Wednesday, June 12, 2019

A MISANDRIA VEM AÍ! (por Marcelo Rayel Correggiari)



Pense num sujeito de voz grossa, daquelas bem graves, conforme os(as) regentes de coral, o famoso “baixo”, conhecido no meio como “basso profondo”.
Pois bem, pense num sujeito com essa voz, barba na cara, um pênis e saco entre as pernas.
Pensou?!
Pois é: se tem alguém mais fora-de-moda, “démodé”, na face da Terra, esse alguém é esse sujeito com essas características.
‘Homem’, com suas características naturais. Já ouviram falar?!
Bebe cerveja, assiste a jogo de futebol e/ou rugby, come boceta, carrega consigo afetos e sentimentos que ser humano algum (muito menos do gênero oposto) consegue sequer intuir.
Não é dado a excessivas frescuras de indumentária, morre pela sua dama e pelos seus/suas filhos(as), é capaz de se submenter às condições mais espúrias em prol dos(as) seus/suas... de sua ‘patota’.
Ronca, coça o saco (até mesmo porque tem um!), possui certa dificuldade de se assentar com as pernas cruzadas (só quem tem saco sabe!), bebe birita, aquela voz que parece trovoada, tenta engolir o choro entre outras bossas do gênero.
A pessoa com essas características entrou no rol das discriminadas, juntou-se ao time dos que sofrem preconceito. Uma coisa!
Tanto que gostaria de saber quem realmente explica o número (na casa de bilhões ao redor do planeta!) dos ‘Incel’s e ‘Mgtow’s cada vez mais crescente. Uma ‘tchurma’ que chegou para ficar e já de cara anda avacalhando o cangaço simplesmente porque deixou boa parte do feminismo “... falando sozinha”!
Um número que só faz aumentar e, em breve, vai foder as economias, sistemas de previdência e comércios locais mundo afora.
Ou você, querido(a) freguês(a), acha que a urgência para a aprovação do novo plano previdenciário público brasileiro se deve apenas à contenção de gastos da governança federal? Santa ingenuidade, Batgirl!
Os contratos sociais entre homens e mulheres apodreceram! Colocaram no sexismo e na questão de gênero o mau-caratísmo comum no ser humano. “Todo homem é isso...”, “... toda mulher é aquilo...” e se esqueceram de verificar que canalhice pouco tem a ver com as genitais.
Depois do feminismo 3.0 (esse, do início dos anos 2000), os mais jovens que, recentemente, ‘chegaram na praça’ sequer “entram em campo” mais! Ao assistirem o aparelhamento & ativismo das varas de família (onde, certamente, o pai é visto como uma espécie de estuprador), a molecada chegou ‘metendo bala’ lindo: “Enfia no cu! Vou bater minha punhetinha e nem sei se volto!”.
O sumiço dos ‘homens sérios’, leais, ‘homens de verdade’, longe dessa emulação barata que a mulheres encontram por aí (em especial em festas & baladas) será cada vez maior e mais frequente. Em vários lugares do mundo, a questão da ‘renovação de quadros’, geração de novos descendentes a fim de assegurar o bom andamento das previdências sociais públicas, está indo ‘pras’ picas a passos largos. Em breve, cada país fará sua “reforma da previdência” a cada cinco anos (duas por década!) simplesmente porque não haverá mais testosterona & sêmen disponível para pagar a conta.
Afinal, tem coisa mais escrota do que voz grossa, barba na cara, pau, saco, testosterona & sêmen?!
Não, ‘né’?! Ô coisinha escrota, tudo isso!
Até as empresas viraram ‘fêmeas’. Ou vocês acham que os frequentes ganchos que o Cacilda! sofre se deve a quê?! Só porque tem imagens de ‘pepecas “in natura”’ ou catecismos do Carlos Zéfiro?! Não! Experimentem fazer algum comentário tido como misógino para se verificar o esporro que você leva...
Imaginem trabalhar nessas empresas: ai de você se a sua voz, a única que você tem, é um, de acordo com o mundo do coral, um “basso profondo”. Não passa sequer na porta do RH da empresa!
Áreas como Letras & escolas viraram reduto. Homem não entra nem a pau. Algum professor aqui & acolá de História, Geografia, Física e Matemática. No mais, é igual ao samba do Neguinho da Beija-Flor: “(...) mulher, mulher, mulher, mulher... mulher, mulher... mulheeeeer... (...)”.
Segundo os Mgtows, isso gera premissas quase doentias de que o gênero oposto “... é tudo igual” quando bem sabemos que não é. Os ‘Incel’s, celibatários compulsórios, reclamam que sequer o bom caratismo, por parte das feministas, é visto, enxergado, e, consequentemente, recompensado em alguma extensão.
