Thursday, December 31, 2015

A FOLHINHA DE 2016 DE LEVA UM CASAQUINHO (NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE)









DUAS OPINIÕES SOBRE 'OS 8 ODIADOS", A NOVA EXTRAVAGÂNCIA DE QUENTIN TARANTINO

'OS OITO ODIADOS": UMA AVENTURA CINEMATOGRÁFICA DE UM REALIZADOR NO TOPO DE SEUS PODERES
(por Roberto Bueno Mendes para Observatório de Cinema)

Quentin Tarantino, quando surgiu na indústria cinematográfica com CÃES DE ALUGUEL (1992), cujo roteiro e direção são dele, impactou esse indústria para sempre. A maneira como Quentin realiza seus filmes acabou influenciando diretores e roteiristas até hoje. Em cada um dos filmes seguintes, ele foi testando fazer um estilo de filme. No último, DJANGO LIVRE (2012), ele entrou no mundo dos westerns. E Quentin Tarantino retorna a este gênero com o seu mais recente longa, OS OITO ODIADOS.

A história de OS OITO ODIADOS se passa no estado do Wyoming, após a Guerra Civil americana. Uma diligência é obrigada a parar em um armazém de beira de estrada por causa de uma forte nevasca que a alcança. O veículo é conduzido por O.B Jackson (James Parks, de Django Livre).

O.B foi contratado para levar em sua diligência o caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russel). John conduz, algemado a ele, a bandida Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) para que seja enforcada. Antes de chegarem ao Armazém da Minnie, eles encontram na estrada o ex-major do exército dos Estados Unidos, Marquis Warren (Samuel L. Jackson) e o renegado confederado, Chris Mannix (Walton Goggins) que se diz o novo xerife da cidade que é destino de John.

No Armazém da Minnie, os três passageiros da diligência encontram o mexicano Bob (Demian Bichir) que está cuidando do local na ausência de Minnie e seu marido, Sweet Dave; o carrasco inglês Oswaldo Mobray (Tim Roth); o vaqueiro Joe Cage (Michael Madsen) e o ex-general Sandy Smithers (Bruce Dern). Pronto, os oito odiados do título estão reunidos. Desconfianças, revelações, rixas, descobertas e heroísmo serão apresentados aos espectadores das mais diferentes formas a partir de então.

O roteiro de OS OITO ODIADOS é exatamente o oitavo de Quentin Tarantino em que ele também cuida da direção. A história contada desta vez tem menos violência e ação do que as dos filmes anteriores, como BASTARDOS INGLÓRIOS (2009) e DJANGO LIVRE. Isso não é ruim, porém poderá decepcionar ou frustrar alguns fãs ardorosos do diretor norte-americano. Neste roteiro, ele se baseou mais nos suspense e na surpresa para desenvolver a sua história.

Em entrevista coletiva, na qual o Observatório do Cinema participou, Quentin revelou que se baseou no filme de 1982, de John Carpenter, O ENIGMA DE OUTRO MUNDO. Apesar deste não ser um western e, sim, um horror de ficção científica, o clima entre os personagens deste filme foi uma das premissas utilizadas em OS OITO ODIADOS.

