Friday, March 9, 2018

DENISE MARINO ASSISTIU "PANTERA NEGRA" E COMENTA



Não entendo muito de gibis e nem da transposição de seus heróis para as telas do cinema. Mas, pelo pouco que sei, creio que se pode dizer que Pantera Negra é um clássico. Todos os clichês estão lá: batalhas estrambólicas, explosões, raios destruidores, efeitos especiais e os super poderes dos que querem proteger o mundo contra os que querem dominá-lo.

Logo de início e do alto da minha pouca experiência chamou a atenção a referência à lenda do reino perdido de Atlântida.

Ao menos, foi assim que Wakanda me pareceu: uma civilização superior, erigida com base no conhecimento e enriquecida pela exploração de um metal especial, o vibranium que, tal como o oricalco – o metal da montanha, mais brilhante do que o ouro – dava uma aparência especial aos artefatos de Atlântida.

_ Sim, eu sei que Atlântida era uma ilha e que Wakanda, ao contrário, fica no coração do continente africano. Também sei que os super heróis de Atlântida são os aquáticos Namor (da própria Marvel) e o Aquaman da (DC Comics).

Mas, não estou pensando na geografia e nem na Atlântida da antiguidade, descrita nas obras de Platão, a rica e poderosa ilha que teria sucumbido por um cataclismo, provocado ou não – não se sabe – pela ira dos deuses.

Penso na Atlântida que ressurgiu na mente do homem moderno que enfrentou os oceanos de Poseidon e navegou pelo planeta. O homem que inventou o capitalismo e o conceito de civilização.

É exatamente como modelo de “civilização” que a antiga Atlântida ressurge, com nomes diferentes e, também em diferentes enredos. Uma civilização contemporânea e paralela, oculta do nosso mundo, às vezes pelas águas do mar, pelas areias do deserto, por gigantescas montanhas ou pela neblina dos lagos. A sociedade perfeita, onde as pessoas são felizes, todos tem o seu lugar numa economia próspera e produtiva; os governantes são sérios e dedicados ao bem comum; as leis são rígidas e respeitadas e, em geral, baseadas em antigas tradições; o novo e antigo convivem em harmonia nessa sociedade baseada no conhecimento e na razão.

Foi assim que vi Wakanda. Uma espécie de sonho comum.

Todo sonho um dia chega ao fim e ele está, geralmente, relacionado ao contato da civilização perfeita e avançada com a sociedade humana.

Os mais pessimistas ou moralistas relembram o fim da lendária Atlântida de Platão: os atlantes eram descendentes de Poseidon e da humana Cleitó. Um dia, a natureza humana começou a prevalecer sobre a divina e instalou-se a corrupção e a arrogância. A ilha quis dominar o mundo ao redor, provocando a ira dos deuses e dos outros homens.

Os autores do Pantera Negra parecem conhecer esse final e o recriaram. Claro que eu não vou contar.

Mesmo porque, o final não é a única cereja do bolo nesse filme que traz, ainda, uma importante discussão sobre os heróis e os líderes. O filme utiliza o arquétipo mítico do herói presente nas mais diversas culturas humanas em todos os tempos: o herói é aquele que sacrifica seus interesses particulares ou pessoais em prol da comunidade.

Em contrapartida, o vilão é egoísta, embora ele não seja ontologicamente mal. Sua vilania se prende a um desejo de vingança, em geral, provocada por uma perda na infância.

Como ele não ama, quer dominar. É o que dizem os mitos antigos produzidos em várias línguas, por povos de diferentes cores.

Falando em cores, chegamos a verdadeira cereja do bolo do filme. Pantera Negra é um excelente filme de super herói que explora os conhecimentos sobre mitologia com ação e emoção suficientes. Poderia ser um filme de brancos. Mas é um filme de negros. De negros que querem marcar o seu lugar numa sociedade de brancos. De negros que querem viver em igualdade num mundo de brancos.

Um mundo que pode ser mais colorido se reconhecer a beleza da arte, dos corpos ou da música e da cultura que vem dos negros. Tudo isso aparece no filme em meio às lutas estrambólicas.

Foi muito emocionante assistir ao filme Pantera Negra num cinema lotado de negros orgulhosos.

Ao meu lado, uma menina negra acompanhada pela mãe, pulou da frente da cadeira assim que as luzes se apagaram – a tela enorme na sala escura é sempre mágica.

Lá pelas tantas...ainda passavam os trailers, ela viu a menina num desenho e gritou:

_ “Mãe, olha! As tranças iguais as minhas!”

Fiquei imaginando o que ela sentiria depois que o filme começasse, ao ver a rainha, a princesa e as heroínas, todas parecidas com ela.

Esse final, eu também não vou contar.




Meu nome é Denise Mattos Marino,
mas fui sintetizada: Denise Marino
ou, simplesmente, Dê,
acompanhada ou não do Marino.
Sou historiadora e professora de história.
Atualmente aposentada – fui mais rápida
que a reforma. Mas ainda levo
para os meus aposentos a curiosidade,
o “só sei que nada sei”
e a vontade de ensinar.

Ah! Sou libriana.


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