Friday, March 31, 2017

NOSSO ANIVERSARIANTE VEM DE AMSTERDAM E LIDERA HÁ 45 ANOS O GENIAL GRUPO FOCUS


PARA CELEBRAR O ANIVERSÁRIO DE 69 ANOS
DO GENIAL CANTOR, ORGANISTA E FLAUTISTA
THIJS VAN LEER
DO INCLASSIFICÁVEL GRUPO HOLANDÊS FOCUS
RESGATAMOS TAPES DA PRIMEIRA METADE
DOS ANOS SETENTA
QUANDO O GRUPO TEVE UMA POPULARIDADE
ESTRONDOSA EM VÁRIOS CANTOS DO MUNDO,
BRASIL INCLUSIVE.

ENJOY...




SO LONG FAREWELL
AUF WIEDERSEHEN
GOODBYE
VERÃO!

A LINDA E ADORÁVEL LARA FLYNN BOYLE FAZ 47 ANINHOS E NÓS AQUI COMEMORAMOS

por Chico Marques


Lara Flynn Boyle é, sem sombra de dúvida, uma das atrizes mais bonitas e mais talentosas surgidas em Hollywood nos últimos 30 anos.

Mas, como quase todo mundo que tenta a sorte em Hollywood, Lara teve um início de carreira repleto de decepções.

Participou de dois filmes que se tornariam sucessos estrondosos -- "Curtindo A Vida Adoidado" e "Sociedade dos Poetas Mortos" --, mas infelizmente as cenas de que participou foram todas cortadas na edição.

Quando finalmente ganhou projeção mundial através da série de TV "Twin Peaks", Lara presumiu que seu caminho para o estrelato no cinema estivesse aberto.

E que -- como disse um profissional de casting para ela --- todos os papeis que Wynona Ryder não conseguisse pegar, ela pegaria.

Obviamente, não foi bem isso o que aconteceu.


Lara Flynn Boyle nasceu em Davenport, Iowa, em 24 de March de 1970, e foi criada em Chicago.

Cresceu em meio a muitas privações.

É que sua mãe tinha poucas qualificações profissionais, e, em consequência disso, trabalhava sempre em dois ou três lugares simultaneamente para criar a pequena Lara com alguma dignidade.

Lara tinha muitas dificuldades de aprendizagem na escola, se achava pouco inteligente, mas na verdade era apenas disléxica e levemente bipolar.

Estudou na prestigiada Chicago Academy for the Arts.

Quando se formou, ela e sua mãe decidiram deixar o Meio-Oeste e vir embora para Los Angeles.

E o resto é história.


Talvez tenha faltado foco ou um agenciamento mais estratégico em sua carreira na primeira metade dos Anos 90, mas o fato é que Lara começou a trabalhar continuamente pulando demais do cinema para a TV, e da TV para o cinema.

Isso, definitivamente, não surtiu um efeito muito positivo em sua carreira, apesar de mantê-la sempre em atividade.

Romances turbulentos com Jack Nicholson, Kyle McLachlan e David Spade também não colaboraram muito para sua imagem pública. 

Resultado: chegou uma hora em que só chegavam a seu agente propostas de trabalho para produções de cinema muito independentes e para séries de TV, em papeis cada vez mais secundários.



De 2013 para cá, Lara Flynn Boyle parou de atuar e sumiu do mapa.

Consta que exagerou nas operações plásticas.

Seu belo rosto andou irreconhecível, muito inchado e impiedosamente castigado por intervenções cirúrgicas desnecessárias feitas por cirurgiões plásticos duvidosos.

Nós aqui torcemos para que ela tenha conseguido reverter essa situação e resgatar seu belo rosto.  


Para celebrar o aniversário de 47 anos dessa linda atriz -- batizada por sua mãe em homenagem ao personagem de Julie Christie em "Dr Jivago" --, escolhemos cinco de seus melhores filmes no cinema.

Em comum entre eles, apenas o fato de estarem disponíveis nas estantes da Vídeo Paradiso.





