Já diziam os
antigos: “Em boca fechada não entram mosquitos”...
... ou “o
silêncio vale ouro”. Tinha, também, aquela: “Quem muito fala, ouve o que não
gosta”.
Todos ‘dizeres’
em torno de certas punições sofridas ao se valer da máxima que certa
incontinência verbal pode ser tremendamente prejudicial a qualquer tipo de
saúde.
Há o extremo
oposto: nos casos de traumas e problemas psicológicos severos, ficar de boca
fechada pode encurtar a vida.
O que fazer,
então?! Qual a medida?
Não há muito o
que possa ser dito. Trocadilho à parte, o equilíbrio na manifestação verbal
quase beira a uma ‘grande arte’. Em épocas de participação obrigatória em tudo
(sob a ameaça de ser enquadrado(a) como “isentão(ona)”), ficar em silêncio e só
opinar quando se tem uma boa base, de fato, para fazê-lo “... é que são elas”.
É abrir as tais
‘redes-sociais’ e encontrar “orelhadas” em tudo.
E vem a voz da
Velha Maria, mãe da minha mãe, em seu costumeiro: “Era isso que você tinha para
me dizer?!? Podia ter guardado para você”.
Nem sempre temos
opinião para tudo, ou sobre todas as coisas. Há vários comentários ótimos para
serem guardados nos recônditos da existência... e nada mais!
Lembro, certa
vez, ser arguido quanto a minha opinião sobre censura: um certo espanto na
resposta.
Como romancista
e artista, era muito claro que deveria virar todos os obuses contra qualquer
insinuação dessa natureza. A resposta, porém, causou bastante estranheza.
Esse livre
merceeiro jamais seria adepto a qualquer tipo ou forma de censura. Claro que
não! Muito menos à auto-censura. Contudo, sempre tive em mente como fazer com
que certos objetos não sejam enxergados como “chocantes” no velho exercício da
‘notoriedade barata’ pelo ‘escandalizamento’.
Tem de se levar
certos aspectos em consideração. Raciocinemos pelo absurdo: como livres e
literatos, promovemos uma ‘prosa de ficção’ cujo personagem principal é um
pedófilo.
Somos livres
para desenvolver a história? Sim, aliás, garantidos pela constituição. Mas
pensem encontrar um grande amigo, uma grande amiga, casado(a) ou não, com seus
pequenos em algum playground público ou privado da cidade e que resolve compartilhar
com você o perrengue pelo qual passou quando os rebentos folhearam a tal obra
de sua lavra.
“Mãe?! O que é
pedófilo?!”, “Pai?! Por que o homem tirou a roupa do menino?”.
É um equilíbrio
difícil: um livro, quando ‘na praça’, tem vida própria e nem todo mundo fez
quatro anos de Letras para entender que aquilo é uma peça de ficção, apesar de
relatar sobre um fato asqueroso da vida.
Mesmo os adultos
não possuem ‘filtro’ suficiente para entender que o livro precisa voltar para a
estante após sua porção de leitura ao invés de ficar ao alcance dos mais novos.
Os adultos
também se chocam sobre determinados temas: a reação, quase sempre, costuma ser
hostil e pouco amigável. Em que pese todos os esforços de “... engenho &
arte...” para abrandar ao máximo as cenas referentes a espinhoso personagem,
nem sempre a intenção é espetacularmente bem-sucedida.
A
‘sinuca-de-bico’ do(a) autor(a): “Mexo, ou não mexo, com isso?!”.
Realmente é
preciso muito “... engenho & arte...”, “vocação & talento”, para criar
certos personagens e mexer com certos assuntos sem “... quebrar os ovos”. Nem
sempre a expressão transgressora é bem-vinda, por mais que seu amigo ou sua
amiga adore você.
Há momentos em
que o silêncio pode te ajudar a repensar o que precisa ser dito, porém sem
espatifar os ovos contra a parede.
Silêncio não é
isenção: quando muito, um ganho de tempo para que se possa lidar com assuntos
espinhosos, mas de necessária abordagem, sem que o debate se encerre por conta
de qualquer outro melindre.
Isso seria a tal
‘auto-censura’?! Penso que cabe o debate.
Tendo a dizer
que “não”.
Enfim... “façam
suas apostas”. Em épocas de obrigação quanto a ‘versar’ sobre tudo, quase
sempre caímos na armadilha de propagar as piores besteiras possíveis. O que é
pior: causando mágoas em pessoas que tanto amamos.
“O silêncio vale
ouro!”, diz a voz da Velha Maria por algum eco cá dentro da minha cabeça.
Se realmente o
que tem a dizer o(a) querido(a) freguês(a) possui grande relevância, faça-o.
Com moderação, por favor. Caso contrário, guarde para você.
Use com moderação as tais
‘redes-sociais’. Silêncio também é saudável. O Ministério da Saúde Mental
agradece o esforço.
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 47 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É autor de Areias Lunares
(à venda na Disqueria,
Av. Conselheiro Nébias
quase esquina com o Oceano Atlântico)
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO
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