Friday, July 28, 2017

DAME HELEN MIRREN CHEGA AOS 72 ANOS E NÓS COMEMORAMOS COM LOUVOR

por Chico Marques


Dame Helen Mirren é uma grande atriz respeitadíssima na Inglaterra e com uma carreira espetacular pelas costas.

Só que, estranhamente, só há pouco anos, com o sucesso internacional de A Rainha, é que o resto do mundo começou a se dar conta disso.





Ela começou sua carreira na Royal Shakespeare Company em 1967, e é uma das pouquíssimas atrizes a ganhar a Triple Crown of Acting, a maior honraria do Teatro Britânico. 

Fez uma carreira brilhante no cinema inglês, e, entre os muitos prêmios que recebeu, ganhou a Palma de Ouro de Melhor Atriz pelo filme irlandês "Cal" em 1984.




Finalmente ganhou o Oscar de Melhor Atriz aos 62 anos de idade, quando Stephen Frears a convocou para interpretar a Rainha Elizabeth II. 

De lá prá cá, tem sido escalada frequentemente para produções americanas, depois de ser esnobada solenemente em Hollywood por mais de 30 anos.



Dame Helen Mirren ganhou recentemente um Tony pela peça "The Audience".

Ganhou também vários Emmys por sua performance como a detective Jane Tennison na série da TV inglesa "Prime Suspect", que teve sete temporadas entre 1991 e 2006.





Dame Helen Mirren comemorou 72 anos de idade na última segunda feira, 24 de Julho.

Daí selecionamos cinco filmes menos conhecidos de sua filmografia -- três produzidos no Reino Unido e dois em Hollywood.


Em comum entre eles, apenas o fato de estarem disponíveis para locação nas estantes da Paradiso Videolocadora.






EXCALIBUR
(Excalibur, 1981, 140 minutos, direção John Boorman)

A lenda do rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda chega em sua mais impressionante versão em Excalibur, do visionário cineasta inglês John Boorman. Todos os elementos do clássico "A Morte de Arthur", de Sir Thomas Malory, estão aqui: Arthur (Nigel Terry) remove a espada Excalibur de uma pedra; o nobre nascimento e o trágico declínio da Távola Redonda; a heróica tentativa de recuperar o Santo Gral; e o instável equilíbrio de poder entre o sábio mago Merlin (Nicol Williamson) e a feiticeira Miranda (Helen Mirren), belíssima e malévola irmã de Arthur, que o envolve num feitiço para consumar um ato de incesto, gerando assim um herdeiro de sangue puro. Pauline Kael, do The New Yorker, escreveu, "um luxo, uma cena extonteante atrás da outra". Com Patrick Stewart, Gabriel Byrne e Liam Neeson em notáveis papéis.
MEMÓRIAS DE UM TERRORISTA
(Cal, 1984, 102 minutos, direção Pat O' Connor)

Cal (John Lynch) é um jovem membro do IRA que vive um romance com Marcella (Helen Mirren), uma mulher católica que teve seu marido, um policial protestante, morto pela organização terrorista um ano antes de se conhecerem. Helen Mirren ganhou merecidamente a Palma de Ouro de Melhor Atriz em 1984 por este papel. A trilha sonora do filme, de Mark Knopfler, é explendorosa.
O COZINHEIRO, O LADRÃO, SUA MULHER E O AMANTE
(The Cook, The Thief, His Wife and Her Lover, 1989, 124 minutos, direção Peter Greenaway)

O gângster Albert Spica (Michael Gambon) janta todas as noites no restaurante Le Hollandais em companhia de seus capangas e sua esposa Georgina (Helen Mirren). Cansada dos modos violentos e grosseiros do marido, Georgina flerta com um solitário Michael (Alan Howard). Com a cumplicidade do chefe de cozinha Richard (Richard Bohronger), os dois amantes fazem sexo às escondidas no banheiro e na despensa do restaurante, enquanto Albert devora prato após prato em sua mesa. Quando Albert descobre a traição da esposa, desfecha uma cruel vingança contra Michael, que por sua vez será vingado por Georgina.
A PROMESSA
(The Pledge, 2001, 123 minutos, direção Sean Penn)