EQUINOX
(Equinox, 1992, 119 minutos, dir: Alan Rudolph)

Henry Petosa e Freddy Ace (Matthew Modine) são gêmeos que foram separados sendo bebês, e eles não se conhecem. Henry foi adotado por um homem honesto, enquanto Freddy se tornou um gângster. Detalhe: Henry é muito tímido e tem muitos problemas mentais. Os dois não sabem da existência um do outro, e suas histórias se cruzam quando a mãe biológica dos dois morre e eles descobrem que não só são filhos de um nobre europeu como terão que dividir uma herança  considerável. Filme enigmático, mas brilhante, do subestimado Alan Rudolph, discípulo de Robert Altman que sempre foi um queridinho da crítica mas nunca recebeu a aprovação do público que seu trabalho merece. Se por um lado o histrionismo de Modine cansa um pouco, por outro lado temos um elenco femino soberbo, comandado por Tyra Farrell, Lori Singer, Lara Flynn Boyle e Marisa Tomei. Recomendadíssimo.



MORTE POR ENCOMENDA
(Red Rock West, 1993, 100 minutos, dir: John Dahl)

O texano Michael (Nicolas Cage) dá um azar dos diabos quando um trabalho prometido para ele no Estado do Wyoming não se concretiza. Para piorar, ele é confundido por Wayne (J T Walsh) como sendo o assassino profissional que contratou para matar sua mulher infiel Suzanne (Lara Flynn Boyle). Mike tira proveito da situação, pega a grana e cai na estrada. Mas tudo começa a dar errado, e ele passa a ser perseguido pelo verdadeiro assassino de aluguel, Lyle (Dennis Hopper). Um road movie delicioso, cheio de reviravoltas, extremamente envolvente e com um final completamente inusitado. 



TRÊS FORMAS DE AMAR
(Threesome, 1994, 93 minutos, dir: Andrew Fleming)

Devido a um erro de computador, uma jovem é encaminhada ao alojamento masculino da universidade, onde irá dividir o quarto com dois rapazes e juntos formarão um inesperado triângulo amoroso, assim começa a história de Eddy, Alex e Stuart. História romântica e sensual envolvendo três estudantes que se tornam mais do que simples colegas de quarto e bons amigos. A aspirante a atriz Alex (Lara Flynn Boyle) traz uma mudança na vida sexual de Stuart (Stephen Baldwin) e Eddy (Josh Charles). Rapidamente Stuart tenta seduzi-la, mas descobre que ela está realmente interessada em seu amigo, Eddy. Mas Eddy tem desejos que até ele mesmo desconhece, o que vira uma verdadeira confusão, e vivem uma história de amor bissexual onde três não são demais.



O DESPERTAR DO DESEJO
(Afterglow, 1997, 119 minutos, dir: Alan Rudolph)

Phyllis Mann (Julie Christie), antiga estrela de filmes de terror, e o marido Lucky (Nick Nolte), um encanador, vivem em Montreal. Phyllis relembra seus dias de glória na solidão de seu quarto, onde revê constantemente seus velhos filmes, enquanto Lucky mantém casos amorosos com clientes selecionadas. As coisas começam a complicar quando Lucky é contratado por Marianne (Lara Flynn Boyle), que deseja ter filhos, mas o marido arrogante Jeffrey (Jonny Lee Miller) não quer nem ouvir falar em constituir família. Marianne pede a ajuda de Lucky, ele a engravida, e o que acontece a seguir provoca um reboliço monstruoso na vida de Phyllis. Filme devastador de Alan Rudolph, com performances impressionantes de todos os atores envolvidos -- principalmente de Julie e Lara.


