, e poesia de menos no filme. Um detalhe: as externas do filme foram todas rodadas num Drive-In próximo ao Autódromo de Brasília que existe de verdade há mais de 40 anos.
Vale a pena assistir O ÚLTIMO CINE DRIVE-IN. Mas não espere demais do filme, para não se decepcionar.
O ÚLTIMO CINE DRIVE-IN tem chances de fazer bonito em festivais de filmes independentes no exterior. É um filme curioso e incomum, que certamente teria mais chances com um roteiro melhor e uma direção mais firme. Tem poesia de sobra no olhar de Othon Bastos, e poesia de menos no filme. Um detalhe: as externas do filme foram todas rodadas num Drive-In próximo ao Autódromo de Brasília que existe de verdade há mais de 40 anos.
Vale a pena assistir O ÚLTIMO CINE DRIVE-IN. Mas não espere demais do filme, para não se decepcionar.
O ÚLTIMO CINE DRIVE-IN
(2014 - 98 minutos)
Direção
Iberê Carvalho
Elenco
Othon Bastos
Breno Nina
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