Jerry Black (Jack Nicholson) é um honrado detetive da polícia que tem um dilema em suas mãos. Um dia antes de sua aposentadoria, ele recebe a notícia do brutal assassinato de uma garotinha de apenas oito anos. Ainda a serviço, Jerry não só insiste com seus colegas para verificar o corpo como é encarregado de comunicar a família, uma tarefa difícil e delicada que só alguém com seus anos de experiência poderia realizar. Assim que dá a notícia, a mãe da garotinha o faz garantir que pegará o assassino, custe o que custar. Assim que o primeiro suspeito (Benicio Del Toro) é capturado, Jerry desconfia que talvez não seja o verdadeiro culpado e decide investigar por conta própria. Entre o desejo de continuar a serviço da polícia e a responsabilidade da última tarefa honrada, Jack vai comprometer o resto de seus dias para cumprir sua palavra. Helen Mirren e Vanessa Redgrave fazem pequenos papéis nesse drama contundente dirigido por Sean Penn.
A COSTA DE MOSQUITO
(The Mosquito Coast, 1986, 118 minutos, direção Peter Weir)

Inconformado com as limitações da vida urbana, Allie Fox (Harrison Ford) parte com mulher (Helen Mirren) e filhos para uma região ainda selvagem da América Central. Mas o que ele pensava ser uma vida paradisíaca pouco a pouco se revela uma difícil batalha pela sobrevivência. Filme pouco lembrado na filmografia de Harrison Ford, mas saudado pelos fãs de Helen Mirren como seu primeiro filme como protagonista nos Estados Unidos. Baseado no romance de sucesso de Paul Theroux, autor que adora criar personagens inconformados com a vida urbana americana que acabam caindo no mundo. Um belo filme de Peter Weir, altamente recomendável.


NOSSO MOVIEGOER FÁBIO CAMPOS FOI ASSISTIR "DE CANÇÃO EM CANÇÃO", NOVO FILME DE TERRENCE MALICK, E GOSTOU DO QUE VIU



Terrence Malick tem uma trajetória muito particular. No início da carreira dirigiu dois filmes bastante elogiados -- o ultimo deles, "Cinzas no Paraíso", no longínquo 1978 --, aí interrompeu a carreira por 20 anos. Mesmo assim, quando retornou, dirigindo "Além da Linha Vermelha", foi muito celebrado e conseguiu angariar, em Hollywood, um batalhão de estrelas de primeira grandeza para o filme. Daí em diante vem mantendo uma razoável constância.

Por essa trajetória dá para perceber que ele está longe de se encaixar nos padrões da indústria. Nem entrevistas ele dá. Mas essa reputação é o bastante para ele conseguir filmar à sua maneira. Seus filmes são extremamente autorais, sem nenhuma concessão comercial, mas, mesmo assim, ele sempre tem financiamento disponível uma fila de astros sempre prontos para trabalhar com ele.

Confesso que Malick está muito distante dos meus cineastas favoritos -- digo mais ainda, acho praticamente todos os seus filmes chatíssimos.

Mas resolvi encarar "De Canção em Canção".


O filme se passa em Austin e tem como pano de fundo a cena musical da cidade. Você provavelmente já viu o argumento da estória em vários filmes: jovem músico encontra produtor que promete fazê-lo famoso, mas é tentado a abrir mão dos seus ideais a troco do sucesso. Pois acredite, aqui nada é contado do jeito que você imagina, portanto, o filme não vai na direção esperada.

Esse fiapo de trama é contado via um recorte de cenas belíssimas – essa, uma qualidade inequívoca dele – embalados por reflexões, ou por alguns poucos diálogos. Esse recorte não segue uma linha temporal, exigindo muita atenção do expectador. Isso incomoda profundamente as plateias acostumadas com narrações lineares e cheias de explicações. Várias pessoas saem no meio do filme. Outras se mexem constantemente, claramente incomodadas.

Somente dessa vez, consegui embarcar na viajem de Malick, talvez pelo tema parecer mais acessível, ou por me esforçar mais, não sei. Só sei que me rendeu uma ótima experiência.