HOMENS DE PRETO II
(MIIB, 2002, 89 minutos, dir: Barry Sonnenfeld)

Cinco anos após os eventos de (Homens de Preto), o ex-agente K, Kevin Brown (Tommy Lee Jones) trabalha como carteiro na pequena cidade de Truro, Massachusetts, sem se lembrar que tempos atrás ele caçou alienígenas e foi um "Homem de Preto". Seu velho parceiro, o agente J (Will Smith), continuou, trabalhando sozinho, sem parceiro, e, enquanto investiga um crime aparentemente rotineiro, descobre o monstro maligno Serleena (Lara Flynn Boyle) -- uma alien Kylothiana, que aparece como uma modelo de lingerie, mas cuja verdadeira aparência é a de uma hidra de Lerna. Para pará-la, J precisa convencer Brown -- que não guarda nenhuma memória de seu passado como um Homem de Preto, mas é a única pessoa viva que sabe o que é preciso para eliminar Serleena -- para voltar à ativa antes que a Terra seja destruída. Desnecessário dizer que Lara está lindíssima e absolutamente sensual como Serleena, e que o filme é diversão de primeiríssima grandeza.






CAFÉ & BOM DIA #56 (por Carlos Eduardo Brizolinha)



Metade dos anos oitenta e Lauro Coelho soprou uma bolha que ainda nos dias de hoje flutua na minha imaginação. Proust foi por muitos diretores considerado "infilmável", razão pela qual René Clement, Resnais, Truffaut, Malle e Letellier desistiram. Antes porém já havia sido proposto a Luchino Visconti, mesmo porque trazia essa ambição e Lauro Coelho afirma que Visconti chegou a elaborar um roteiro através de Suso Cocchi sua colaboradora de muitos anos, sendo ela obrigada a escrever em francês, pois Visconti não suportava a ideia de ler Proust em italiano. A ideia foi construída centrando no quinto volume " Sodoma e Gomorra " apontando paralelamente a história dos amores de Chales Swann por Odete de Clecy, do narrador por Albertine e do Barão de Charlus por Charles Morel explicando os aspectos do homossexualismo, dos tormentos do ciúme e do esnobismo. Esse projeto foi abortado por pressão de Helmut Berger por outro projeto que resultou num filme fantástico "Ludwig". Essa bolha voltou e atravessou minha mente ao assistir pela segunda vez o filme "Um Amor de Swann" na direção de Volker Schlöndorff. Como seria com a reggia de Luchino Visconti?



E JÁ PASSOU UM ANO. Quando ele adentrou o palco da literatura, os escritores ainda usavam óculos de aros grossos e ternos comportados. E o bolor do pós-Guerra ainda pairava sobre a Alemanha. Foi quando este jovem inquieto da província austríaca da Caríntia começou a chocar o establishment literário com sua jaqueta de couro surrada e seus cabelos longos. Ele acusava a literatura contemporânea alemã de sofrer de "impotência descritiva". Em pouco tempo, no mais tardar com a peça de teatro Publikumsbeschimpfung (Insulto ao público), transformou-se no enfant terrible da cena literária da Alemanha. Seus gestos provocativos marcaram tanto sua literatura quanto sua imagem pública. Em seus textos, o escritor mistura Nietzsche com letras de bandas de rock, escrevendo tanto sobre uma jukebox quanto sobre suas raízes eslovenas. Com o passar dos anos, ele consequentemente passou a extrair da própria vida o material narrativo para a literatura que produzia. Nos anos 1980 e 1990, na Alemanha, era quase impossível ignorar a existência de Peter Handke. O medo do goleiro diante do pênalti, por exemplo ( Será que Belchior roubou a frase? ), tornou-se leitura obrigatória nas escolas alemãs. Handke traduzia obras alheias, assumia a direção de peças teatrais e escrevia roteiros, como por exemplo o do filme Asas do Desejo, dirigido por seu amigo Wim Wenders. Aygül Cizmecioglu (sv) é cirurgica para descrever o trabalho de Handke.Em 2008 seu livro " Noite da Morávia" , a história de uma odisseia pela Europa em busca da própria vida. A obstinação política deu lugar a uma autorreflexão poética. Nasce um Handke querendo afugentar os maus espíritos dos últimos anos. Contudo vale a pena ter Handke na estante.



