Nessa última semana, Hugh Hefner, do alto de seus 89 anos de idade, anunciou que, a partir de meados do ano que vem, a sessentona Revista PLAYBOY deixará de expor mulheres completamente nuas em suas páginas e voltará ao padrão praticado pela revista até o final dos Anos 60, quando escondiam os pelos publianos de suas playmates -- que, diga-se de passagem, estão hoje quase extintos, graças à popularização do Brazilian Wax, uma das únicas exportações brasileiras que está longe de ser uma commodity.
Hef alegou que, com o passar dos anos, a revista perdeu valor de mercado por expor mulheres nuas de forma reveladora. Continuará publicando fotos sensuais de mulheres, mas de forma menos apelativa. Foram feitos alguns testes eliminando fotos de nus artísticos do website playboy.com, e o resultado foi positivo, daí essas mudanças recém-anunciadas.
Além disso, Hugh Hefner anunciou também que a revista promete rever sua postura diante de questões políticas e sociais, que marcaram de forma contundente sua trajetória nos anos 60 e 70, e que, segundo ele, agora perderam a importância e a relevância que tinham então.
Imediatamente, um monte de reclamões -- que certamente não compram PLAYBOY há anos, e que cultivam uma atitude saudosista em relação à revista -- começou com o mimimi de praxe, usando expressões como "o fim de uma Era", entre outras bobagens.
Na verdade, o buraco da PLAYBOY é bem mais embaixo, literalmente.
PLAYBOY deveria ter-se adequado aos novos tempos há muitos anos. Enquanto publicações como GQ, MAXIM e várias outras publicavam fotos de mulheres seminuas que não incomodavam o público homossexual -- e com isso conseguiam atrair leitores e anunciantes interessados com matérias de apelo não-restrito ao público heterossexual --, PLAYBOY permaneceu fiel a sua orientação original, e seguiu falando exclusivamente aos machos alfa do Planeta Terra.
Deu no que deu: a receita publicitária minguou, a circulação seguiu desabando ano após ano, e agora -- só agora! -- a diretoria da revista assume estar numa encruzilhada.
Deu no que deu: a receita publicitária minguou, a circulação seguiu desabando ano após ano, e agora -- só agora! -- a diretoria da revista assume estar numa encruzilhada.
Assume, pero no mucho! Prefere jogar a culpa na pornografia democrática que circula pela Web. Como se esse fosse o motivo pelo qual ninguém se mobiliza mais para saber quem foi a Playmate deste mês da edição americana, quanto mais pagar unma mensalidade para vê-la em fotos sempre retocadas demais e climáticas de menos. Como se isso justificasse o fato de que só os adolescentes fãs do "Pânico na TV" ainda se importam com a edição brasileira da revista -- e mesmo assim só quando ela estampa na capa alguma das dançarinas crumbianas extremamente bombadas do programa.
Quem conhece PLAYBOY de longa data sabe que a grande sacada da revista foi mostrar para a América puritana e caretésima dos Anos 50 e 60 imagens com poses clássicas de vedetes ou celebridades de qualquer espécie, e sim imagens naturalmente glamourosas do que se convencionou chamar de "the girl next door" -- a vizinha gostosa que mora ao lado e que povoa os sonhos selvagens dos americanos mais pacatos.
Nesse sentido, PLAYBOY teve um papel importantíssimo na vida privada do homem americano da época, pois enquanto o feminismo ganhava espaço smpre no grito com as atitudes truculentas e ideologizadas de Betty Friedan e Gloria Steinem, PLAYBOY promovia uma revolução sexual silenciosa, preparando tanto os leitores liberais quanto os leitores conservadores para enfrentar as mudanças sociais que viriam pela frente.
A relevância de PLAYBOY ao longo dos anos 60 e 70 é absolutamente incontestável. Não é à toa que, justamente nessa época, franquias da revista começaram a ser publicadas em vários cantos do mundo.
Nesse sentido, PLAYBOY teve um papel importantíssimo na vida privada do homem americano da época, pois enquanto o feminismo ganhava espaço smpre no grito com as atitudes truculentas e ideologizadas de Betty Friedan e Gloria Steinem, PLAYBOY promovia uma revolução sexual silenciosa, preparando tanto os leitores liberais quanto os leitores conservadores para enfrentar as mudanças sociais que viriam pela frente.