Pela primeira vez um filme de Terrence Malick não me pareceu chatíssimo, segurou minha atenção durante todos os 129 minutos e me levou a várias reflexões.


Apesar de ter a indústria fonográfica com pano de fundo, a essência do filme está nas relações amorosas. Assistimos aos encontros, desencontros, aspirações, frustrações, dilemas dos personagens principais, jovens, lindos, transitando por ambientes deslumbrantes e convivendo com músicos famosos. Apesar disso, o que mais transparece é o vazio. As raras cenas de genuína felicidade e afeição saltam aos olhos e sempre se dão na maior simplicidade. Natalie Portman, por exemplo, nunca me pareceu tão deslumbrante quanto nas suas primeiras cenas, como garçonete, antes de embarcar na sedução do personagem de Fassbender.

Todos os personagens são muito intensos e emblemáticos. Enquanto Cate Blanchett aparece como a depressão encarnada numa figura humana, Fassbender surge como uma espécie de demônio, que inveja a simplicidade, mas que perdeu a humanidade para alcançá-la. Não por acaso, os dois personagens são extremamente bem-sucedidos financeiramente e usam isso fortemente nas suas relações amorosas.

Enquanto Ryan Gosslin, atravessa o filme se equilibrando entre tentações e a tentativa de manter uma certa pureza, Rooney Mara, ao contrário, mergulha de cabeça em tudo que encontra pela frente.

Tudo isso, combinado com a cena musical de Austin, artistas e plateias enfurecidas, acaba dando um panorama da vida idealizada e desejada atualmente, especialmente pelos mais jovens. Num contraponto, temos uma participação especial de Patti Smith como uma espécie de antítese desse modo de vida.

O filme funciona como uma ode à vida simples, assim como o recente "Patterson" de Jim Jarmush. Mas aqui, ao invés de nos mostrar os méritos da vida simples, somos confrontados com as consequências trágicas da falta dela. Todos parecem sufocados pela ambição e pela maldição de conseguirem realizar todos os seus desejos.

Prá você, "De Canção em Canção" pode ser tudo isso, algo completamente diferente -- ou as duas horas mais entediantes dos últimos tempos.

Depende de como embarcar na viagem.


DE CANÇÃO EM CANÇÃO
(Song to Song, 2017, 129 minutos)

Roteiro e Direção
Terrence Malick

Cinematografia
Emmanuel Lubeski

Produção
Nicolas Gonda
Sarah Green
Ken Kao

Elenco
Ryan Gosling
Rooney Mara
Michael Fassbender
Natalie Portman
Cate Blanchett
Holly Hunter
Bérénice Marlohe
Val Kilmer

em cartaz no Caixa Belas Artes, no Reserva Cultural
e no Espaço Itaú Augusta e Frei Caneca

estreia em Santos assim que as férias de Julho acabarem
e os filmes pipoca começarem a sair de cartaz




Fábio Campos convive com filmes
e com música desde que nasceu,
50 anos atrás.
Em seus textos sobre cinema,
Fábio se posiciona não como um crítico,
mas como um moviegoer esclarecido,
e seus comentários passam ao largo
da orbrigatoriedade da objetividade
que norteia a maioria dos resenhistas.
Fábio é colaborador contumaz
de LEVA UM CASAQUINHO.

A CONTA DO MOTEL (uma crônica de Marcus Vinícius Batista)



O encontro semanal era religioso. As três podiam faltar à missa ou se esquecer do culto, mas o final da tarde de segunda era sagrado. Paula, Andréia e Jussara se encontravam no mesmo cafezinho do centro de comercial, meio do caminho para todas.

Entre uma bebida quente com adoçante, um salgado integral e uma sobremesa diet, as três atualizavam o papo, faziam confissões e acabavam sempre na mesma pauta: maridos, namorados, cachos, transas eventuais, nomes que variavam conforme o status atual do colaborador. Como trabalhavam no mundo corporativo, adoravam incorporar os termos na vida pessoal. Achavam que, assim, garantiriam os empregos e seriam pró-ativas.


Depois dos beijos e das perguntas mecânicas sobre família, trabalho e tal, sentaram-se, fizeram os pedidos e Jussara, sem cerimônia, despejou nas amigas:


— Terminei com o Paulão!


