No
ano em que completaria 110 primaveras, uma das mais importantes atrizes do país
nos dá o prazer dessa entrevista pra lá de divertida e politicamente incorreta.
Com vocês, Dolores Gonçalves Costa, a nossa queridíssima Dercy Gonçalves.
BJ
– Dercy, você foi reconhecida pelo Guinness Book como a atriz com o maior tempo
de carreira no mundo inteiro, com 86 anos de circo, teatro, televisão e cinema.
DG
– Que caralho de livro é esse aí… esse tal de guinis? É aquele dos recordes?
BJ
– Esse mesmo.
DG
– Porra, ninguém me contou isso. Eu teria comemorado tomando uma cachacinha.
BJ
– Você teve uma infância muito simples. Sua mãe foi embora de casa e deixou
você e mais 6 filhos quando descobriu que o seu pai era infiel. E vocês todos
foram criados pelo pai que era alcoólatra. Isso chegou a ter algum tipo de
influência na sua vida?
DG
– Claro, né… você vê que putaria na minha vida já é uma coisa que vem de berço
(gargalhada). Pois é, mas é verdade mesmo. Eu roí um osso danado nessa época. E
eu ainda era criança. Meu pai enchia os cornos de cachaça e soltava porrada pra
tudo que é lado. Em quem pegasse.. pegou. Ele era alfaiate. Mas o que ele
gostava mesmo era de enfiar a tesoura em outras roupas. Ele tinha outra quenga
aí não sei aonde. O safado adorava uma puta. Mas foi uma época muito difícil
mesmo. Aí, quando eu fiz 17 anos eu fugi de casa pra Macaé, no Rio, embaixo do
vagão de um trem.
BJ
– Dizem que você foi violentada pelo seu primeiro namorado. Isso é verdade?
DG
– Mais ou menos, né. Na verdade, eu devo ter gostado senão tinha ficado puta da
vida. Eu só lembro que no dia em que perdi minha virgindade eu estava com uma
camisola feita de saco de arroz. E tinha escrito assim no peito: Indústria
Brasileira de Arroz Agulhinha, arroz de primeira. Foi a primeira agulhada que
eu tomei. (muitos risos)
BJ
– Em 1934 você teve um romance com o exportador de café mineiro Ademar Martins
que, na época, era casado. Isso é verdade?
DG
– Pois é, menino, tive mesmo. Eu sempre preferi amante do que marido. Marido só
serve pra encher o saco… e abrir lata de palmito. (gargalhada). Mas esse foi um
romance especial pra mim. Porque foi dele que nasceu a minha única filha, a
Dercimar. Mas eu tive outros romances, é claro. Se tinha uma coisa que eu
gostava, mas gostava mesmo, de verdade… era foder. Por mim eu trepava o dia
inteiro. É que homem é muito frouxo, só aguenta umas três bimbadas e já fica
pedindo penico. (gargalhada)
BJ
– Na década de 60, quando você iniciou sua carreira solo, as pessoas eram
moralistas ao extremo. Você, com esse seu jeito irreverente, sempre falando
palavrão, nunca teve problema com o seu público?
DG
– Se um sujeito ou uma mulher iam no meu show é porque gostavam da putaria.
Mesmo quem era todo certinho, que nunca falava besteira, que não mijava fora do
penico e nem pulava a cerca, adorava as besteiras que eu dizia, os “caralhos”
os “vai tomar no cu” e os “filho da puta” que eu sempre falei. Com certeza eu
excitava essa galera toda. Aposto que as dondocas já ficavam apalpando os
maridos no meio do show. Devia ser um roça-roça dos diabos. (gargalhada)
BJ
– Entre 66 e 69, você teve o seu grande momento na televisão com o programa
Dercy de Verdade, que acabou saindo do ar por causa da censura, logo depois do
AI-5. E você só voltou pra TV no final dos anos 80, quando a ditadura aliviou
um pouco o seu controle. Você sofreu muito com a censura nesse período?
DG
– Na verdade, nem tanto. Eles só me censuravam porque eu era desbocada e os
militares queriam dar exemplo. Mas o mau exemplo mesmo foi deles, perseguindo
aquela molecada toda. Os compositores, letristas, escritores… esses sim
sofreram, foram torturados, presos… eu só perdi a minha boquinha na TV. Mas
essa foi uma época terrível mesmo. Conheci muita gente que tomou choque na
periquita pra entregar os amigos. Eu nunca fui engajada na política, mas se um
filho da puta desses viesse me dar choque na perseguida eu juro que enrolava
aquele documento do AI-5 e enfiava no rabo do safado.
BJ
– Em 91, você foi tema de escola de samba e causou polêmica ao desfilar no
carro alegórico com os seios à mostra, aos 86 anos de idade. Foi você que teve
a ideia ou teve alguém por trás de você nisso?
DG
– Se tivesse alguém por trás de mim nessa época eu ia até gostar (gargalhada).
Porra nenhuma, eu que decidi mostrar. Qual é o problema de pagar um peitinho no
carnaval? Todo mundo faz isso. Só porque eu tinha 86 e o meu peito já tava meio
maracujá maduro? Fodam-se todos. Eu mostro o que eu quiser.
BJ
– Em sua festa de 100 anos, você cortou o bolo com a mão e atirou nos atores,
diretores e na plateia. Era o seu “gran finale”?
DG
– Em primeiro lugar não foi festa de 100 anos e sim de 102. Muita gente não
sabe, mas eu só fui registrada quando tinha 2 anos de idade. Isso era muito
comum na minha época. Lembre que eu nasci no começo do século passado. E “gran
finale” o CARALHO. Como é que eu podia saber que o homem lá em cima já tava me
chamando? Só porque eu tinha 102? Vai se foder, Jiló.
O JILÓ é aquele sujeito
que todo mundo queria ser:
fala as coisas na lata,
sem medo e sem vergonha.
Tem um temperamento
que oscila o dia inteiro:
às vezes é doce
como um doce de jiló...
e em outras, amargo
como um jiló sem doce.
Divertido, crítico e polêmico,
o JILÓ promete dar
um tempero especial
nas suas tardes
de segunda a sexta.
Para isso, basta clicar AQUI
e salvar o BLOG DO JILÓ
nos seus Favoritos
No comments:
Post a Comment