A relevância de PLAYBOY ao longo dos anos 60 e 70 é absolutamente incontestável. Não é à toa que, justamente nessa época, franquias da revista começaram a ser publicadas em vários cantos do mundo.
Aqui no Brasil, a PLAYBOY aportou em 1975, utilizando a princípio o nome HOMEM e sofrendo restrições muito truculentas da Censura Federal.
Demorou cerca de 3 anos para a Editora Abril sentir que valia a pena assumir por completo o nome PLAYBOY e seguir em frente.
Claro que ao invés da revista procurar ter um papel transformador na vida dos leitores, o que vimos aqui no Brasil foi um desleixo enorme da parte dos editores para com os textos publicados na revista e uma aposta constante nos ensaios fotográficos com celebridades.
Rapidamente, posar para PLAYBOY deixou de ser a ambição da "girl next door" para se transformar em plano de carreira para atrizes de novelas de TV em busca de projeção e plano de aposentadoria para atrizes de novelas de TV bem estabelecidas.
Não adianta: no Brasil qualquer idéia vinda de fora é sempre virado pelo avesso com uma facilidade enorme.
Com ensaios fotográficos a um preço tão exorbitante, a edição brasileira de PLAYBOY passou a custar muito caro.
Demorou cerca de 3 anos para a Editora Abril sentir que valia a pena assumir por completo o nome PLAYBOY e seguir em frente.
Claro que ao invés da revista procurar ter um papel transformador na vida dos leitores, o que vimos aqui no Brasil foi um desleixo enorme da parte dos editores para com os textos publicados na revista e uma aposta constante nos ensaios fotográficos com celebridades.
Rapidamente, posar para PLAYBOY deixou de ser a ambição da "girl next door" para se transformar em plano de carreira para atrizes de novelas de TV em busca de projeção e plano de aposentadoria para atrizes de novelas de TV bem estabelecidas.
Não adianta: no Brasil qualquer idéia vinda de fora é sempre virado pelo avesso com uma facilidade enorme.
Com ensaios fotográficos a um preço tão exorbitante, a edição brasileira de PLAYBOY passou a custar muito caro.
Para conseguir se pagar, a revista dependia de uma tiragem muito alta.
No começo, a curiosidade do público era grande e as contas fechavam no verde.
Mas com o passar do tempo, a PLAYBOY brasileira começou a acumular fiascos.
Para não ter que desembolsar na frente cachês milionários para atrizes de sucesso, PLAYBOY começou a dividir lucros com elas, fazendo com que se engajassem na promoção da revista.
Uma ou outra atriz topou.
Mas a maioria não quis saber mais desse tipo de exposição, e então, rapidamente, PLAYBOY virou reduto das mesmas modelos duvidosas que passeiam pelas páginas de SEXY.
Há muitos anos PLAYBOY não consegue mais trazer atrizes de TV em suas páginas nem nas festejadas edições de aniversário, em Agosto, e nem nas edições de Natal.
As últimas que passaram por lá foram Cleo Pires e Letícia Birkheuer, e lá se vão alguns anos.
A fonte secou, e a tiragem desabou.
Ano passado, em meio a uma crise sem precedentes em sua história, a Editora Abril chegou a anunciar que não iria mais publicar PLAYBOY.
Mas foi alertada pelo Departamento Jurídico que o valor a ser pago por rompimento de contrato com a matriz americana era tão alto que dava mais certo fazer como a Editora francesa que tinha os direitos sobre a revista havia feito pouco tempo atrás: seguir publicando a revista até o contrato expirar, e então simplesmente não renová-lo.
O contrato da PLAYBOY americana com a Editora Abril encerra em Dezembro de 2016. Não será renovado. Mas segundo fontes, em Janeiro ou Fevereiro a revista volta a circular através da Editora Globo, que pretende reaproximar a Playboy brasileira da linha editorial da Playboy americana, elevando o nível qualitativo do conteúdo da revista, que andava baixíssimo nos últimos anos.
Mas foi alertada pelo Departamento Jurídico que o valor a ser pago por rompimento de contrato com a matriz americana era tão alto que dava mais certo fazer como a Editora francesa que tinha os direitos sobre a revista havia feito pouco tempo atrás: seguir publicando a revista até o contrato expirar, e então simplesmente não renová-lo.