A amargura levou Nicolau para o mundo dos mortos. Do lado do leito de morte, nem Mandrágora e tampouco Hypocrás que lhe pudesse tornar melhor e mais alegre os últimos momentos de vida. Essa poção mágica foi então apresentada ao mundo pela primeira vez na casa de Bernadino Giordano de forma suntuosa. Gerou grande entusiasmo na ocasião. Sua criação surtiu efeito, pois levou alegria intensa, mas Nicolau não buscava riso fácil. Nicolau queria na verdade muito mais que riso fácil, sim, o riso que surge quando se descobre algo visível sem que nos damos conta por estar tão fácil. Atrás da poção da Mandrágora e o efeito proposto, temos então a virtude totalmente desmoralizada. A estupidez provoca gargalhadas e esconde o caráter dos malandros. Das palavras fáceis até as grandiloquentes há um calculista. É realmente difícil compreender as razões de algumas situações que se apresentam, mas Nicolau deixou caminhos para reflexões que nos conduzam para compreender. Embora esteja morto, seu legado está vivo não só na Mandrágora como também no emblemático Príncipe. P.S - Em torno dessa obra Maquiavélica, ensejam-se inúmeras análises, dentre as quais convêm citar: as que discorrem sobre aspectos políticos, econômicos e sociais. Seja da época em que foi escrita ou de atuais situações em que o enredo seja válido.



Saudade torrente de paixão emoção diferente, não só por Blanche, mas por alguém que tem uma visão de mundo que não acredita no ser humano por não enxergar seu igual. A leitura que faz Tennessee dos porões da alma humana nos faz ver sofrimentos calejados, descreve como poucos a solidão,loucura, marginalidade cujo o núcleo é o dinheiro e o desejo, arco da corrupção. Somos parceiros do medo e da solidão. Ler suas peças de teatro nos faz parceiros de bêbados, poetas, vagabundos, , operários, grupos reprimidos, homossexuais perseguidos, viajantes loucos e prostitutas. A dramaturgia de Tennessee Wiliams varre marchando no universo das misérias humanas. É assim na peça " A Margem da Vida ", confesso minha preferência por "Um Bonde Chamado Desejo" muito pelo encantamento por Blanche Dubois pela luta moral. Com Blanche e Stanley Kowalsky e a briga da alma versus corpo podemos sentir a grande do autor na criação literária. Não saímos impune, vamos nós todos para o hospício. Com Tennessee aprendemos mais um tanto sobre as ambiguidades humanas. Logo estarei voando pelo período antropofágico do autor, que secou a tinta das canetas dos críticos.



Alguém neste mundo que traga um só cromossomo de Molière. Alguém que exista para demolir o pedantismo, esse corredor de esnobismo e encenar " As Preciosas Ridículas ". Alguém que morra na esquina encenando " O Doente Imaginário ". Alguém que detenha conhecimento dos tipos e caráter humano e gesticule narrando fracassos. Alguém que pesquise no lago da memória com o fio do próprio pensamento. Alguém que arremesse para a outra margem o ranço azedo da intolerância. Alguém que seja comédia debaixo da chuva. Molière tem realidade cômica sem óculos, lunetas. Alguém que apele a inteligência. Olímpica e fria inteligência. Alguém no palco como Alceste em " O Misantropo " um homem reto cujo desgosto para com as loucuras, afetações e corrupção chega às raias da obsessão. O mundo social que adeja à sua volta é uma coleção de almofadinhas, bajuladores, intrigantes e namoradores. Julga impossível conviver com eles, ainda que seu leal amigo Philinte lhe aconselhe cautela. O ponto fraco em sua couraça é o amor que por uma mulher incuravelmente flertadora,à qual – como acontecia com o próprio Molière – ama em oposição ao que lhe fiz o melhor discernimento. Mas a despeito da paixão que sente por ela, não consegue violentar-se a ponto de aceitar o mundo de intriga que é o habitat natural da moça. Perseguir a integridade sem levar em consideração as realidades sociais e exigir o impossível de uma mulher superficial só podiam conduzir a um desastre pessoal. A sociedade, como ele a descreve, não pode ser reformada porque o gênero humano é fundamentalmente corrupto. Alguém que tenha direito pleno de pensar o mundo segundo seu humor.



