Em seu primeiro documentário cinematográfico, “Loki?” (2008), sobre o mutante Arnaldo Baptista, Paulo Henrique Fontenelle poderia ter optado por um "easy way out".
Mas preferiu seguir na contramão.
Seria muito fácil, com todo o material de arquivo que ele tinha em mãos, fazer uma vídeo-retrospectiva jornalística blasé sobre as aventuras e desventuras do gênio musical responsável pela banda de rock mais brilhante de todos os tempos na América do Sul.
Em vez disso, ele mergulhou fundo na complexa e frágil personalidade de Arnaldo, e quando veio à tona revelou para nós, de forma extremamente carinhosa, toda a loucura e toda a generosidade de seu biografado, sem "perder la ternura jamás".
Fez um documentário assumidamente rock and roll.
Como nunca haviam feito antes no Brasil.
Dessa vez, o desafio foi maior, já que Cássia -- ao contrário de Arnaldo -- não está mais por aqui há 13 anos.
(isso, apesar de suas gravações nunca terem deixado de tocar no rádio e seus discos serem constantemente reeditados)
Paulo Henrique Fontenelle teve acesso a um extenso material de arquivo da TV Brasília, da TV Manchete e da MTV-Brasil para compor esse documentário. Se fosse um documentarista convencional, exporia Cássia em suas entrevistas o máximo possível, forjando um retrato unidimensional dela. Como não é, preferiu fazer contrapor os relatos de Cássia com entrevistas com amigos, amantes e companheiros de jornada.
E é justamente nesse contraponto é que Cássia ganha vida novamente.
"Cassia Eller" segue contando sua história depois de sua morte, mostrando a emocionante batalha judicial de sua companheira pela custódia do filho Chicão, e revelando como todos os que viviam em sua órbita seguiram em frente sem a presença física dela, mas com ela ao lado muitas vezes indicando o Norte nos momentos mais incertos.
A maneira emocional, mas sem pieguices, com que Fontenelle realiza isso é a mesma utiizada em "Loki?": deixando que amigos, parceiros e produtores abrirem o coração para a câmera detalhando histórias da vida dela.
São histórias que nem sempre enaltecem a biografada, e que, por isso mesmo, ressaltam ainda mais toda a sua complexidade e toda a sua loucura nem sempre abençoada.
Um dia desses, vi Paulo Henrique Fontenelle comentar num programa de entrevistas na GloboNews que editou o filme durante várias madrugadas, e que sentiu a presença de Cássia de forma tão intensa durante o processo de edição que diversas vezes teve vontade de ligar para trocar uma idéia sobre um passagem ou outra do filme.
Essa presença avassaladora de Cássia, que o diretor sentiu tão forte, grita no filme.
E emociona.
"Cassia Eller" é muito mais que um documentário: é uma verdadeira "experiência musical documental"
Daí, não esperem ver um tributo pegajoso ou uma homenagem chapa branca, como tantas outras que circulam por aí.
E aumenta que isso aqui é rock and roll...
Em cartaz do Iporanga 4 e no Cinespaço Shopping Miramar.
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