“Três Anúncios
Para um Crime” era, desde o início, o meu favorito ao Oscar no último domingo. Mereceu cada Oscar que ganhou. Mas ganhou menos estatuetas do que merecia. Acho
o filme muito mais impactante que “A Forma da Água” – que é muito bem
executado, mas carece de originalidade, justamente um dos pontos forte de
Guilhermo Del Toro. Vê-lo premiado justamente por esse filme não deixa de ser
algo irônico.
Em “Três
Anúncios”, Mildred -- a sempre excelente Frances McDormand, vencedora do Oscar de Melhor Atriz deste ano –-, inconformada com o estupro e assassinato da
filha, resolve alugar três outdoors numa estrada secundaria que passa pela
cidade fictícia de Ebbing, no Missouri, para questionar o trabalho da policia
quanto à investigação do crime, que permanece sem solução. Isso vira o estopim
que desencadeia uma série de eventos que sacodem a pequena cidade.
Mildred nunca se
coloca como a pobre mãe que perdeu a filha. Ao contrário, é uma figura
desagradável, amarga, cheia de culpa, que transforma a busca do assassino da
filha num motivo pra continuar vivendo. Como antagonista, temos o xerife
Willoughby -- o também ótimo Woody Harrelson -- e sua equipe de policiais de
cidade de interior que beira o patético. O melhor representante é o policial
Dixon -- deliciosamente interpretado por San Rockwell, vencedor do Oscar de Melhor
Ator Coadjuvante.
Apesar do
racismo, machismo, violência desmedida, e todo o tipo de trapalhadas,
Willoughby é um sujeito querido pela comunidade e tem algum bom senso, não pode
simplesmente arrastar todo habitante da cidade e quem mais passar por lá para
recolher uma mostra de DNA e compará-la com a achada no corpo da vitima, já que
não houve uma correspondência com o banco nacional de DNA. Além disso, o Xerife
também enfrenta problemas pessoais, que acabam atraindo ainda mais a simpatia
dos habitantes.
Li alguns
comparando as situações do filme com o ódio despertado pela eleição do Trump
nos EUA. Não concordo. O que é mostrado no filme sempre esteve lá, encoberto
sob uma certa tranquilidade. Quando um fato desequilibra essa aparente
tranquilidade as tensões vêm à tona.
Os dois filmes
anteriores de McDonagh -- o muito elogiado “Na Mira do Chefe” e o não tão
elogiado “Sete Psicopatas e um Shih Tzu” -- eram particularmente focados
no humor negro. Não é diferente aqui. Ao longo do filme, é possível ir de
gargalhadas às lagrimas em alguns minutos.
As fragilidades,
o ódio, a estupidez dos personagens, somados às excelentes interpretações,
conferem uma enorme humanidade aos personagens. Respeitando-se as proporções,
não é difícil se identificar com as situações onde eles perdem totalmente a
razão, cegados pela emoção. Há tempos não via um filme com personagens tão
humanos -- e humanos fazem merda pra cacete, mas também são capazes de
encontros improváveis e momentos de altruísmo inesperados. A mistura disso tudo
foi o que mais me encantou no filme.
Apesar de alguns
não concordarem, acho o roteiro excelente, imprevisível e nada panfletário
quando toca em assuntos como machismo, racismo, intolerância, algo cada vez
mais difícil hoje em dia.
Foi o filme que mais me impactou no ano. Recomendo fortemente -- mesmo que você discorde totalmente de mim -- pois não há como negar o conjunto magnifico de interpretações -- que, por si só, já vale o ingresso.
Foi o filme que mais me impactou no ano. Recomendo fortemente -- mesmo que você discorde totalmente de mim -- pois não há como negar o conjunto magnifico de interpretações -- que, por si só, já vale o ingresso.
TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME
(Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, 2017, 115 minutos)
Roteiro e Direção
Michael McDonagh
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