ÓCIO CRIATIVO, CAFÉ E BOM DIA




Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada à Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
onde bebe vários cafés orgânicos por dia,
e da loja de equipamentos de áudio ORLANDO,
do amigo Orlando Valência.


SO LONG FAREWELL
AUF WIEDERSEHEN
GOODBYE
VERÃO!

INTIMIDADE (um conto de Edla Van Steen)



Para mim esta é a melhor hora do dia — Ema disse, voltando do quarto dos meninos. — Com as crianças na cama, a casa fica tão sossegada.

— Só que já é noite — a amiga corrigiu, sem tirar os olhos da revista.


Ema agachou-se para recolher o quebra-cabeça esparramado pelo chão.


— É força de expressão, sua boba. O dia acaba quando eu vou dormir,


isto é, o dia tem vinte e quatro horas e a semana tem sete dias, não está certo? — descobriu um sapato sob a poltrona. Pegou-o e, quase deitada no tapete, procurou o par embaixo dos outros móveis. — Não sei por que a empregada não reúne essas coisas antes de ir se deitar — empilhou os objetos no degrau da escada. — Afinal, é paga para isso, não acha? — Às vezes é útil a gente fechar os olhos e fingir que não está notando os defeitos. Ela é boa babá, o que é mais importante.


Ema concordou. Era bom ter uma amiga tão experiente. Nem precisa ser da mesma idade — deixou-se cair no sofá — Bárbara, muito mais sábia. Examinou-a a ler: uma linha de luz dourada valorizava o perfil privilegiado. As duas eram tão inseparáveis quanto seus maridos, colegas de escritório. Até ter filhos juntas conseguiram, acreditasse quem quisesse. Tão gostoso, ambas no hospital. A semelhança física teria contribuído para o perfeito entendimento? "Imaginava que fossem irmãs", muitos diziam, o que sempre causava satisfação.


— O que está se passando nessa cabecinha? — Bárbara estranhou a amiga, só doente pararia quieta. Admirou-a: os cabelos soltos, caídos no rosto, escondiam os olhos cinza, azuis ou verdes, conforme o reflexo da roupa. De que cor estariam hoje? — inclinou-se — estão cinza.


Ema aprumou o corpo.


— Pensava que se nós morássemos numa casa grande, vocês e nós... Bárbara sorriu. Também ela uma vez tivera a idéia — pegou o isqueiro e acendeu dois cigarros, dando um a Ema, que agradeceu com o gesto habitual: aproximou o dedo indicador dos lábios e soltou um beijo no ar.


— As crianças brigariam o tempo todo.


Novamente a amiga tinha razão. Os filhos não se suportavam, discutiam por qualquer motivo, ciúme doentio de tudo. O que sombreava o relacionamento dos casais.


— Pelo menos podíamos morar mais perto, então.


Ema terminava o cigarro, que preguiça. Se o marido estivesse em casa seria obrigada a assistir à televisão, porque ele mal chegava, ia ligando o aparelho, ainda que soubesse que ela detestava sentar que nem múmia diante do aparelho — levantou-se, repelindo a lembrança. Preparou uma jarra de limonada. Por que todo aquele interesse de Bárbara na revista? Reformulou a pergunta em voz alta.


— Nada em especial. Uma pesquisa sobre o comportamento das crianças na escola, de como se modificam as personalidades longe dos pais.


No momento em que Ema depositava o refresco na mesa, ouviu-se um estalo.


— Porcaria, meu sutiã arrebentou.


— A alça?


— Deve ter sido o fecho — ergueu a blusa — veja.


