Monday, February 4, 2019

BRUMADINHIO BLUE (um poema de JR Fidalgo)





JR Fidalgo: um jornalista que tem preguiça de perguntar, um escritor que não tem saco pra escrever e um compositor que não sabe tocar. (mas que, mesmo assim, já escreveu três romances e uma quantidade considerável de canções ao longo dos últimos 45 anos)



PORQUE O BRASIL É UM PAÍS PERIFÉRICO (por Marcelo Rayel Correggiari)


Parafraseando a máxima "... o Brasil é um país que me obriga a beber", devo confessar que "... o Brasil é um país que me obriga a escrever".
O país chegou num ponto em que somente o ódio, sem qualquer pauta para melhor vida da população (incluindo, nesses casos, melhores métodos de repartição das riquezas produzidas), se tornou uma espécie de “jogo-de-fundo” (ou prova-de-honra) de um eventual debate nacional.
Raciocinemos "pelo absurdo": um grupo de turistas estrangeiros está hospedado em Inhotim, museu mundialmente conhecido, e vizinho a Brumadinho.
Lá pelas tantas, esse grupo decide visitar a cidade próxima, rica em sua natureza, cultura e artesanato.
No meio do passeio, o grupo é surpreendido (e soterrado) pelo rompimento da barragem de Feijão, como ocorrido na manhã do último dia 25.
Pois bem, caríssimas e caríssimos, segurança não é somente "não ser assaltado na rua". Segurança é algo, para investidores estrangeiros, bem mais abrangente.
Segurança, para estrangeiros, também inclui 'saber se comportar', lisura, um mínimo de polidez, funcionamento básico e adequado das coisas.
Pouco valem os rogos de um chefe de governo & Estado para que "visitem o Brasil" como o ocorrido na terça-feira, 22 de janeiro, em Davos, Suíça. O tal 'investidor estrangeiro' já sabe que o país o qual tal chefe (de governo & Estado) representa "... é um esculacho só!".
O(A) brasileiro(a), ultimamente, meio que virou "dinheirísta" e se esquece que produzir riqueza não é ter a carteira recheada de dinheiro.
A crença do(a) brasileiro(a) no "dinheiro" vem destruindo o mínimo que restaria de sentido de sociedade (local) e de nação.
Um troço!
O(A) brasileiro(a), na média, quando ouve a palavra "Cultura", pensa rapidamente no ator ou atriz da novela, ou no Arte 1. Ele(a) se esquece que cultura = cultivo: o 'cultivo' da segurança, por exemplo, que não se resume a "cidadãos de bem" portarem até quatro armas-de-fogo para se protegerem (e, igualmente, 'seu patrimônio') contra "... o assaltante na rua...".
Para o "investidor estrangeiro", a segurança é uma Cultura. Há de se ter segurança jurídica, nos processos de produção, no trânsito, na exploração de atividade econômica, na prestação de serviços públicos (de forma adequada), nos relacionamentos, nos comportamentos, na forma como se utiliza o idioma pátrio, na manutenção de prédios históricos e civis... tudo isso, para eles, é "Cultura de Segurança".
Mas o que esperar de uma população que, na média, "... não curte Cultura". Se bobear, até a combate, achando que somente a cultura artística é Cultura, quando, para o "investidor estrangeiro" (tão desejado ele, não?!), Cultura é muito, mas muito mais abrangente.
Não precisa ser nenhum(a) "bidu" para saber que quantidades necessárias desse dinheiro não entram em nosso país tão cedo.
O hiato é brutal.
O que esperar da "Cultura de Segurança" se o atual chefe do Executivo nacional (e alguns governadores de estados idem) enxergam tal área como "... um antro dos mais nojentos esquerdistas", "... escola de fazer comunistas", mostrando claramente sua completa falta de embocadura para tal matéria ao rebaixar o MinC como secretaria e agregá-la ao Ministério de Esporte e Cidadania?
