Falta de
coragem, também.
Na última
segunda, esse combalido merceeiro fazia seu costumeiro itinerário entre um
serviço e outro quando se deparou com uma manifestação inusitada, tocante...
quem sabe, apaixonada.
Momento difícil,
esse, de um processo que apenas começou. Após testemunhar ao longe, pela quarta
vez, alvo coche de grande memória e infinita saudade em seu enfrentamento do
pesado trânsito das 19:30h, deparar-se com declarações de amor ‘na pele da
cidade’ era, no mínimo, a garantia de que essa semana prometia.
Colocar uma
Mercearia em reforma, às vezes, soa como ato de bravura. Em algum ponto, não se
pode mais continuar com as antigas instalações. Diríamos que as ocorrências
desses desconfortos são naturais dentro de um processo de ‘significant
makeover’.
De qualquer
forma, é um processo delicado: bateu saudade... muita saudade.
Enfim... um dia
de cada vez.
Parafraseando
Oscar Wilde (16 de outubro de 1854, em Westland Row, Dublin, República da
Irlanda – 30 de novembro de 1900, Paris, França), pouca coragem é uma coisa
perigosa. Se em excesso pode ser fatal, o encontro com a sagacidade de alguém
capaz de executar certa intrepidez pelo ‘caminho do meio’, do ‘equilíbrio’,
será sempre um momento de enorme deleite.
Num curto
itinerário em ‘zig-zag’ pela Comendador Martins, a partir da Guedes Coelho, Dr.
Olyntho Rodrigues Dantas e virando à direita na Júlio Conceição até Carvalho de
Mendonça, um grafite no chão e calçadas do caminho dizendo ‘alto & claro’:
“Eu te amo!”.
“Você sabe!”.
Esse quase
distraído merceeiro havia percebido as declarações durante semanas, mas somente
as do trecho da Júlio Conceição. Na segunda, talvez pelo impacto do prévio
testemunho e do consequente sentimento de saudade, reparei que as declarações
vinham desde a Guedes Coelho.
Elas se
distribuem numa espécie de itinerário, um caminho que, pelo jeito, é feito
pelo(a) tal de ‘Sak’. Por onde ele(a) eventualmente passa, é “Eu te amo” para
tudo quanto é lado.
Nem sempre as
declarações de amor são bem-vindas: tudo, às vezes, depende do
estado-de-espírito (ou momentâneas faculdades mentais) de quem as recebe.
Aquele lance: a fase do(a) destinatário(a) é a das piores, um monte de coisas a
serem transformadas (para melhor!), nem sempre a semente cai em boa terra.
Declarações de
amor são sempre um gesto de enorme risco: nem sempre o que se sente por alguém
possui plena correspondência. Contudo, como consta na capa de “Desaforismos
& Tramas de Metrô” , de autoria do titular da coluna “Crônicas de um
Iconoclasta”, igualmente publicada hoje nessa renomada revista eletrônica, “...
Amar é um risco bom”: nada pode dar tamanho elã à existência do que um
sentimento de amor que possa ter por alguém.
Quando há
correspondência, leveza. Quando não, paciência.
Acontece em
quase 95% dos casos...
Declarações de
amor não são gestos extremos: em algum ponto, a pessoa amada precisa saber o
que se passa no coração de alguém que quase perde o ar ao vê-la. Longe de
extremismos, são gestos de profuso afeto: o intuito de uma declaração dessa
natureza é evitar entendimentos equivocados de que tal nobre sentimento é
‘terra-de-ninguém’. Ao contrário: há de se ter enorme cuidado e carinho para
uma análise profunda e completa de como lidar com espinhosas situações nos
casos de ‘não-correspondência’.
Isso, claro,
quando a pessoa amada não se apercebe (ou não consegue se aperceber, por
inúmeros motivos) do tipo de sentimento capaz de deflagrar. Pelo que parece,
deve ser o caso de Sak.
Nesses casos,
vale a máxima da música “Eu Preciso Dizer que te Amo”: “(...) te ganhar ou
perder sem engano (...)”. Num primeiro instante, parece ‘pé-na-cara’... #sqn: a
pessoa amada, no caso de não-correspondência, precisa saber lidar melhor com o
cenário e certas si-tuações advindas dessa ‘nova ordem’ que envolve o nobre
sentimento de alguém.
Quem sabe, sob
uma reflexão mais calma e sensata sobre tal ocorrência, não considerar, pelo menos,
a hipótese de ‘uma chance’.
Vai que...
Para isso,
‘colhões’ & ‘ovários’ para gestos afetuosos, mas não ‘extremos’, de
declarações de amor como os encontrados na Encruzilhada.
Como no clássico
trecho de “Grande Sertão: Veredas”: “(...) O correr da vida embrulha tudo. A
vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois
desinquieta. O que ela quer da gente é coragem (...)”.
Não sabemos quem
é Sak, ou por qual motivo (se é que há um!) desperta tanta paixão. Pensamos que
ele(a) “sabe!”. Resignamo-nos a essa corrosível curiosidade.
Com as citadas
ocorrências de um lacônico início de noite de uma segunda-feira, restou a esse
merceeiro apenas o início de uma semana recheada de saudade.
Sim! Muita
saudade.
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
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