Foi como se não fosse real.
Tentei por mais de três anos trazer o Milo Manara ao Brasil e sempre esbarrávamos na paúra que o homem tinha de aviões.
Na editora sempre ouvimos que ele só viria pelo mar, aí não batia com a temporada de cruzeiros daqui em Santos.
Chegamos a cogitar um cargueiro, acho que no mês de setembro, que viria pelo Caribe, em meio aos possíveis furacões.
Bem, já viram que estava um tanto surreal a produção da vinda do nosso convidado.
Quando li da possível visita ao país neste 2010 já comecei a campanha, propus a um parceiro importante - o Sesc - e eles toparam.
Logo depois já contatava o pessoal da Conrad, editora do Manara, e eles foram sempre solícitos.
Logo após já estava também conversando com o Instituto Italiano em São Paulo e...confirmamos a passagem do Milo Manara por Santos.
Conseguimos dois dias de janela dentro da programação e a comitiva veio direto do Rio, pós Comicon, que era o motivo original da sua passada pelo país.
Depois de 12h de carro Manara desce em frente ao hotel com a sua comitiva - formada pela esposa, agente e editor Italianos - e acende um charutinho.
Quando disse que havia uma equipe de jornalistas aguardando para uma entrevista Manara escondeu o charutinho em meio a umas folhagens na entrada do hotel.
Ao fim do papo ele voltou discretamente, resgatou o charuto e deu mais umas baforadas.
No dia seguinte cuidamos da comitiva: peixe, cerveja e café, nesta ordem.
Depois apresentei Benedito Calixto, o pintor que retratou a região de Santos como poucos.
Rumávamos para o grande momento, a palestra no teatro do Sesc, que recebeu mais de 400 fãs, que ouviram deliciosos causos da convivência de Manara com Fellini, além de confissões e planos para o futuro.
A comitiva subiu a serra, Manara estava cansado após ter autografado mais de 120 livros.
E eu, cinco anos mais tarde, ainda não acredito no que vivi naqueles dois dias.
Até a próxima.
José Luiz Tahan, 41, é livreiro e editor.
Dono da Realejo Livros e Edições em Santos, SP,
gosta de ser chamado de "livreiro",
pois acha mais específico do que
"empresário" ou "comerciante",
ainda mais porque gosta de pensar o livro
ao mesmo tempo como obra de arte e produto.
Nas horas vagas, é um pai de família exemplar.
Já nas horas vagas de pai de família exemplar,
assume sua identidade (não muito) secreta
como o blues-shouter Big Joe Tahan.
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