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Tuesday, April 5, 2016

AARRGH, ATORES... (por Odorico Azeitona)




Alan Rickman, ator e diretor inglês recentemente falecido, costumava definir sua categoria profissional como "criaturas insuportáveis que conseguem passar o dia inteiro falando de si próprios sem parar".

Alfred Hitchcock, por sua vez, dizia que "atores são gado", e que, por mais talentosos que sejam, não conseguem ir muito longe sem um bom diretor a guiar seus passos.

Já Paulo Francis defendia a tese de que um grande ator não pode ser muito inteligente, pois só consegue se expressar artisticamente de forma plena se tiver uma certa "leveza intelectual" que permita a incorporação de personagens. Citava Peter Sellers como exemplo de ator genial com cabeça absolutamente oca.

Concorde ou não com essas opiniões, é inegável que, por ingenuidade ou por oportunismo, é extremamente comum ver atores tomados pela vaidade pessoal falando mais do que devem e se envolvendo em assuntos que desconhecem.

Política, por exemplo.

Quase sempre, esses atores tagarelas pagam um preço muito alto por falar mais do que devem.

E mesmo assim não parecem aprender com os erros cometidos por colegas de profissão no passado.

Seguem repetindo sempre o mesmo equívoco.




Lembro que no início dos Anos 1980, o excelente ator Edward Asner era campeão de audiência na NBC-TV com a série sobre jornalismo investigativo "Lou Grant".

Paralelo a isso, Asner era também presidente do Sindicato dos Atores de Hollywood.

Quando o então presidente Ronald Reagan enviou ajuda financeira para os contra-revolucionários que queriam derrubar os Sandinistas que tinham acabado de chegar ao poder na Nicarágua, o esquerdista Asner tratou de fazer uma vaquinha entre os atores em represália a Reagan e conseguiu levantar e enviar nada menos que um milhão de dólares para os Sandinistas.

Imediatamente após isso, "Lou Grant" foi misteriosamente tirada do ar na NBC de uma semana para outra e Asner nunca mais foi escalado para protagonizar outra série desde então.



George C Scott passou por uma situação semelhante depois de recusar o Oscar duas vezes: primeiro por "Desafio à Corrupção" (1962) de Robert Rossen e pela segunda vez por "Patton" (1970) de Franklin J. Schaffner.

Republicano de carteirinha e totalmente avesso às futricagens de Los Angeles, Scott nunca simpatizou com o liberalismo democrata da Academia de Artes e Ciências de Hollywood.

Trabalhava como ator em filmes de Hollywood, mas os esnobava, sempre afirmando gostar mesmo é de fazer teatro.

No entanto, quando queimou o filme em Hollywood e deixou de ser chamado para fazer cinema, ao invés de ir para o teatro foi fazer filmes para a TV.

Vai entender...



Atores são bichos muito esquisitos.

Vivem em outro mundo, e se acham parte de um Olimpo de formadores de opinião.

Acabam aprendendo da pior maneira possível que uma pequena fala mal colocada pode lhes custar muito caro.

Lembram do inferno que virou a vida de Claudia Raia e Marília Pera depois de se aproximarem de Fernando Collor?

E da crucificação pública a que Regina Duarte foi submetida por não recomendar Lula?

Desde então, todas as três passaram a tomar muito cuidado com tudo o que dizem, bancando assessores de imprensa a peso de ouro para conseguir ter algum controle sobre o que é publicado sobre elas por aí.



Mas não adianta: os atores mais jovens parecem não estar nem aí para isso, e continuam caindo feito patinhos na mesma velha armadilha sempre que decidem -- sem necessidade, é bom frisar -- tomar posição em questões políticas num momento polarizadíssimo como o atual.

De que outra maneira poderíamos explicar as atitudes recentes de pessoas aparentemente sensatas como Fernanda Torres, Claudio Botelho, Letícia Sabatella, Monica Iozzi e Wagner Moura?


De qualquer maneira, é importante frisar que existe um abismo entre as atitudes ingênuas desses atores e atrizes mencionados acima e o maucaratismo explícito de certos outros.


Para quem não sabe, na última semana, a escrotíssimo ator José de Abreu decidiu investir contra a memória do jornalista Sandro Vaia, ex-diretor de redação do ESTADÃO e do Jornal da Tarde, recém-falecido.

