Um Ato de
Esperança parte de uma premissa nada sutil, Adam, um garoto prestes a completar
18 anos, com um problema de saúde, necessita de uma transfusão de sangue, mas,
como a família é Testemunha de Jeová, ele a recusa, o que poderá causar sua
morte. O hospital, então, solicita à justiça que uma transfusão seja efetuada
no paciente mesmo que sem o seu consentimento.
Emma Thompson,
numa grande atuação, é a juíza Fiona Maye que fica encarregada do caso
justamente no meio de uma crise conjugal. O que deixa o
filme bastante interessante é que o roteiro, que é de Ian McEwan, baseado num
livro também de sua autoria, carrega a trama com sutilezas. Após seu marido –
Stanley Tucci, sempre um ótimo coadjuvante – decide sair de casa, acusando
Fiona de não dar a atenção devida ao casamento, ela toma uma decisão inusitada,
visitar o paciente no hospital antes de tomar sua decisão, mesmo correndo o risco
de autorizar a transfusão tarde demais. Durante essa
visita Adam – Fionn Whitehead, de Dunkirk, também ótimo – desenvolve uma
imediata conexão com a juíza – chegam a cantar uma musica juntos na cama do
hospital – mas, mesmo assim, ele continua recusando a transfusão.
A partir da
decisão de Fiona o filme vai ficando mais complexo, não se aprofundando no
dilema de respeitar ou não a crença – que já foi explorado diversas vezes no
cinema –, mas contrastando a visão do jovem que descobre cada vez mais motivos
para viver com a visão conformista de quem já tem uma vida estabelecida há
muito tempo e ainda incorporou o viés de juíza, que força uma analise das
coisas sempre como certo ou errado, ofuscando justamente as sutilezas.
Ao mesmo tempo em
que nos lembramos daquele sentimento delicioso de encontrar alguém que nos
motiva a querer mais da vida, a enxergar as coisas com um novo olhar, que descortina
novas realidades, temos, do outro lado, o frescor de se sentir novamente uma
musa, de inspirar algo melhor em alguém, de ser, literalmente, o motivo de
alguém viver. Juntamente com isso vem o conflito entre uma visão jovem e
inconsequente, de alguém que finalmente está descobrindo a vida, e uma visão
adulta e extremamente atenta às responsabilidades, o que gera os melhores
momentos do filme.
Apesar de uma
direção competente, a força do filme está nas interpretações e no excelente
roteiro que levanta uma serie de discussões secundárias interessantes; quando
começamos a ter autonomia de nossas vidas? Como lidar com grandes desilusões? Quando
e por que abrir mão de desejos imediatistas em prol de algo maior e mais
longevo?
Provavelmente vai
ser difícil assistir ao filme no cinema, ele foi lançado em poucas salas e saiu
de cartaz rapidamente, mas é um filme muito interessante de ser descoberto
quando chegar às plataformas on demand ou mesmo aos canais de cabo
convencionais. No mínimo vai render bons questionamentos e, quem sabe, boas
discussões.
UM ATO DE ESPERANÇA
(The Children Act 2019)
Diretor
Richard Eyre
Escritor
Ian McEwan
a partir de seu romance
"A Balada de Adam Henry"
a partir de seu romance
"A Balada de Adam Henry"
Elenco
Emma Thompson
Fionn Whitehead
Stanley Tucci
Fionn Whitehead
Stanley Tucci
Duração
1h 46m
Fábio Campos convive com filmes e música
desde que nasceu, 52 anos atrás.
Seus textos sobre cinema passam ao largo
do vício da objetividade que norteia
a imensa maioria dos resenhistas.
Fábio é colaborador contumaz
de LEVA UM CASAQUINHO.
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