Sunday, March 4, 2018

POESIA POSSÍVEL - ARMANDO FREITAS FILHO #4


MADEMOISELLE FURTA-COR



Eu conheço o seu começo:

ponto e novelo,

meada de mel e langor

de lentos elos

que a minha língua lambe

no calor despido,

no meio das suas pernas:

anéis de cabelos,

anelos e nós se desmancham

em nada ou nódoa

por todo o lençol do corpo

nu e amarrotado:

nós aqui somos todos laços

e nos rasgamos

devagar – poro por poro;

rumor de sedas

ou de uma pele toda feita

de suor e suspiro:

eu soluço a cada susto seu

que nos dissolve.


Armando Freitas Filho nasceu na cidade
do Rio de Janeiro em 1940.
Jornalista de profissão, começou a escrever
poesia a sério em 1960.
Trabalhou com Estudos e Pesquisas Literárias
no MEC e na FUNARTE entre 1974 e 1994.
Modernista fortemente influenciado por
Bandeira, Drummond e João Cabral,
Armando faz versos repletos de imagens impactantes.
Segue ativo publicando uma nova coleção
de poemas a cada 3 anos.
Em 1986 recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia
por seu livro "3x4",
mas sua obra-prima indiscutível é "Lar,"
publicado pela Companhia das Letras
e grande vencedor do Prêmio
Portugal Telecom de Literatura de 2011.
Seus poemas escritos entre 1960 e 2000
estão reunidos num volume indispensável
intitulado "Máquina de Escrever",
publicado em 2003 pela Nova Fronteira.



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