Wednesday, December 27, 2017

PARA A PARTIDA (FELIZ 2018) (uma crônica de Marcelo Rayel Correggiari)


Não procure, de fato, entender tudo isso diante dos seus olhos.
Apenas entenda que são circunstâncias inevitáveis, quase sempre frutos de nossas próprias permissões.
Porque quando, de início, não se permite que a indignidade seja ‘um norte’, uma disputa alheia jamais te alcançará. Simplesmente, não se sangra, as aberturas coagulam e nada daquilo que partiu no último trem realmente deveria ter ficado.
Entenda que tudo isso não ficaria de jeito algum.
Simplesmente porque tudo isso te põe a pique. De tudo aquilo que te constitui, não seriam essas pessoas o melhor do teu nervo pleno e pacífico, frutífero, amoroso até o último fio-de-cabelo. Entenda: elas seriam protagonistas de trazer à tona o que há de pior em ti.
Não ficariam de modo algum.
Por mais que se quisesse... por mais que fosse pleno o desejo de uma permanência, há de se revolucionar cá dentro para se amar lá fora. Nem que para isso se depare com a queda, com as próprias limitações, com a velha perturbação, amiga de longa data, que habita a mente.
Há de se mexer cá dentro naquilo que precisa ser mexido, mesmo que com muito atraso, para que se viva o júbilo que te espera lá fora.
Não haveria espaço na manutenção de tudo aquilo que te rouba a natureza, a essência. Agir em conformidade do que se gostaria de ter na vida é o início de uma jornada muito solitária, como mostra boa parte das histórias, mas talvez o único caminho para o retorno de todas as transformações para melhor.
Não existe o ser humano “desapegado”: quando algo é muito bom, é natural que nos apeguemos. Tudo aquilo que nos foi muito bom em algum ponto lá atrás tem plena possibilidade de voltar nessa mesma estação dentro de formas totalmente pertinentes com aquilo que queremos, para nos fazer bem... não para repetir todas histórias que nos fizeram tanto mal.
Entenda que não é todo mundo que deseja participar dessa jornada. E entenda que nem todo mundo será permitido quando uma nova viagem se inicia.

Não caia na armadilha de “um novo começo” nada mais ser do que a repetição “do mais da mesma coisa”, esse troço custoso que te acompanha anos a fio. Tenha a sensibilidade de não por em pés sobre o cadafalso desse “tudo o que sempre foi” sem, de fato, definitivamente, mudar a mente e o espírito para gesto em conformidade daquilo que realmente se quer para a própria vida.
Não adianta muito se lançar a certas mudanças sentando-se quase sempre no lado errado da mesa, “hangin’ out with the wrong crowd”, com operações destemperadas e infantilmente previsíveis. A questão não está no “só faço merda”, mas quando você finalmente vai ‘cair em si’ e “... parar de fazer merda”.
O que pode ser um grande início...
E depois de ‘cair em si’, verificar, lá dentro, o que você realmente quer para sua vida: um exército de pessoas que não hesitam em apunhalá-lo(a) sem grandes motivos aparentes ou aquelas duas, três pessoas realmente especialíssimas para você, fiéis até imersas em lava, capazes de te encher de um prazer inenarrável com somente suas simples presenças?!
Não faça de um novo ano a repetição do “tudo o que sempre foi”...
Entenda-se! Busque cura, se for o caso, troque os estímulos traiçoeiros pela perenidade e consistência oriundas da solitude necessária para o retorno do sonho. Sem isso, a revolução não acontecerá.
Chegou o grande dia! Hora de realmente fazer diferente, diferente desse “tudo o que sempre foi”, com essas mesmas pessoas, com esses mesmos lugares, com esses mesmos estímulos, cometendo-se os mesmos erros, um ar pesado e rançoso originário desse grande medo da solidão.
Não combata a solidão! Entenda que ela é a carregadora da plataforma dessa estação que te ajudará a colocar na composição toda essa bagagem que você não precisa mais.
Ainda que isso doa vez e outra, ainda que seja áspera. Porém, é ela que colocará dentro do trem coisas e pessoas que já deviam ter ido embora há tanto.

A máquina apita... a composição deixará a estação. Embarque essas coisas que, como já se viu, não são tuas e tenha consciência do que faz para o retorno desse trem, trazendo coisas muito melhores e retornos de tudo há tanto desejados.

Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO

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