por Fábio Campos
Obrigado ao Chico pelo convite. Adoro cinema mas nunca escrevi algo mais que alguns comentários empolgados (ou irados) na saída do cinema. Não tenho nenhum conhecimento técnico, minha visão é muito mais de fã de cinema do que qualquer outra coisa. Vamos ao que interessa.
Como a maioria das pessoas, eu já havia desistido de assistir "Chatô". O filme foi cercado de expectativas nos anos 90, mas, por uma série de problemas, seu lançamento levou quase 20 anos. Só isso já torna o filme peculiar. Quando seu lançamento foi anunciado, aguçou a minha curiosidade: Como seria um filme que levou 20 anos para ser lançado? Além dessa pergunta, desde o anúncio da produção do filme outras duas sempre me intrigaram. Como resumir em mais ou menos duas horas a biografia de mais de 700 páginas do Fernando Morais? E como contar a história de um magnata da mídia sem parecer uma cópia malfeita de "Cidadão Kane"?
Depois de ver o filme, a primeira resposta é muito fácil, o filme que levou 20 anos para ser lançado é, surpreendentemente, muito bom! E o motivo disso passa pela maneira com que as duas outras perguntas foram respondidas.
Como o Guilherme Fontes era oriundo da TV, sem nenhuma experiência como diretor de cinema, eu apostava que o filme fosse uma biografia didática, como aquelas minisséries da Globo, que, depois de condensadas, viram filme.
Eu não podia estar mais errado. A partir de um roteiro brilhante, o filme tem uma montagem frenética, muitas vezes histérica, de fatos misturados com delírios, sem ordem cronológica. Não perde tempo em explicar nada, somente usa o tempo pra apresentar o maior número de fatos possíveis. Os delírios dão ao filme um clima bem brasileiro, algo que pode ser descrito como um misto de "Cidadão Kane" com "Macunaíma" (tá aí a resposta, genial, da terceira pergunta).
A reconstituição de época é muito boa, os figurinos são o ponto alto. A produção toda é de alta qualidade, dá pra entender porque o filme custou tão caro. O elenco está afinadíssimo, é o papel da vida do Marco Ricca, a Andrea Beltrão está ótima -- no geral, ninguém destoa.
Claro que quem leu o livro vai sentir falta de alguns fatos. Eu, particularmente, senti falta de mais espaço para a vida dele na politica. Mas não consigo ver maneira melhor de adaptar um livro com tantos detalhes sobre uma vida tão rica.
Só mesmo um filme produzido há 20 anos pra conseguir superar essa bundamolice do atual cinema nacional, sem nenhuma ousadia (nisso estamos conseguindo copiar direitinho o cinema americano).
Saí do cinema orgulhoso, como poucas vezes saí de um filme nacional. Vou recomendar o filme para o maior número possível de pessoas. Espero que o filme tenha uma bilheteria proporcional à sua qualidade. Como bom filho de exibidor sempre torço pela bilheteira dos filmes que eu gosto.
CHATÔ, O REI DO BRASIL
(2015, 102 minutos)
Produção e Direção
Guilherme Fontes
Roteiro
João Emanuel Carneiro
Guilherme Fontes
Matthew Robbins
Direção de Arte
Gualter Pupo
Cenografia
Celina Richers
Elenco
Marco Ricca
Andréa Beltrão
Letícia Sabatella
Leandra Leal
Paulo Betti
Gabriel Braga Nunes
Eliane Giardini
Zezé Polessa
Marcos Oliveira
Alexandre Régis
Ricardo Blat
Tião D'Avilla
EM CARTAZ NO CIRCUITO COMERCIAL PAULISTANO
Fábio Campos assiste filmes
desde que nasceu, 49 anos atrás,
e não há nenhum exagero nessa afirmação.
Esta é a primeira de várias colaborações
dele para LEVA UM CASAQUINHO,
que agradece a ótima contribuição
e dá as boas vindas.
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