— Mas você não estava apaixonada? Disse que queria ter filhos com o cara, só enchia o saco com as histórias dele, - reagiu Paula.


— Enchia o saco? Estava apaixonada sim. Mas certos deslizes – vamos dizer assim – são imperdoáveis. Dói, mas não posso continuar com alguém que faz uma coisa dessas.


— Já sei. O filho da puta não agüentou dois meses sem te chifrar. Não acredito! Fez o que tinha que fazer. Amiga minha não assina atestado de corno.


Jussara olhou para Andréia como se não compreendesse a reação agressiva. De onde ela tirou essa ideia?, pensou. Paulão era perfeito. Ou quase.


— Não foi chifre. Neste ponto, ele era um santo. Marcava em cima, e ele nunca escorregou.


— Então, o cara é broxa. Ou pior: tem namorado. Gay só amigo, minha filha. Não dá para sonhar em mudar o fulaninho, não.


— Você piraram? Ele é ótimo de cama. Nunca tinha experimentado igual. E me pegava como macho.


— Você dizia a mesma coisa do seu ex-marido.


Jussara ignorou a provocação gratuita de Paula e resolveu entrar no joguinho delas. Quando precisava se valorizar, brincava – inconscientemente - de esconde-esconde.


— Quando se ama um homem, ele é sempre o melhor. Ainda que o brinquedo não funcione de vez em quando. Mas amor não é só sexo. É atitude, é a forma de tratar uma mulher.


As duas olharam arregaladas. Andréia, imediatamente, pegou nos braços de Jussara e procurou por marcas, manchas roxas, arranhões, o que pudesse provar a brutalidade daquele animal.


— O cara te bateu! Filho da puta! Você não foi à polícia? Eu vou contigo. Ele tem que preso pelo que fez. Homem que bate em mulher merece virar mulherzinha na cadeia.


Jussara não entendia porque as amigas estavam tão amargas. Crucificavam o Paulão. Os dois tinham passado mais um final de semana maravilhoso. Ele a levara para jantar comida japonesa, transaram quase a madrugada toda, mais cineminha no domingo e a madrugada de domingo para segunda no motel. Aí, o namoro levou o golpe de morte.


— Não é nada disso, Nunca teve violência, chifre ou broxada. Ele também não é gay. A única violência foram aquelas pegadas normais que todo homem deve ter. O problema é outro. Sexo e dinheiro.


— Garotas de programa? Sabia que o cara desviava. Saia com elas ou te propôs alguma coisa mais indecente? Nunca imaginei que você tivesse vocação para santinha e ficasse horrorizada com um convite assim.


Jussara levantou a voz, louca para contar o motivo da separação e aborrecida por tantas bolas fora das amigas. Contou até cinco, respirou fundo e disse pausadamente:


— Acabei com Paulão porque ele me propôs dividir a conta do motel.


— Como assim? Explica para a idiota aqui.


Paula traduzia em palavras as feições de Andréia, que passava a mão no rosto e nos cabelos. Então, Paula resolveu dar sermão. Nestas horas, falava como homem.


— Que palhaçada é essa? Terminou porque o cara não quis pagar o motel sozinho. Você não é mulher independente, não quer direitos e deveres iguais, não dizia que vocês dividiam tudo, até as despesas? Como é que larga um homem desses por causa do motel? Quer dizer, da conta do motel?


— Olha, topo dividir conta, cheguei a emprestar dinheiro para ele uma vez. Ele me pagou direitinho. Discutíamos tudo, mas motel não dá. Lá, não pago conta nenhuma.


— Mas por que, criatura de Deus?


— O motel é um momento de intimidade, de cumplicidade. E de liberdade, também. Onde se faz certas coisas que ficam por lá. Não é apenas sexo. O relacionamento começa quando se entra no motel e termina quando se sai dele. Quando a portinha da garagem se fecha. Se o homem é o ativo, tem que estar no comando até o final. Não tem essa história de troca. Dividir conta é troca. E, nessas horas, não gosto de homem sensível não.


— Sensível?


— É ... tem que cumprir o que promete. A ideia do motel foi dele.


