Thursday, June 30, 2016

CAFÉ E BOM DIA #29 (por Carlos Eduardo Brizolinha)



O romance Às Avessas, de J.K. Huysmans, pode ser considerado como uma obra que engloba todas as principais características da estética fin de siècle decadentista. Protagonizada por um dândi recluso, o duque Jean des Esseintes é o último membro da família Floressas des Esseintes e não deixa descendentes. Após um capítulo inicial, onde são apresentadas informações sobre a vida pregressa à reclusão de Des Esseintes, bem como suas origens familiares e breves informações sobre sua infância, a obra de Huysmans apresenta dezesseis capítulos, cada um com o seu tema próprio. Essa estrutura independe de um enredo que conecte os capítulos uns aos outros, assim como de uma progressão temporal lógica. Sendo suficientes de forma isolada, cada capítulo aborda uma temática própria, em geral alguma forma de arte, passando por temas como pintura, literatura, perfumaria, pedrarias, floricultura, decoração ambiente, entre outros. Observando como funcionam as relações entre a pintura e o texto literário encontramos pinturas de Gustave Moreau, estampas de Jan Luyken, litogravuras de Bresdin e quadros de Odilon Redon. A sugestão, a luxúria, a crueldade e o aspecto onírico são comuns a todas as obras picturais presentes nos aposentos de Des Esseintes. Na parte inicial do capítulo, onde são apresentadas pinturas de Gustave Moreau. Ao introduzir os quadros, o narrador afirma que Des Esseintes havia escolhido para ornar os seus aposentos pinturas sutis, extravagantes e mergulhadas em sonho e corrupção antiga, remetendo a outras épocas. A primeira referência pictural da obra de Moreau não é nomeada, sendo referida apenas como o quadro de Salome. A escolha das obras é feita por Des Esseintes. Suas escolhas, portanto, podem ser justificadas a partir da personalidade da personagem. Realizando o caminho inverso, as obras também contribuem muito para a constituição da personagem. O segundo ponto se refere à transposição de arte em si. Se, por um lado, a escolha é feita pela personagem, as descrições são realizadas pelo narrador em terceira pessoa. O século XIX é pejado de bons autores franceses, conheci Huysmans tardiamente, porém no tempo certo, mais amadurecido. É um dos livros que mais gosto e para que gosta da literatura francesa, obrigatório.



Paludes, André Gide. Mão boa, cuja lieteraruratem uma força danada. Pequeno romance para ler em uma tarde. A escrita lenta e ao mesmo tempo fluida (longe de algumas chatices do realismo) trás muito mais a sensação do que significa a estrutura de um pensamento filosófico (que de fato há, mesmo que Gide nem o saiba). Parece de fato uma critica/sátira ao mundo simbolista de Paris que Gide frequentava, dos grandes encontros entre literatos e intelectuais num retrato também de discussões modorrentas. Dizem que Gide, em sua vida, e em todas as suas obras esteve a procura de uma verdade interior onde pudesse se igualar à si mesmo; Paludes parece um prenúncio desta busca onde questiona a inércia e a falsa felicidade dos homens (que fecham os olhos para a sua infelicidade e não se movem). Em romances posteriores Gide parece se apoderar mais destes questionamentos ao falar sobre o "ato puro". Paludes é também um exemplo de "reduplicação" na obra artística, já que o personagem-narrador do livro está justamente escrevendo um romance que se chama Paludes e ao citá-lo vez ou outra no livro não sabemos à qual dos dois romances o autor está se referindo. Uma situação parecida ocorre em Os Moedeiros Falsos de Gide em que o personagem também escreve um romance homônimo.

BOM DIA E CAFÉ NA MESA.

Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada na Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
onde bebe vários cafés orgânicos por dia,
e da loja de equipamentos de áudio ORLANDO,
do amigo Orlando Valência.


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