Fodeu, ‘né’!
A misandria é forte e respondeu, essa semana, por ‘jornalismo do Santa Cecília Portal’. Num assalto & furto no bairro do Campo Grande registrados por CCTVs (um homem de capacete descendo da moto para tomar à força o celular de uma jovem que caminhava pela calçada), o SCP veio com essa pérola: “Homem ataca mulher...”.
Aaaahhh! Que lindo! “Homem ataca mulher...”. Legal! Sou homem e nunca ataquei ninguém! Qual a premissa?! Que homem ataca mulher?! Ah, é?! Nooooosa! Todo homem ataca mulher?! Engraçado! Meu avô nunca atacou ninguém, meu pai nunca atacou ninguém, meus amigos nunca atacaram ninguém, mas a premissa é de que “Homem ataca mulher...”.
Ora! Vai tomar no cu!
É esse tipo de premissa que habita o inconsciente de escolas e empresas ao redor do globo. O trabalho foi bem feitinho! E se o sujeito possui um fenótipo bem masculino, ah... coitado! ‘Tá’ fodidinho!
Sem trampo (consequentemente, sem dinheiro), sem possibilidade de constituir uma família, sem perspectiva, sem ‘moral na casa’... e ainda por cima tido como “o violento que ataca mulheres e pessoas na rua”. Ótimo! Joga-se tudo na ‘raia miúda’ e foda-se o resto!
Ou seja, a visão dos Mgtows não é tão errada assim: uma sociedade construída para escalar o gênero masculino ‘para otário’, fazê-los pagar as contas (entre aqueles que ainda possuem condições materiais), conferir-lhes fama de estuprador e, na hora de um eventual litígio, topar com uma vara de família mais feminista do que nunca!
Tudo isso por quê?! O justo paga pelo pecador: por causa de um canalha filha-da-puta, todos os demais do gênero são classificados como ‘iguais’, quando, na verdade, nunca foram.
Só que a sociedade se aparelhou e ficou ativista: tudo aquilo que é marca do gênero (voz grossa, barba, saco, pau, testosterona e sêmen) virou ‘agressivo’, ‘nojento’, ‘vilipendiante’. Fodeu, ‘né’?! Homem decente é aquele da voz fina, não tem pêlo no corpo, não tem coceira nas partes pudendas, sei lá o quê... a coisa chegou num ponto que sequer uma gentileza, seja qual for, é vista como... simplesmente... como uma gentileza! Só isso!
O pior é que o feminismo corrobora uma ministra como a Damares Alves: “homens vestem azul, meninas vestem rosa”. Vários amigos meus, da área de Letras, estão tendo que recomeçar suas carreiras em áreas ainda ‘masculinas’ (como Direito, Administração, Economia, entre outros) porque já não conseguem vaga nas antigas atividades. Uma vida inteirinha jogada fora! Muitos fazendo curso para operador de porta-container porque ainda é uma área que homem pode trabalhar sem sofrer assédio moral pelo simples fato de serem homens.
Ou seja, graças ao feminismo, há “... o emprego de menino e o emprego de menina”. E uma multidão de feministas reclamando da Damares! Ora, puta que pariu! São elas mesmas que corroboram os atos e declarações da ministra, mas ela ‘... não pode abrir a boca’.
Como diz o Dr. João Borzino, não há ‘nhaca’ maior nos dias de hoje do que ser simplesmente ‘um homem’.
Luiz Felipe Pondé já anunciou: “a conta das feministas chegou”. E esse merceeiro ousa afirmar que, hoje, responde pelo nome de Mgtow. Duas reformas de previdência em vários países a cada década simplesmente porque não haverá mais quem se disponibilize a se responsabilizar por uma família dentro de um contrato tão podre como anda o casamento, por exemplo. Varas de família aparelhadas & ‘ativizadas’. E tome manchete feito “Homem ataca mulher...”. Com tamanha misandria, não seria para menos o sumiço da testosterona na praça. O Mgtow não é o ‘contra-feminismo’ como muito(as) acham: mgtows simplesmente deram as costas para todo o resto. Eles não disputam com as feministas: eles não disputam nada! Apenas dão meia volta e seguem suas vidas sem esse tipo de interferência e misandria.
Afinal, não dá para assinar papéis (sociais, inclusive) num mundo que vive te ‘desautorizando’... pelo simples fato de ser homem.
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 47 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É autor de Areias Lunares
(à venda na Disqueria,
Av. Conselheiro Nébias
quase esquina com o Oceano Atlântico)
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO

