Ilustração de Osvaldo DaCosta
Em 1973, Mimi, O Metalúrgico, de Lina Wertmüller, foi retirado às pressas de cartaz em todo o território nacional. Naquele domingo, eu podia ter visto qualquer outro filme, mas calhou de ser Mimi. Segunda-feira, o professor de história do Ginásio Estadual do Gonzaga estava indignado com a censura. Levantei a mão, pedindo permissão para falar:
“Eu vi esse filme ontem à noite.”
“O quê? Tem certeza?”, alarmou-se o professor.
“Vi, sim! Vi esse filme ontem, no Cine Roxy.”
Perplexo, ele pediu que eu narrasse aos colegas as minhas impressões sobre a obra.
“Ver Mimi foi a maior moleza!”, comecei dizendo: “O porteiro do Cine Roxy nem olhou a minha carteirinha.”
O professor me interrompeu. Em seguida, fez uma preleção insistindo no conteúdo político do filme. Discordei:
“Político? Mimi não tem nada de político! É comédia pura! É um dos filmes mais engraçados que já vi! Tem uma parte em que o Mimi fica furioso ao descobrir que a mulher o traiu e tenta acertá-la com uma faca. Que cena, que cena!”.
Os colegas começaram a rir. O professor pediu silêncio e então propôs:
“Vamos ver a questão por outro lado. Você acha engraçado alguém trair e ser traído? Será que não existe uma simbologia política nisso?”
“O senhor insiste em falar de política porque não viu o filme. Tem uma hora em que o Mimi leva uma gorda imensa para a cama e o bundão dela cobre toda a tela do cinema.”
Mimi. De repente, o herói da classe, em guarda contra o professor de história.
Márcio Calafiori é jornalista.
Nasceu em 1957 e se formou
pela Facos em 1986.
Exerceu quase todos os cargos
em redações de jornais em Santos,
Santo André, Campinas e São Paulo.
Foi redator, repórter, revisor, editor,
secretário de redação,
chefe de reportagem e ombudsman.
Aposentou-se em 2012
como professor da Unisanta,
depois de 29 anos
de dedicação exclusiva
ao Jornalismo Impresso.
Colabora regularmente com
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