— E se fosse sua?


— Não muda nada. Motel é território neutro. Mas alguém tem que assumir o controle da situação. Ele começou, que terminasse.


— Não adianta dizer o contrário. Está feito. Mas, me diga uma coisa, quanto deu a conta?, perguntou Paula.


— Quarto mais jantar, em torno de R$ 150.


— Então a sensibilidade do Paulão custou R$ 75, calculou Andréia.


— Paciência com homem assim não se divide não. E eu disse, duas vezes, para a gente dormir na minha casa.



(publicado originalmente em Conversas e Distrações em 5 de setembro de 2010)



 
Marcus Vinícius Batista
é o cronista santista número um, ponto.
É autor de "Quando Os Mudos Conversam"
Realejo Livros)
coletânea de crônicas escritas
entre 2007 e 2015
e mantém uma coluna semanal
no Boqueirão News
que é aguardada com avidez
por sua legião de leitores.
Atendendo a um pedido
de LEVA UM CASAQUINHO,
ele se dispôs a resgatar
algumas de suas crônicas favoritas
escritas nos últimos anos
para republicação no BAÚ DO MARCÃO.

CAFÉ E BOM DIA #68 (por Carlos Eduardo Brizolinha)



Sim eu sei, repentinamente desliguei as rodas do mundo e parei para
Ver os olhos de Elizabeth Taylor,
a Barbarelice de Jane Fonda dançando sensualidade,
as pernas perfeitas de Cyd Charisse,
Busto de Jane Mansfield
E o olhar mágico de Lauren Bacall.
A leveza, suavidade irrepreensível de Ginger Rogers,
a voz de Shirley Jones,
a mítica Greta Garbo
e Betty Davis,
de Miss Davis que dizer então.
Os cabelos de Maureen O'Hara,
também os cabelos ondulados de Gene Tierney,
O nariz de Barbra Streisand,
A delicada Grace Kelly. Ainda faltam Loretta Young, Joan Crawford, Lena Horne, Katherine Hepburn, Vivian Leigh, Theda Bara e Claudia Cardinale.
Agradeço demais Vilson e Osvaldo e a gentileza da Isabel Nascimento pelo registro.
Minha felicidade em rever filmes que marcaram minha vida não pode ser escrita.
Eu, Lucy e minha mãe estamos em êxtase.



Bette Davis teve seu apogeu nos anos 40. trabalhou em mais de 100 filmes dos quais tenho um quinto deles. Miss Davis subiu as escadarias do sucesso quando entrou para o cast da Warner e foi uma loucura seus filmes nos anos 40. Dos 20 filmes que tenho de Miss Davis quase metade são desta década. Embora o mais reverenciado seja " A Malvada " o que dizer de " A Estranha Passageira " ? " Jezebel " é do final dos anos 30 e no papel de Julie Mardsen veio seu segundo Oscar, já havia sido agraciada em 1936 como Joyce Heath em " Mulher Perigosa ". Trabalhou com grandes diretores tais como Mankiewicz, Aldrich, Wyler. Confesso que em " Dama por um dia " dirigida por Frank Capra em 1961 teria outra pegada se filmado 20 anos antes, mas Miss Davis é Miss Davis e podemos verificar em " As Baleias de Agosto " direção de Lindsay Anderson de 1987 com quase 80 anos. Salve George Cukor que lhe deu a primeira oportunidade e Ibsen que foi inspiração para seguir carreira de atriz.



A última vez que assisti " A Malvada " faz tanto tempo que não sei precisar a data, mas com certeza foi ao lado de minha avó. Que saudades tenho da minha avó! Foi ela que me levou a primeira vez num cinema quando tinha 6 anos de idade, muito embora por não ter com quem me deixar. Contudo foi inesquecível. Nos anos 70 assistíamos sessão coruja quase todas ás noites e foi nestas noites que destituí Jean Arthur, Loretta Young para eleger Betty Davis como número um do meu ranking de preferidas. Na televisão quase todos os filmes eram dublados, a voz de Miss Davis não era a voz de Miss Davis. Faz aproximadamente 20 anos atrás estou eu de costas e ouço uma voz! - O senhor poderia me dizer onde fica o Mendes Hotel? Não tive duvidas, respondi com uma pergunta. A quem devo a honra de receber Betty Davis? Era Laura Cardoso. Nesta manhã de domingo reencontro Margo Channing/Betty Davis na direção de Joseph Mankiewicz. A voz da Betty Davis é a voz de Betty Davis, mas confesso minha saudade da voz de Laura Cardoso. Não pense que parei ai, estou com Jezebel no gatilho.