Bárbara fez várias tentativas para fechá-lo.


— Não dá, quebrou pra valer.


Ema serviu a limonada. Depois, passou a mão pelo busto.


— Você acha que eu tenho seio demais?


— Claro que não. Os meus são maiores...


— Está brincando — Ema sorriu e bebeu o suco em goles curtos, ininterruptos.


— Duvida? Pode medir...


— De sutiã não vale — argumentou. — Vamos lá em cima. A gente se despe e compara — aproveitou a subida para recolher a desordem empilhada. Fazia questão de manter a casa impecável. Bárbara pensou que a amiga talvez tivesse um pouco de neurose com arrumação.


Ema acendeu a luz do quarto.


— Comprou lençóis novos?


— Mamãe mandou de presente. Chegaram ontem. Esqueci de contar. Não são lindos?


— São.


— A velha tem gosto — Ema disse, enquanto se despia em frente ao espelho. Bárbara imitou-a.


É muito bonita — Ema reconheceu. Cintura fina, pele sedosa, busto rosado e um dorso infantil. Porém, ela não perdia em atributos, igualmente favorecida pela sorte. Louras e esguias, seriam modelos fotográficos, o que entendessem, em se tratando de usar o corpo — não é, Bárbara?


— Decididamente perdi o campeonato. Em matéria de tamanho os seus seios são maiores do que os meus — a outra admitiu, confrontando.


Carinhosa, Ema acariciou as costas da amiga, que sentiu um arrepio.


— O que não significa nada, de acordo? — deu-lhe um beijo.


— Credo, Ema, suas mãos estão geladas e com este calor...


— É má circulação.


— Coitadinha — Bárbara esfregou-as vigorosamente. — Você precisa fazer massagens e exercícios, assim — abria e fechava os dedos, esticando e contraindo na palma. — Experimente.


Eram tão raros os instantes de intimidade e tão bons. Conversaram sobre as crianças, os maridos, os filmes da semana. Davam-se maravilhosamente — Bárbara suspirou e se dirigiu à janela: viu telhados escuros e misteriosos. Ela adoraria ser invisível para entrar em todas as casas e devassar aquelas vidas estranhas. Costumava diminuir a marcha do carro nos pontos de ônibus e tentar adivinhar segredos nos rostos vagos das filas. Isso acontecia nos seus dias de tristeza. Alguma coisa em algum lugar, que ela nem suspeitava o que fosse, provocava nela uma sensação de tristeza inexplicável. Igual à que sente agora. Uma tristeza delicada, de quem está de luto. Por quê?


— Que horas são? — Ema escovava o cabelo.


— Imagine, onze horas. Tenho que sair correndo.


— Que pena. Não sei por que fui pensar em hora. Fique mais um pouco.


— É tarde, Ema. Tchau. Não precisa descer.


— Ora, Bárbara... deixa disso — levou a amiga até o portão.


— Boa noite, querida. Durma bem.


— Até amanhã.



Ema examinou atentamente a sala, a conferir, pela última vez, a arrumação geral. Reparou na bandeja esquecida sobre a mesa, mas não se incomodou. Queria um minutinho de... ela apreciava tanto a casa prestes a adormecer — apagou as luzes. A noite estava clara, cor de madrugada pensou, sentando no sofá. Um sentimento de liberdade interior brotava naquele silêncio. Um sentimento místico, meio alvoroçado, de alguém que, de repente, descobrisse que sabe voar. Por quê?


Edla Van Steen nasceu em Florianópolis em 1936.
Seu pai era belga e cônsul-honorário naquela cidade.
Possui quase 30 livros publicados
entre contos, romances, entrevistas,
peças de teatro e livros de arte.
É viúva do historiador e crítico teatral Sábato Magaldi.

SO LONG FAREWELL
AUF WIEDERSEHEN
GOODBYE
VERÃO!