O contrato da PLAYBOY americana com a Editora Abril encerra em Dezembro de 2016. Não será renovado. Mas segundo fontes, em Janeiro ou Fevereiro a revista volta a circular através da Editora Globo, que pretende reaproximar a Playboy brasileira da linha editorial da Playboy americana, elevando o nível qualitativo do conteúdo da revista, que andava baixíssimo nos últimos anos.
Eu trabalhei alguns anos na pioneira Revista ELE ELA, uma espécie de prima pobre de PLAYBOY publicada pela Bloch Editores no Rio de Janeiro.
Era muito divertido.
O orçamento da revista sempre foi minguado, mas mesmo assim nunca decepcionamos nossos leitores.
Comprávamos os direitos de republicação das fotos de mulheres nuas publicadas pela LUI e mesclávamos com fotos de garotas cariocas da época.
Revelávamos ao imaginário sexual brasileiro criaturas deslumbrantes como as então jovens Rose Di Primo, Monique Evans, Xuxa e Luiza Brunet, entre tantas outras gostosuras.
Enchíamos as páginas da revista com artigos sobre sexo, com orientações médicas e tudo mais, e apimentávamos com a clássica seção FÓRUM, copiada na cara dura da PENTHOUSE americana, onde supostos leitores -- na verdade, a revista tinha dois redatores encarregados só de produzir esses textos -- compartilhavam suas aventuras amorosas ardentes com outros leitores.
ELE ELA chegou ás bancas em 1969 para tentar herdar o público da revista masculina FAIRPLAY, que agonizava na época.
Vimos o surgimento da STATUS em 1974, que nos pareceu logo de cara paulista e classuda demais.
Nosso diagnóstico inicial foi de que ela não conseguiria emplacar nacionalmente.
Erramos feio. mas, de qualquer maneira, não víamos em STATUS uma ameaça a ELE ELA.
Eram revistas muito diferentes, que, de certa forma, se complementavam.
Mas quando HOMEM chegou às bancas em Agosto de 1975, amparada por toda a relevância que PLAYBOY ostentava na época, tanto quem trabalhava em STATUS quanto nós que fazíamos ELE ELA sentimos a terra tremer.
Percebemos rapidamente que nosso destino era brigar pelo segundo e pelo terceiro postos na preferência do público, pois o primeiro posto já tinha dono.
Nunca vou esquecer do primeiro número de HOMEM, a versão brasileira de Playboy.
Trazia fotos da exuberante Valerie Perrine nua. Valerie era pouco conhecida até então, e acabara de se destacar como a mulher de Dustin Hoffman na angustiante cinebiografia de Lenny Bruce, "Lenny", que era um sucesso nos cinemas americanos e estava proibido de ser exibido no Brasil pela Censura Federal.
Seu papel de maior destaque até então tinha sido uma ponta na versão cinematográfica de "Matadouro #5", de George Roy Hill, baseado no grande romance fantástico de Kurt Vonnegut Jr, como a starlet hollywoodiana Montana Wilhack que se transforma na parideira de uma nova geração de habitantes no Planeta Talfamadore.
Trazia também no poster central a belíssima Lívia Mund, uma modelo paulistana que, depois de um rápido estrelato nas páginas da revista, seguiu carreira como produtora fotográfica.
Estive diante dela duas vezes a trabalho e fiquei completamente sem fala.
Quando a gagueira passou, me desculpei, e expliquei o motivo.
Ela, muito simpática, disse para não me incomodar, pois entendia perfeitamente o impacto que as fotos daquela primeira edição promovou no imaginário de toda uma geração de marmanjos.
A PLAYBOY brasileira seguiu procurando sua cara ao longo dos Anos 80.
Quando mais se afastava da mística que cercava a edição americana -- que Hugh Hefner, malandramente, alimentava mês após mês --, mais se aproximava do lugar comum de ELE ELA e STATUS.
Nos Anos 90, a PLAYBOY já estava totalmente incorporada ao Brasil.
Esnobava solenemente as matérias e as sessões de fotos da matriz.
Nunca mais publicou contos de autores relevantes.