Com a canalhice e a truculência que lhe são peculiares, o ator escreveu em seu perfil no Twitter:




Sandro Vaia, para quem não sabe, foi um dos jornalistas mais respeitados de sua geração.

Um democrata, defensor incansável dos valores republicanos, querido por todos os seus colegas de trabalho.

As 23 palavras que José de Abreu escreveu escreveu sobre ele geraram como resposta uma única interjeição da filha de Vaia, Giuliana, horrorizada com tamanha descompostura.

Não satisfeito, José de Abreu ainda a provocou, afirmando que “a morte não purifica as pessoas, jamais o perdoarei pelo comportamento na ditadura”.

Essa ninguém entendeu.

Todos os colegas de redação de Vaia nos Anos de Chumbo se lembram de um jornalista altivo e honrado que ia além da defesa da restauração da democracia em seu ofício para ajudar pessoas que se encontravam na clandestinidade, isso nos tempos em que Vaia editava o Jornal da Tarde.

Em defesa de Sérgio Vaia contra seu detrator, restaram as palavras da doce Giuliana Vaia, jornalista como o pai, em uma terna carta aberta destinada a José de Abreu, onde declara:

“Se é como você me disse ‘a morte não purifica a pessoa’, pois então vamos esperar sua próxima vida. Quem sabe deus te presenteie com um coração. Sabe, nem to pedindo pra respeitar a memória do meu pai, porque sei que você não alcançaria tamanha iluminação, mas seria polido da sua parte respeitar o luto da família ao menos”.

O desfecho dessa história foi tão patético quanto a atitude do detrator Zé de Abreu, que, covardemente, depois da repercussão extremamente negativa de suas palavras, cancelou sua conta no Twitter para fugir de ter que dar explicações sobre sua atitude destemperada.




Sendo assim, a essa altura do campeonato, com todo mundo "à flor da pele" por conta dessa polarização política que ainda há de servir para que este país amadeureça, peço que escutem o que este velho jornalista aqui tem para dizer:

Sejam tolerantes com as pessoas, sejam elas de que lado for, pois as pessoas erram, cometem equívocos, e vivem se posicionando mal aqui e acolá.

Para todas elas sempre há de haver respeito e algum tipo de perdão. 

Já para canalhas incorrigíveis como José de Abreu, aí não: para ele, tolerância zero -- e um lugar garantido no lixão da história.






Odorico Azeitona só escreve sua coluna
ouvindo rock and roll bem alto
em sua caixinha JBL acoplada a seu laptop.
É figurinha fácil toda quarta-feira
em LEVA UM CASAQUINHO




Tuesday, November 10, 2015

HECTOR BABENCO FALA SOBRE "O REI DA NOITE" (Em cartaz hoje no Cineclube Pagu 19h)


O que você fazia antes de realizar "O Rei da Noite"? 

Na época eu morava em São Paulo e tentava viver de fazer documentários tipo Jean Manzon. Eu não sabia nada de cinema. Fui fazer, por exemplo, um documentário sobre a cidade de São Paulo, encomendado pela Prefeitura. Era pouco antes do Natal, a rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, estava toda iluminada e decorada. O diretor de fotografia Peter Overbeck me perguntou que lente eu queria que ele pusesse na câmera. Eu respondi: "Por quê? Você tem mais de uma?". Por aí você vê como eu não sabia nada. Quando resolvi fazer o longa -- que viabilizei com a ajuda de minha ex-mulher, Raquel Arnaud, do amigo Paulo Francini e da José Pinto Produções --, eu não tinha experiência nenhuma, nunca tinha lido um livro de cinema, não tinha sido assistente, não sabia como se filmava.



Como surgiu a idéia do filme?