Assisti " Chaplin " depois de longo tempo. Já houvera assistido outras vezes e confesso que desta vez, mais do que outras, me comovi muito. São fragmentos da " Minha Autobiografia " e " Chaplin - Vida e Arte " que Atenborough dirige obedecendo a cronologia. Uma pena não aparecer a cena do Oscar de 1972, mas fui buscar no youtube para me comover mais ainda com um dos maiores gênios que passaram pelo mundo.



NUNCA CONTE NADA A NINGUÉM, SE O FIZER, VAI SENTIR FALTA DE TODOS ". Assim Holden Caulfield afirma em " O Apanhador nos Campos de Centeio ". Pensando na vida e tomando café, me vem a imagem de GUY MONTAG, o bombeiro de FAHRENHEIT que abre seu duto para aplacar sua insatisfação para poder entender e explicar tantos questionamentos. Mais um gole de café e penso ter amanhecido cheio de bobagens na cabeça, levanto me e antes de começar a jornada do miolinho da semana, assim diz Imara todas as quartas feira, assumo o Bartleby que existe em mim e desacato, rasgo verdades estabelecidas do convívio social e profiro com convicção " EU PREFIRO NÃO FAZER, DIZER, SAIR, COMER, LEVANTAR ". PARA PODER TER A PAZ E O SILENCIO NECESSÁRIO. BOM DIA E MAIS UM CAFÉ POR FAVOR.


 

Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada à Rua Bahia sem número,
quase esquina com Avenida Mal. Deodoro,
bem ao lado do Empório Homeofórmula,
onde bebe diversas xícaras de café orgânico
ao longo de seu dia de trabalho.






O ABRIDOR DE LATAS (uma bofetada do passado por Millôr Fernandes)


(pela primeira vez no Brasil, um conto escrito inteiramente em câmera lenta)

Quando esta história se inicia já se passaram quinhentos anos, tal a lentidão com que ela é narrada. Estão sentadas à beira de uma estrada três tartarugas jovens, com 800 anos cada uma, uma tartaruga velha com 1.200 anos, e uma tartaruga bem pequenininha ainda, com apenas 85 anos. As cinco tartarugas estão sentadas, dizia eu. E dizia-o muito bem pois elas estão sentadas mesmo. Vinte e oito anos depois do começo desta história a tartaruga mais velha abriu a boca e disse:

- Que tal se fizéssemos alguma coisa para quebrar a monotonia dessa vida?

- Formidável - disse a tartaruguinha mais nova 12 depois - vamos fazer um pique-nique?

Vinte e cinco anos depois as tartarugas se decidiram a realizar o pique-nique. Quarenta anos depois, tendo comprado algumas dezenas de latas de sardinha e várias dúzias de refrigerante, elas partiram. Oitenta anos depois chegaram a um lugar mais ou menos aconselhável para um pique-nique.

- Ah - disse a tartaruguinha, 8 anos depois - excelente local este!


Sete anos depois todas as tartarugas tinham concordado. Quinze anos se passaram e, rapidamente elas tinham arrumado tudo para o convescote. Mas, súbito, três anos depois, elas perceberam que faltava o abridor de latas para as sardinhas.

Discutiram e, ao fim de vinte anos, chegaram à conclusão de que a tartaruga menor devia ir buscar o abridor de latas.

- Está bem - concordou a tartaruguinha três anos depois - mas só vou se vocês prometerem que não tocam em nada enquanto eu não voltar.


Dois anos depois as tartarugas concordaram imediatamente que não tocariam em nada, nem no pão nem nos doces. E a tartaruguinha partiu.

