Natureza morta
papaya sobre a seda azul deitada
o mexilhão
esconde
sua baba orgástica
e prepara
novas sementes com seus líquens
e espasmos
a cobra acorda ao lado
e quer entrar
na cabeluda toca
que se ensimesma
batem loucas vagas contra a rocha
e engole a seda toda
avermelhada
(mandrágoras suaves
preparadas
por sábios antiquíssimos)
seu coador de falos
papaya sobre a seda azul
se basta
com seus dedos de água
fala
Céu da boca
litúrgico
boquete
a língua cirúrgica na uretra
penetra
veloz cavalo
de corrida
volátil
abocanhada glande
na saliva e gengiva
ogiva
de prazer
e susto
quando jorras
fonte sempre úmida
de amargos
sucos
litúrgico, cirúrgico
boquete
celeste espasmo de estrelas
na boca
em que metes
(Rio, julho de 2017)
Cineasta, roteirista e produtor carioca nascido em 1945, Luiz Carlos Lacerda -- ou Bigode, como é mais conhecido -- é o autor de filmes consagrados como "Leila Diniz" (1987) "For All" (1997) e "Viva Sapato!" (2004). Aos 19 anos, começou a trabalhar como assistente de direção de "Onde a Terra Começa", (1965) de Ruy Santos, mas sua verdadeira escola no cinema foi o set dos filmes de Nelson Pereira dos Santos, de quem foi assistente de direção em diversos filmes, entre eles, "Azyllo Muito Louco" (1969) e "Como Era Gostoso O Meu Francês" (1970). Estreou na direção com uma adaptação do romance de Lúcio Cardoso, "Mãos Vazias" (1971), e seus dois mais recentes trabalhos -- "Introdução À Música do Sangue" e "O Que Sera Da Vida Sem Paixão?" -- também tem relação com a vida e obra do grande escritor carioca. Fez filmes publicitários, produziu seriados e novelas para a Rede Globo, roteirizou e dirigiu cerca de 30 curtas-metragens e vídeos, e foi entre 1992 e 1993 professor da Escuela Internacional de Cine e TV de San Antonio de Los Baños (Cuba). Como poeta, possuí dois livros publicados: "Os Sais da Lembrança" (2013) (Editora Giostri, adquira AQUI) e "Reis da Paus" (Editora Mariposa Cartoneira, adquira AQUI)
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