SAMPA-RIO WEEKEND (31 de Março - 1 & 2 de Abril de 2017)



MONÓLOGOS PÚBLICOS
MASP Auditório - SAMPA
Sábados e Segundas 21hs/Domingos 20hs

A inquietação inspira o trabalho do ator, diretor e escritor Michel Melamed. A surpreendente realidade, mais que espanto, provoca sua imaginação e o resultado são espetáculos instigantes como Monólogo Público, que estreia nacionalmente no sábado, 18, no Auditório do Masp. Trata-se, claro, de um trabalho solo (por mais que esse termo tenha perdido sua força pelo uso desmesurado), em que o palco parece invadido por mais de uma pessoa. Monólogo Público marca o retorno de Michel Melamed ao formato do monólogo depois de dez anos - ele construiu sua Trilogia Brasileira com espetáculos como Regurgitofagia (2004), Dinheiro Grátis (2006) e Homemúsica (2007). Em todos, o artista consegue se inovar e não cristalizar. (Ubiratan Brasil, Estadão)



NADA
Teatro Poeira - Botafogo - RIO
Sábados e Segundas 21hs/Domingos 20hs

Memória é um termo chave para se pensar a montagem de "Nada", que Gilberto Gawronski leva ao palco do Teatro Poeira. É que, na colagem de textos de Anton Tchekov que conduz a narrativa da peça -- e onde, curiosamente, a palavra "nada" é a mais dita, com 29 citações -- um tanto da memória afetiva das pessoas envolvidas no projeto é jogada à luz. As atrizes Analu Prestes e Clarisse Derzié Luz, protagonistas do espetáculo, já participaram de montagens célebres de Tchekov nos palcos: Analu estava na versão de José Celso Martinez Correa para "As três irmãs", em 1972. Clarisse fez, em 1989, sob a direção de Paulo Mamede, "O jardim das cerejeiras". E o próprio Gawronski participou da montagem de "A gaivota" , direção de Enrique Diaz, 2006. O único estreante em um texto do autor russo é Renato Krueger, o que não deixa de ser um contraponto interessante. Trechos dos textos já interpretados no passado estão em cena na montagem do diretor, mas a trama tem como espinha dorsal os contos curtos “O canto do cisne” e “Malefícios do tabaco”. Analu e Clarice interpretam, respectivamente, um ator e seu ponto. Ambos passam a noite no teatro em que trabalham. Um não volta para casa por não ter quem o espere; o outro não tem uma casa para onde voltar. E, no delírio e na embriaguez, eles revisitam textos de Tchekov, numa colcha de retalhos que irá modificar a vida e a percepção dos personagens. São duas atrizes que interpretam dois homens que, por sua vez, interpretam homens e mulheres. E a cena se amplia com estes dois personagens se debruçando sobre o teatro, sobre si mesmos, sobre a solidão e a própria vida. (Paula Lacerda, O Globo)


HAMILTON DE HOLANDA
30 de Março - Circo Voador – Rio

Há quem chame Hamilton de do Jimi Hendrix do bandolim, tamanha a desenvoltura com que ele reinventa o instrumento enquanto passeia pelos mais diversos gêneros musicais. Há quem diga que ele descobriu o elo perdido entre o chorinho e o jazz. Mas o importante é que Hamilton é um músico espetacular e suas apresentações são sempre deliciosas, Aqui ele mostra um show batizado como Baile do Almeidinha, no qual mostra suas habilidades interpretando forrós, sambas, frevo, choros, xotes e outros ritmos brasileiros. Todo mês ele leva esse mesmo baile, mas com repertório sempre diferente, no palco do Circo Voador. Vai perder?