É 'idade das trevas', como se diz em Minas, "na tora"! Ninguém põe a cabeça para funcionar e repensar que certo alinhamento com o que o resto do mundo pratica como Cultura é a garantia da entrada "... dos tais investimentos...", esse D. Sebastião que quase todo(a) brasileiro(a) acredita.
Em termos de riqueza, supõe-se que a Libéria seja mais rica que o Brasil. Experimentem morar lá e depois reportem o testemunhado.
Dinheiro não é tudo, pessoal. Sem a Cultura Escolar, a Cultura Jurídica, a Cultura de Segurança, a Cultura de Cidadania, a Cultura Alimentar, a Cultura Habitacional, a Cultura Legislativa, a Cultura Eleitoral, a Cultura Econômica, a Cultura Erudita, sem um bom 'cultivo', seremos homens (e mulheres) do Terciário com conta bancária e bastante dinheiro na carteira (em que pese Homens do Terciário apresentarem certa dificuldade até para abri-la).
Achamos que estamos na frente das Ilhas Tonga. Algo me diz que não. Vamos arregaçar as mangas e transformar nossa mentalidade para melhor (inclusive nos pequenos gestos!) ou vamos continuar se xingando em redes sociais e empurrando para frente nossa esquizofrenia de que "a culpa é do vizinho"?
Como sempre, resultado de uma “nova onda” que, nos dias atuais, ocupam redes sociais e VODs com seus ‘vlogs’ e canais de “Você Tubo”. Muita raiva e gana de tudo, mas quase nenhuma pauta que se mantenha de pé.
O país não possui uma pauta que preste há, por baixo, um quarto de século. A cada ano que passa é só rebaixamento. Lamentamos, mas se a “velha oligarquia política” já não apresentava nada de ‘real valor’, os “novos representantes” muito menos. É só ‘rede social’, ódio, ódio, ódio, ‘xinga, xinga, xinga’... perda de lisura, educação, as pessoas achando normal toda sorte de insultos, ameaças, para arrebentar e aniquilar com a reputação dos outros.
Então, vamos lá: vocês realmente acham que, com esse comportamento político-social, tirarão o Brasil da sua posição periférica?
Vocês realmente acham que algum “investidor estrangeiro” vai empatar capital num lugar somente movido pelo ódio e incapaz de produzir uma pauta que movimente a nação para uma melhoria?
Vocês realmente acham que atacar situação e oposição do jeito que o trem anda acontecendo vai, de fato, melhorar a condição da vida das pessoas?
Vejam o resultado: a quantidade de escárnio sobre os corpos encontrados (além dos que ainda estão soterrados) por parte dos três poderes, nas três esferas. A completa falta de habilidade em lidar com uma situação tão aguda por quem se autointitula “representante eleito pelo voto popular”.
Declarações grotescas, reflexo desse “ataque ao inimigo” e a completa desautorização do cérebro, num momento terrível de um luto brutal sofrido pelas famílias e pela população de um país inteiro.
Proselitísmo rasteiro de catequese vagabunda. Pessoas em dor, mas continuemos o “ataque ao inimigo”. Se uma lagartixa vir a óbito, tome violência, em redes sociais, contra um inimigo que, em breve, será um mero “fantasma ao meio-dia” de tanta alucinação que anda ocupando as mentes de uma militância cada vez mais rançosa (independente do cunho político-ideológico que se tenha).
Que investidor vai queimar capital num país com essa mentalidade, tão periférico ‘na existência’ como esse?!
Horrorizados(as)?! Bem-vindos(as) a um lugar que não está nem aí para a Cultura.
E a recente governança, além de não saber do que se trata, não mostra o menor sinal de reconsiderar conceitos que não sejam “... a fabriquinha de fazer comunistas”, “... doutrinação marxista...”, entre outras aberrações. A Cultura morre porque “... precisamos limpá-la dessas ‘sujeirinhas’...”.
Definitivamente, é ver “fantasmas ao meio-dia”.