A idéia do filme surgiu lendo um pouco Oswald de Andrade, vendo um pouco a evolução da cidade de São Paulo. Fui vendedor na cidade durante dois anos, conhecia muito bem, de andar a pé, o centro velho de São Paulo e me interessei por aquelas figuras decadentes, que eram os homens-sanduíche, os pequenos estafetas de escritório, os que viviam de pequenas tarefas no calçadão do centro. Homens idosos, de 70 anos. Interessou-me fazer um paradigma de que cidade era aquela, que havia chegado à modernidade naquela época, início dos anos 70, por meio de um homem que tivesse tido um berço esplêndido, que tivesse passado por uma educação de alta burguesia, depois tivesse caído na boêmia e depois visse o sonho de ser o rei da noite sucumbir com o casamento. Na época eu lia muito o Dalton Trevisan. A segunda parte do filme é muito influenciada pela coisa azeda, cruel, das relações conjugais do Dalton Trevisan. Decidi fazer um filme que fosse um aprendizado para mim, meu primário e meu ginásio, e ao mesmo tempo queria chegar ao público. Por isso escolhi uma linguagem totalmente melodramática, que trazia das radionovelas e do cinema melodramático argentino. Escrevi o roteiro com Orlando Senna.



Como foi sua relação de cineasta estreante com o elenco, que já era tarimbado?

Eu tinha conhecido o Paulo José e o convidei. Ele gostou do papel. Sou grato a ele até hoje por ter confiado num iniciante. Ele me deu credibilidade para ir até a Marília Pêra. Ela adorou a idéia de cantar um tango. Aí fui por várias noites ver um espetáculo circense em que a Vic Militello trabalhava. Eu sentava na primeira fila. No dia em que fui convidá-la para fazer o filme, ela se decepcionou muito: achava que eu ia vê-la por estar apaixonado. A Marília Pêra, quando acabaram as filmagens, disse para mim: "Você está muito aquém do que eu esperava de um diretor. Você é muito jovem e ainda não sabe dirigir ator". Ela me passou um sabão muito elegante. Eu não tinha como responder. Só disse: "Na próxima vez, quem sabe a gente faz um trabalho melhor". Ela respondeu: "É tudo o que eu espero". E aí a gente fez "Pixote". O Paulo José, por sua vez, foi uma figura capital. O filme todo era dublado, e foi ele que dirigiu os atores na dublagem. 



O diretor de fotografia Lauro Escorel, que depois seria seu parceiro frequente, também deve ter ajudado bastante.

Tão importante quanto o Lauro, ou até mais, foi a descoberta do Jorge Durán, rapaz chileno que tinha sido continuísta de "O Casamento", do Arnaldo Jabor, e que no Chile tinha sido assistente de direção do Costa-Gavras em "Estado de Sítio". A função dele no filme era fazer tudo o que eu não sabia fazer. Com ele fiz também "Lúcio Flávio". Foi ele realmente quem me ensinou a filmar.



Como "O Rei da Noite" foi recebido?

De público foi um sucesso razoável, foi lançado com 10 ou 12 cópias, e acabou se pagando. O pessoal do cinema novo ficou extremamente hostil. Eu me lembro que, quando mostrei o filme no MAM [Museu de Arte Moderna] do Rio, numa jornada de cinema, teve gente que quis me dar porrada. Acharam que era um filme comercial, indigno.



Como você vê hoje o filme?

Foi o filme que me deu a certeza de que eu era capaz de fazer cinema. O grande saldo, para mim, foi esse. Você não sabe da sua masculinidade até transar pela primeira vez. "O Rei da Noite" representou para mim a certeza de que eu era capaz. Ele não me envergonha em nada. As pessoas viram, gostaram, ele gerou polêmica. Acho que com ele entrei no cinema brasileiro com o pé direito.

(entrevista concedida para o Caderno Mais da FOLHA em 03 de Agosto de 2003)



O REI DA NOITE
(1975, 97 minutos)

Direção
Hector Babenco

Assistente de Direção
Jorge Durán 

Roteiro
Hector Babenco
Orlando Senna

Fotografia
Lauro Escorel

Elenco
Paulo José
Marília Pera
Cristina Pereira
Isadora de Farias
Vicky Militello
Márcia Real
Yara Amaral





Quarta - 10 de Novembro - 19 horas
OFICINA CULTURAL PAGU
Rua Espírito Santo, 17 
quase esquina com Av. Ana Costa
Campo Grande, Santos SP
Telefone: (13) 3219-2036

Ao final da exibição,
 um breve debate com os curadores
 do Cineclube Pagu:
 Carlos Cirne e Marcelo Pestana