Raríssimas vezes entrevistou pessoas realmente importantes, abrindo suas páginas para personalidades de ocasião, extremamente populares, numa busca desenfreada por um público cada vez menos segmentado.
Quando começaram a publicar ensaios fotográficos apenas de dançarinas do É O Tchan e do Pânico na TV, foi o começo do fim.
Agora agoniza.
A PLAYBOY americana sempre apostou na segmentação de público, tanto que nunca cansou de bruigar para não perder o público conquistado a duras penas ao longo de tantas décadas de trabalho institucional.
Mas agora não teve jeito, teve que se render ao mercado.
Por uma questão de orgulho, prefere culpar a Web para não ter que dar o braço a torcer que está fazendo isso por razões meramente comerciais, de sobrevivência no mercado.
E, na surdina, tenta abraçar o público homossexual promovendo mudanças tão drásticas em sua linha editorial.
Se estão certos ou não, só o tempo dirá.
Eu, se fosse editor da PLAYBOY, aproveitaria a deixa e voltaria às origens da revista.
Trazia fotos da exuberante Valerie Perrine nua. Valerie era pouco conhecida até então, e acabara de se destacar como a mulher de Dustin Hoffman na angustiante cinebiografia de Lenny Bruce, "Lenny", que era um sucesso nos cinemas americanos e estava proibido de ser exibido no Brasil pela Censura Federal.
Seu papel de maior destaque até então tinha sido uma ponta na versão cinematográfica de "Matadouro #5", de George Roy Hill, baseado no grande romance fantástico de Kurt Vonnegut Jr, como a starlet hollywoodiana Montana Wilhack que se transforma na parideira de uma nova geração de habitantes no Planeta Talfamadore.
Trazia também no poster central a belíssima Lívia Mund, uma modelo paulistana que, depois de um rápido estrelato nas páginas da revista, seguiu carreira como produtora fotográfica.
Estive diante dela duas vezes a trabalho e fiquei completamente sem fala.
Quando a gagueira passou, me desculpei, e expliquei o motivo.
Ela, muito simpática, disse para não me incomodar, pois entendia perfeitamente o impacto que as fotos daquela primeira edição promovou no imaginário de toda uma geração de marmanjos.
A PLAYBOY brasileira seguiu procurando sua cara ao longo dos Anos 80.
Quando mais se afastava da mística que cercava a edição americana -- que Hugh Hefner, malandramente, alimentava mês após mês --, mais se aproximava do lugar comum de ELE ELA e STATUS.
Nos Anos 90, a PLAYBOY já estava totalmente incorporada ao Brasil.
Esnobava solenemente as matérias e as sessões de fotos da matriz.
Nunca mais publicou contos de autores relevantes.
Raríssimas vezes entrevistou pessoas realmente importantes, abrindo suas páginas para personalidades de ocasião, extremamente populares, numa busca desenfreada por um público cada vez menos segmentado.
Quando começaram a publicar ensaios fotográficos apenas de dançarinas do É O Tchan e do Pânico na TV, foi o começo do fim.
Agora agoniza.
A PLAYBOY americana sempre apostou na segmentação de público, tanto que nunca cansou de bruigar para não perder o público conquistado a duras penas ao longo de tantas décadas de trabalho institucional.
Mas agora não teve jeito, teve que se render ao mercado.
Por uma questão de orgulho, prefere culpar a Web para não ter que dar o braço a torcer que está fazendo isso por razões meramente comerciais, de sobrevivência no mercado.
E, na surdina, tenta abraçar o público homossexual promovendo mudanças tão drásticas em sua linha editorial.
Se estão certos ou não, só o tempo dirá.
Eu, se fosse editor da PLAYBOY, aproveitaria a deixa e voltaria às origens da revista.
Recheando-a de textos densos e polêmicos, como nos velhos tempos.
Partindo para algo totalmente "vintage" em termos visuais, trabalhando com imagens tipicamente anos 50 e 60 as tradicionais "girls next door". Em poses domésticas. Delicadamente glamorosas. Não muito reveladoras. Sempre pensativas. Sempre solícitas.
E o mais importante de tudo: sempre ao alcance da mão direita, ou da mão esquerda de seus "leitores".
Odorico Azeitona
é um homem apaixonado
é um homem apaixonado
e escreve toda terça-feira
em LEVA UM CASAQUINHO
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