Quem costuma ter como mote “não ‘tô’ na vida a passeio” é o(a) que mais passeia na vida. Vive levando baile! Triste ver um lugar que caminha para sua maior miséria por conta de “comandantes” tão bizonhos(as) que não fazem nada além de ter suas carteiras batidas na maior parte do tempo.


Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 47 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É autor de Areias Lunares
(à venda na Disqueria,
Av. Conselheiro Nébias
quase esquina com o Oceano Atlântico)
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO


EDUARDO CAVALCANTI FALA DO SERIAL KILLER MAIS FAMOSO DA HISTÓRIA AMERICANA EM PRÓXIMA PARADA




Eduardo Rubi Cavalcanti
é jornalista desde a década de 80.
Trabalhou em A TRIBUNA de Santos
e em outras publicações.
É Mestre em Comunicação Social
pela Universidade Metodista de São Paulo
e leciona Jornalismo na Unisantos,
onde cursou sua graduação.
Publica domingo sim, domingo não,
em A TRIBUNA de Santos,
a página PRÓXIMA PARADA,
que reproduzimos aqui.



FÁBIO CAMPOS COMENTA "VICE", UM DOS GRANDES FILMES DESTE ANO



Você iria ao cinema assistir por pouco mais de duas horas a biografia de Michel Temer, mesmo que não fosse algo chapa branca?
Tentando contextualizar para a realidade brasileira, é mais ou menos isso que o diretor Adam McKay se propõe a fazer com a biografia de Dick Cheney, o vice-presidente dos EUA nos anos George W. Bush.
Assim como Temer, Cheney é um político de carreira, sempre trabalhou nos bastidores, nunca teve um grande eleitorado, conhecia os meandros da política como ninguém, mas, ao contrário de Temer, não tinha um impeachment como fato relevante que pudesse sustentar o filme.


Colocar isso num filme que fosse razoavelmente interessante já seria uma tarefa difícil, mas não para McKay, que anteriormente já havia conseguido transformar a crise dos sub-primes, que desencadeou a crise financeira de 2008, num thriller interessantíssimo, no ótimo A Grande Aposta, de 2015.
O diretor e roteirista recorre às mesmas ferramentas inusitadas do filme anterior, quando usou Margot Robbie numa banheira de espuma e Anthony Bourdain, entre outros, para explicar detalhes do mercado financeiro, que poderia deixar o filme monótono.
Aqui, novamente, ele usa esses mecanismos inusitados para reviver toda a trajetória de Cheney, vivido brilhantemente por Christian Bale, desde o aluno beberrão da faculdade até o dia a dia como o vice-presidente mais poderoso da história dos EUA.
Entre as ferramentas, filme utiliza um narrador surpreendente, que só é revelado no final, quebra com frequência a quarta parede e mantém num humor debochado, quase anárquico que se contrapõe ao ambiente sisudo da política.
Quase tudo que já havia sido utilizado em A Grande Aposta, o que perde um pouco em originalidade, mas não compromete o filme, entregando, ainda assim, algo bastante original.
A guinada de beberrão para político influente se dá através da esposa, Lynne Cheney, Amy Adams em mais uma atuação magistral – já passou da hora de dar um Oscar pra essa mulher –, que possuía muito mais virtudes políticas que o marido mas, sabia das limitações de uma mulher no mundo da política de 40 anos atrás, se contentando em ser a articuladora da carreira do marido.
Dick tem como mentor o ex-secretário de defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, vivido por Steve Carell também ótimo, e vai ascendendo na carreira com o seu auxilio e orientação, mesmo que em algum momento seja necessário sacrificar a própria família, algo relativamente comum entre políticos.
Na parceria com George W. Bush se dá o ápice da carreira, que parecia já ter atingido o ápice – nunca um vice-presidente americano teve tanto poder e isso fica muito claro no filme, juntamente com as manobras para favorecer amigos, algo tão comum por aqui também.


O filme tem uma um roteiro muito bem costurado, uma montagem dinâmica, que faz com que o filme nunca canse, uma direção segura e um elenco afinadíssimo – se houvesse Oscar para cast seria uma babada –, Sam RockWell como George W. Buch está divertidíssimo e até o careteiro Tyler Perry está muito bem como o general Colin Powell.
Em época de queda de audiência, seria uma boa aposta para o Oscar de melhor filme, se o Oscar realmente quisesse dar uma guinada na previsibilidade da premiação, trazendo algum frescor ao prêmio. Mas, acredito que, mais uma vez, vencedor vai ser um daqueles filmes “com cara de Oscar”, que tanto tem contribuído para a previsibilidade e o desinteresse ao prêmio, especialmente entre as novas gerações.
Qualquer um com um mínimo de interesse em política provavelmente vai se divertir bastante no filme. Recomendadíssimo, já está entre os melhores do ano que mal começou.