FÁBIO STELLA
31 de Março - SESC Belenzinho – Sampa

Juan iniciou sua carreira em 1966, aos 16 anos, no programa Alegria dos Bairros da Rede Record. Nessa época usava o nome artístico de Juanito. No ano seguinte conheceu Carlos Imperial, que o convenceu a trocar de nome, passando a ser Fábio. Neste mesmo período conheceu Tim Maia, que havia morado um tempo nos Estados Unidos, e que apresentou a Fábio a Soul Music. Ao ouvir Tim cantar "Wonderful World", de Sam Cooke, ficou bastante impressionado com o estilo -- até então o cantor estava habituado com canções paraguaias e o iê-iê-iê. Seu primeiro single foi a canção psicodélica "Lindo Sonho Delirante", inspirada em "Lucy in the Sky with Diamonds", que faz alusão ao LSD, composta em parceria com Carlos Imperial e gravada com The Fevers. A capa do compacto simples trazia as letras "LSD" logo acima do nome da canção. Estourou nas paradas de sucesso com "Stella", gravada em 1969 e composta em parceria com Paulo Imperial (irmão de Carlos Imperial). Com Tim Maia chegou a compor alguns sucessos, e ao longo da carreira gravou 23 discos, conquistando importantes prêmios.




MACACO BONG + HUEY + THE TAPE DISASTER
31 de Março - Z Carniceria – Sampa

As bandas de rock instrumental Macaco Bong (foto), Huey e The Tape Disaster animam a noite da sexta-feira no Z Carniceria como atrações do primeiro festival do selo Sinewave em 2017. O primeiro grupo é do Mato Grosso, o segundo, de São Paulo e a The Tape Disaster vem do Rio Grande do Sul. Vale uma conferida.




ZECA BALEIRO
1 e 2 de Abril – SESC Pinheiros – Sampa

O cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro interpreta o show "Violoncelo e Piano", como parte das celebrações dos 20 anos do lançamento de seu primeiro disco, "Por Onde Andará Stephen Fry?". Na apresentação, Zeca Baleiro apresenta-se ao lado de dois músicos com quem tem dividido palcos e estúdios em ocasiões diferentes ao longo de sua carreira: Lui Coimbra (violoncelo e vocais) e Adriano Magoo (piano, acordeon e vocais). O repertório inclui releituras de compositores como Monsueto, Belchior, Gilberto Gil e Sergio Sampaio, entre outros, e também alguns dos sucessos e lados B.




CALL THE POLICE
31 de Março - Tom Brasil – Sampa

O guitarrista do Police Andy Summers, o baixista do Barão Vermelho Rodrigo Santos e o baterista do Paralamas João Barone se uniram para uma série de shows especiais que receberam o nome de "Call The Police". A referência ao Police não é à toa: o trio está ensaiando um repertório baseado nos sucessos do Police. Prepare-se para ver a "banda cover dos sonhos" em ação. Para Sting e Stu Copeland nenhum botar defeito.



BANDA MANTIQUEIRA
1 de Abril – Auditório Ibirapuera – Sampa

Fundada em 1991 pelo clarinetista Nailor Proveta, a banda Mantiqueira só não se apresenta com mais frequência porque é muito grande e muito cara. Não é à toa que andou meio desativada nos últimos tempos. Neste show eles pretendem dar uma abordagem “big band” para números de Tom Jobim, Pixinguinha, Noel Rosa, Cartola e Moacir Santos. Detalhe: estão lançando um novo disco, "Com Calma", com covers interessantíssimos de canções de Dizzy Gillespie, Moacir Santos e outros. Vá sem susto.




NUNO MINDELIS
2 de Abril – SESC Belenzinho – Sampa

Nuno Mindelis é um guitarrista de blues sensacional. Nascido em Angola e brasileiro de coração, ele está finalmente conseguindo colher os frutos de muitos anos de insistência em estabelecer uma carreira internacional. Seu último trabalho, "Angels & Clowns", é produzido pelo craque Duke Robillard, e está fazendo uma carreira bastante satisfatória pela cena blueseira do Planeta Terra. É basicamente o repertório desse novo disco que ele irá apresentar neste show, acompanhado de sua banda de estrada habitual. Se você gosta de blues, melhor não perder.







SO LONG FAREWELL
AUF WIEDERSEHEN
GOODBYE
VERÃO!