SOB O REINADO DA LUA (por Flavio Viegas Amoreira)



Cinquenta anos duma era que ainda acreditava e apostava no futuro. Por onde andam o sonho, a esperança ,  onde repousa a vontade de acreditar no mundo,  alçar vôo ao porvir? Em que canto desse planeta deixamos a memória do infinito, nós agora nessa compulsão pelo caos , a destruição ,  essa entrega coletiva ao abismo? Naquele verão norte-americano de 1969 a humanidade pisava o cosmo e todos nós perguntamos:  onde eu estava quando o homem pisou na Lua?  Garimpando as lembranças me vejo atônito menino diante da tela de TV preto e branco  as pegadas míticas de Neil Armstrong  sobre nosso satélite prateado antes só anseio dos poetas enamorados.  Aqui na Terra divididos na Guerra Fria , os russos apertando o cerco na Cortina de Ferro e os ianques chafurdando no horror vietnamita : no deu tanta insânia ?  A União Soviética é peça de museu e o Vietnã depois de vencer a guerra se tornaria um tigre capitalista.  Quantas guerras são necessárias para chegarmos a conclusão da inutilidade de toda guerra?  Era junho e o comportamento virava ao avesso:  as mulheres descobriam sua força , o feminismo ganhava as ruas ,  os negros  herdavam sem medo o martírio de Luther King  e por fim a causa gay vencia a primeira batalha.  Com a morte de Judy Garland em junho homossexuais do bairro boêmio Village se reúnem pranteando sua diva num bar que levaria o nome da Rebelião libertária pelo amor que ousaria dizer seu nome: Stonewall .  Diante da truculenta repressão gays se levantam em insurreição urbana anunciando que não se toleraria a supressão de seus direitos . Se os anos 60 findavam com os direitos civis aos negros, os anos 70 seriam do nascente ´´Gay Power´´.... para ilustrar todo esse cenário um filme que também faz cinqüenta anos serve como retrato dessa atmosfera: ´´Midnight Cowboy´´ .  Proibido no Brasil na ditadura onde naquele nosso inverno era tudo sombra a fita ganhou o nome de ´´Perdidos na noite´´  hoje um documento cult de transgressão e liberdade.  A trajetória da ´´Apolo 11´´  parecia ecoar por aqui na maneira audaz com que imensos setores da sociedade também buscava seu universo novo além de milênios de machismo,  segregação e preconceito.  Os projetos de viagens interplanetárias ainda engatinham depois de reveses , custos e tragédias ,  patinamos em nossos problemas terráqueos , a ameaça nuclear persiste e a insensatez predatória nos ronda com apocalipse ambiental.  Afinal por quê a Lua se não domamos nossos piores instintos? Por quê a Lua se seguimos perdendo florestas e contaminando os mares? Por quê a Lua , ocupar Marte, rondar os anéis de Saturno se mal habitamos iguais e justos esse astro concedido?  Inegáveis benefícios nos trouxe essa viagem : desde microchips  aos satélites meteriológicos,  o forno microondas até equipamentos médicos  fundamentais em nosso dia a dia.  Mas convenhamos não teria sido mais fácil ter chegado a Lua que tocarmos de discernimento amplo o espírito do Homem ?  A tecnologia que se anuncia onipotente ,  a inteligência artificial que nos brilha aos olhos, toda cibernética nos oferecendo o paraíso do ócio criativo não poderão prescindir do humano , demasiado humano:  ou poderão ?  Fico mais com os avanços da alma tolerante ao diferente que aos prodígios da robótica.  Voltando ao ano de 1969 recordo de outro filme : ´´Now, Voyager´´ com Bette Davis  sussurrando a Paul Henreid: ´´ Por quê pedir ‘a lua se já temos as estrelas?´´  É em nosso íntimo intransferível que alcançamos nossos avanços na busca do convívio idealizado. Como diria Einstein : ´´É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.  Tentemos.





Poeta, contista e crítico literário,
Flávio Viegas Amoreira é das mais inventivas
vozes da Nova Literatura Brasileira
surgidas na virada do século: a ‘’Geração 00’’.
Utiliza forte experimentação formal
e inovação de conteúdos, alternando
gêneros diversos em sintaxe fragmentada.
Participante de movimentos culturais
e de fomento à leitura, é autor de livros como
Maralto (2002), A Biblioteca Submergida (2003),
Contogramas (2004) e Escorbuto, Cantos da Costa (2005).