Quando minha mãe ia embora,
o meu choro explodia — vinha
de uma essência incontrolável.
Depois, tudo me distraia:
o espinho do cacto que percorria a carne,
a casinha do joão-de-barro,
a laranja-de-umbigo,
a bosta das vacas,
os chapéus-de-cobra,
as abelhas fazendo mel,
o cemitério,
a sanga,
o ônibus a caminho de Jaguarão,
as tardes mornas em que eu pulava a janela
para furar os bolos de Maria Beiró.
Eu corria atrás de seu Belinho, gritando,
implorando pra que não matasse o porco:
— Ele é meu amigo!
Mas seu Belinho metia a faca:
o porco gritava me dizendo adeus.
Às vezes, a chuva me impedia de sair
ou então só quando a geada derretesse.
No alto do cerro morava uma velha...
Negra Rosa botava a chaleira para o mate
Vovó batia as claras para o merengue
Tia Mimosa conversava com o rádio de pilha
O gaúcho passava a cavalo.
À noite, na saleta do casarão,
Eu ouvia a voz da minha mãe:
vinha como do balde atirado à cacimba.
O lampião iluminava os retratos na parede.
Homens e mulheres de olhares antigos,
Todos mortos!
Eu, Márcio Calafiori,
aos 5 anos de idade,
e à direita meu irmão
aos 4 anos de idade
em Capão do Leão, 1962
Márcio Calafiori é jornalista.
Nasceu em 1957 e se formou
pela Facos em 1986.
Exerceu quase todos os cargos
em redações de jornais em Santos,
Santo André, Campinas e São Paulo.
Foi redator, repórter, revisor, editor,
secretário de redação,
chefe de reportagem e ombudsman.
Aposentou-se em 2012
como professor da Unisanta,
depois de 29 anos
de dedicação exclusiva
ao Jornalismo Impresso.
Colabora regularmente com
LEVA UM CASAQUINHO.
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