VICE
(Vice 2018)

Diretor
Adam McKay

Escritor
Adam McKay

Elenco
Christian Bale
Amy Adams
Steve Carell
Sam Rockwell
Jesse Plemons

Duração
2h 12m



Fábio Campos convive com filmes e música
desde que nasceu, 52 anos atrás.
Seus textos sobre cinema passam ao largo
do vício da objetividade que norteia
a imensa maioria dos resenhistas.
Fábio é colaborador contumaz
de LEVA UM CASAQUINHO.








AS 10 PIORES MÚSICAS DE TODOS OS TEMPOS (por Germano Quaresma)



1) Dia Branco: onze de cada dez amigas minhas casaram ao som dessa coisa. Das nove que separaro, todas odeia. A que ficou casada só lembra no dia da colonoscopia.

2) Espanhola: música pra ouvir se masturbando com duas bexigas de silicone e tomando uma batida de morango azedo com vinho San Tomé.

3) Pra num dizer que num falei das flor (com Simone): tentativa bem sucedida de formar gerações de empedernidos direitistas, por ódio aos hinos da esquerda.

4) Imagine: hino de amor piegas pra mulher que acabou com todo o sonho, deixando só pão de cará e broa.

5) Entonce é Natal: mix de tudo que há de ruim no mundo, Simone e Joleno. Só para fortes.

6) Qualquer uma do Legião.

7) Qualquer uma do Lulu.

8) Qualquer uma do RPM.

9) Qualquer uma do Capital Inicial.

10) Ultraje.



  1. Germano Quaresma, ou Manoel Herzog,
    nasceu em Santos, São Paulo, em 1964.
    Criado na cidade de Cubatão,
    trabalhou na indústria química
    e formou-se em Direito.
    Estreou na literatura em 1987
    com os poemas de Brincadeira Surrealista.
    É autor dos romances
    A Jaca do Cemitério É Mais Doce (2017),
    Dec(ad)ência (2016), O Evangelista (2015)
    Companhia Brasileira de Alquimia (2013),
    além dos livros de poemas
    6 Sonetos D’amor em Branco e Preto (2016)
    A Comédia de Alissia Bloom (2014).
    Este é seu mais recente trabalho publicado: 



DECÁLOGO DO ESCRITOR (por Flávio Viegas Amoreira)



DECÁLOGO DO ESCRITOR


#1 Nunca trate a literatura como hobby

#2 Não busque a glória sacrificando o estilo

#3 Leia tudo e se auxilie em outras artes. Arte nasce da Arte

#4 Literatura é intuição e intelecção

#5 Anote tudo, esboce, aglutine ou suprima. O Texto te habita em virtualidade

#6 O poema, conto ou romance precedem e sucedem ao teu insight. Não force o texto, mas nunca o largue

#7 Teu livro, tua obra prima estão em toda parte, mas só você pode encontrar. Tudo é impenetrável e intransferível antes que posto em estado de palavra

#8 Praticar poemas antes de sentir se poeta

#9 Conviver com escritores, criar seu universo literário fraterno

#10 Todo dia uma página


"O poema é antes de tudo um inutensílio"
(Manoel de Barros)


"É mais fácil produzir poesia do que conhecê-la"
(Montaigne)


Fazer dos gregos = poiesis
O arar dos romanos = versus


"A poesia é uma religião sem esperança"
(Jean Cocteau)


"A poesia é um espírito que procura carne, mas que encontra palavras"
(Joseph Brodsky)


Poeta, contista e crítico literário,
Flávio Viegas Amoreira é das mais inventivas
vozes da Nova Literatura Brasileira
surgidas na virada do século: a ‘’Geração 00’’.
Utiliza forte experimentação formal
e inovação de conteúdos, alternando
gêneros diversos em sintaxe fragmentada.
Participante de movimentos culturais
e de fomento à leitura, é autor de livros como
Maralto (2002), A Biblioteca Submergida (2003),
Contogramas (2004) e Escorbuto, Cantos da Costa (2005).
Este é seu mais recente trabalho publicado: