Saturday, April 13, 2019

FÁBIO CAMPOS FOI ASSISTIR "UM ATO DE ESPERANÇA" E SAIU ENTUSIASMADO



Um Ato de Esperança parte de uma premissa nada sutil, Adam, um garoto prestes a completar 18 anos, com um problema de saúde, necessita de uma transfusão de sangue, mas, como a família é Testemunha de Jeová, ele a recusa, o que poderá causar sua morte. O hospital, então, solicita à justiça que uma transfusão seja efetuada no paciente mesmo que sem o seu consentimento.

Emma Thompson, numa grande atuação, é a juíza Fiona Maye que fica encarregada do caso justamente no meio de uma crise conjugal. O que deixa o filme bastante interessante é que o roteiro, que é de Ian McEwan, baseado num livro também de sua autoria, carrega a trama com sutilezas. Após seu marido – Stanley Tucci, sempre um ótimo coadjuvante – decide sair de casa, acusando Fiona de não dar a atenção devida ao casamento, ela toma uma decisão inusitada, visitar o paciente no hospital antes de tomar sua decisão, mesmo correndo o risco de autorizar a transfusão tarde demais. Durante essa visita Adam – Fionn Whitehead, de Dunkirk, também ótimo – desenvolve uma imediata conexão com a juíza – chegam a cantar uma musica juntos na cama do hospital – mas, mesmo assim, ele continua recusando a transfusão.




A partir da decisão de Fiona o filme vai ficando mais complexo, não se aprofundando no dilema de respeitar ou não a crença – que já foi explorado diversas vezes no cinema –, mas contrastando a visão do jovem que descobre cada vez mais motivos para viver com a visão conformista de quem já tem uma vida estabelecida há muito tempo e ainda incorporou o viés de juíza, que força uma analise das coisas sempre como certo ou errado, ofuscando justamente as sutilezas.

Ao mesmo tempo em que nos lembramos daquele sentimento delicioso de encontrar alguém que nos motiva a querer mais da vida, a enxergar as coisas com um novo olhar, que descortina novas realidades, temos, do outro lado, o frescor de se sentir novamente uma musa, de inspirar algo melhor em alguém, de ser, literalmente, o motivo de alguém viver. Juntamente com isso vem o conflito entre uma visão jovem e inconsequente, de alguém que finalmente está descobrindo a vida, e uma visão adulta e extremamente atenta às responsabilidades, o que gera os melhores momentos do filme.


Apesar de uma direção competente, a força do filme está nas interpretações e no excelente roteiro que levanta uma serie de discussões secundárias interessantes; quando começamos a ter autonomia de nossas vidas? Como lidar com grandes desilusões? Quando e por que abrir mão de desejos imediatistas em prol de algo maior e mais longevo?

Provavelmente vai ser difícil assistir ao filme no cinema, ele foi lançado em poucas salas e saiu de cartaz rapidamente, mas é um filme muito interessante de ser descoberto quando chegar às plataformas on demand ou mesmo aos canais de cabo convencionais. No mínimo vai render bons questionamentos e, quem sabe, boas discussões.



UM ATO DE ESPERANÇA
(The Children Act 2019)

Diretor
Richard Eyre

Escritor
Ian McEwan
a partir de seu romance 
"A Balada de Adam Henry"

Elenco
Emma Thompson
Fionn Whitehead
Stanley Tucci

Duração
1h 46m



Fábio Campos convive com filmes e música
desde que nasceu, 52 anos atrás.
Seus textos sobre cinema passam ao largo
do vício da objetividade que norteia
a imensa maioria dos resenhistas.
Fábio é colaborador contumaz
de LEVA UM CASAQUINHO.

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