Passaram-se cinqüenta anos e a tartaruga não apareceu. As outras continuavam esperando. Mais 17 anos e nada. Mais 8 anos e nada ainda. Afinal uma das tartaruguinhas murmurou:

- Ela está demorando muito. Vamos comer alguma coisa enquanto ela não vem?

As outras concordaram, rapidamente, dois anos depois. E esperaram mais 17 anos. Aí outra tartaruga disse:

- Já estou com muita fome. Vamos comer só um pedacinho de doce que ela nem notará.

As outras tartarugas hesitaram um pouco mas, 15 anos depois, acharam que deviam esperar pela outra. E se passou mais um século nessa espera. Afinal a tartaruga mais velha não pôde mesmo e disse:

- Ora, vamos comer mesmo só uns docinhos enquanto ela não vem.

Como um raio as tartarugas caíram sobre os doces seis meses depois. E justamente quando iam morder o doce ouviram um barulho no mato por detrás delas e a tartaruguinha mais jovem apareceu:

- Ah, murmurou ela - eu sabia, eu sabia que vocês não cumpririam o prometido e por isso fiquei escondida atrás da árvore. Agora não vou buscar mais o abridor, pronto!

Fim (30 anos depois).





Na sua estréia na Revista VEJA em 1968,
Millôr Fernandes apresentou-se com o texto a seguir:

SUPERMERCADO MILLÔR ANO I - Nº1
(Autobiografia de mim mesmo
à maneira de mim próprio)

"E lá vou eu de novo, sem freio nem pára-quedas. Saiam da frente, ou debaixo que, se não estou radioativo, muito menos estou radiopassivo. Quando me sentei para escrever vinha tão cheio de idéias que só me saíam gêmeas, as palavras -- reco-reco, tatibitate, ronronar, coré-coré, tom-tom, rema-rema, tintim-por-tintim. Fui obrigado a tomar uma pílula anticoncepcional. Agora estou bem, já não dói nada.

Quem é que sou eu? Ah, que posso dizer? Como me espanta! Já não fazem Millôres como antigamente! Nasci pequeno e cresci aos poucos. Primeiro me fizeram os meios e, depois, as pontas. Só muito tarde cheguei aos extremos. Cabeça, tronco e membros, eis tudo. E não me revolto. Fiz três revoluções, todas perdidas. A primeira contra Deus, e ele me venceu com um sórdido milagre. A segunda com o destino, e ele me bateu, deixando-me só com seu pior enredo. A terceira contra mim mesmo, e a mim me consumi, e vim parar aqui. ... Dou um boi pra não entrar numa briga. Dou uma boiada pra sair dela. ...Aos quinze (anos) já era famoso em várias partes do mundo, todas elas no Brasil. Venho, em linha reta, de espanhóis e italianos. Dos espanhóis herdei a natural tentação do bravado, que já me levou a procurar colorir a vida com outras cores: céu feito de conhas de metal roxo e abóbora, mar todo vermelho, e mulheres azuis, verdes ciclames. Dos italianos que, tradicionalmente, dão para engraxates ou artistas, eu consegui conciliar as duas qualidades, emprestando um brilho novo ao humor nativo. Posso dizer que todo o País já riu de mim, embora poucos tenham rido do que é meu. Sou um crente, pois creio firmemente na descrença.

...Creio que a terra é chata. Procuro não sê-lo. ...Tudo o que não sei sempre ignorei sozinho. Nunca ninguém me ensinou a pensar, a escrever ou a desenhar, coisa que se percebe facilmente, examinando qualquer dos meus trabalhos. A esta altura da vida, além de descendente e vivo, sou, também, antepassado. É bem verdade que, como Adão e Eva, depois de comerem a maçã, não registraram a idéia, daí em diante qualquer imbecil se achou no direito de fazer o mesmo. Só posso dizer, em abono meu, que ao repetir o Senhor, eu me empreguei a fundo. Em suma: um humorista nato. Muita gente, eu sei, preferiria que eu fosse um humorista morto, mas isso virá a seu tempo. Eles não perdem por esperar." Há pouco tempo um jornal publicou que Millôr estava todo cheio de si por ter recebido, em sua casa, uma carta de um leitor que estava assim sobrescritada: "Millôr Ipanema" É a glória!