Na direção do longa, ele realizou um trabalho digno de nota ao fazer cenas memoráveis, como quando do encontro do major pelo caçador de recompensas e em uma das primeiras cenas de tiroteio no armazém. O trabalho dele com os atores também pode ser percebido pela “dança” deles no principal cenário no qual se torna o armazém. A movimentação – ou a falta de – é precisa, tanto para o que estão em quadro, quanto para os não estão. Desta forma se não estraga o que está sendo construído em cena e nada é revelado acidentalmente, sem que se queira. As atuações de todos os atores que aparecem também estão muito boas. Quando a escalação do elenco é bem realizada, como foi a de Victoria Thomas, não há atores ou atrizes que enfraqueçam o todo. Muito pelo contrário. Podemos destacar o trabalho maravilhoso de Kurt Russel. Kurt consegue estar perfeitamente em seu complexo personagem que é John Ruth. John pode ir da atenção à brutalidade em segundos. Também se deve falar da interpretação magnífica de Jennifer Jason Leigh. A atriz consegue transmitir os sentimentos da sua personagem de tal forma que em alguns momentos ela não precisaria nem de fala. Walton Goggins é outro ator que merece ser lembrado, porque interpreta o seu personagem de maneira perfeita, levando realmente o espectador a ver na tela um típico rapaz do velho oeste americano. As imagens do cinegrafista Robert Richardson, que já trabalhou com Quentin em DJANGO LIVRE, também deixam qualquer um tonto. O filme, diga-se, foi filmado em película de 70mm. No Brasil, infelizmente, não será projetado assim. Aqui, ele será exibido em formato digital IMAX. Robert, ao mostrar a nevasca e depois ao filmar praticamente em um único cenário, conseguiu deixar a tensão fluir pelas câmeras. Mesmo sem exagerar em close-ups, percebe-se perfeitamente o estado dos personagens. Quentin Tarantino conseguiu que um dos compositores mais clássicos de trilhas sonoras, o italiano Ennio Morricone, que fez temas para westerns spaghetti de Sergio Leone e para outros já clássicos filmes, como ERA UMA VEZ NA AMÉRICA (1984), compusesse para o Os 8 Odiados. Então, longo de inicio, uma música, que com certeza se tornará tão clássica quanto as já feitas por Ennio, começa e com certeza não será tão cedo esquecida. A edição do longa coube ao Fred Raskin. Outro velho conhecido do diretor, pois também foi o editor de DJANGO LIVRE e assistente de edição em KILL BILL. Fred, ao trabalhar com o material fornecido por Quentin e Robert, provavelmente, não teve problema algum para montá-lo. Não existem dificuldades de entendimento da história, confusões de imagens em relação ao que contado, mesmo com as constantes idas e vindas. Mesmo que a versão assistida ainda precisasse de mais pós-produção, o que foi mostrado já estava muito bem feita. O que é incrível. Isso demonstra que Quentin Tarantino sabe muito bem manejar todas as ferramentas disponíveis com as quais um criador poder realizar um filme. Porque se mesmo quando ainda não está finalizado, o longa já tem uma qualidade excepcional, o diretor sabe o quer e o que faz. 

 "OS OITO ODIADOS" E O PRAZER EM CONTAR HISTÓRIAS
(por Bruno Carmelo para AdoroCinema)

Um mexicano, um inglês, um xerife e um negro entram em um bar. Isto poderia ser o início de uma piada, mas é a premissa do oitavo filme de Quentin Tarantino, que enclausura oito tipos sociais muito precisos dentro de um pequeno armazém para assisti-los se digladiarem. O mecanismo perverso poderia soar artificial, mas funciona porque nenhum dos personagens possui mais voz do que o outro, e nenhum corresponde ao ideal do herói – como era o ex-escravo de DJANGO LIVRE. O espectador observa o ringue à distância, sem ter para quem torcer.

A introdução é longa, paciente, comprovando a paixão do diretor pela construção dos espaços e dos diálogos. Tarantino faz com que seus personagens apresentem uns aos outros para terceiros: “Nossa, esse é o xerife! Como assim, você não conhece o xerife? Deixa eu te contar quem ele é”, ou então “Esse é o carrasco, quando ele pega alguém, esta pessoa sempre morre enforcada”. Fala-se do passado dos protagonistas, de suas características, do seu temperamento. As imagens são compostas com precisão e os diálogos estão afiados como sempre, mas o fato é que os primeiros 80 minutos são arrastados, porque nenhuma ação se desenrola diante dos olhos do espectador: elas são contadas em voz indireta, cabendo ao público imaginá-las.

O filme sofre uma transformação brutal e excelente com a entrada do próprio Tarantino, que além de ser diretor e roteirista, também faz as vezes de narrador, comentando as numerosas reviravoltas. Ao longo de sua filmografia, o cineasta desenvolveu uma persona tão talentosa quanto histriônica, sempre a um passo de canibalizar as próprias histórias. Neste caso, ele se introduz na trama, faz citações às suas obras (partes do clímax constituem referências diretas a BASTARDOS INGLÓRIOS e CÃES DE ALUGUEL), utiliza seus atores-fetiche de modo a espelhar os papéis deles em filmes anteriores do autor. É inegável que Tarantino vem construindo um universo cinematográfico homogêneo e de alta qualidade, mas um tanto egocêntrico.

Depois que todos os protagonistas se fecham no Armazém da Minnie, a narrativa manifesta uma ousadia impressionante. Ao invés de seguir os moldes clássicos de DJANGO LIVRE, o diretor cria uma obra de forma voluntariamente plural, apostando nas reviravoltas, nos excessos, nos flashbacks, na montagem paralela e em diversos outros recursos. A divertida reunião dos odiados traz toda a cota de sangue que se espera do grupo e do diretor, com direito a comentários sociais afiados a respeito da posição social das mulheres, dos negros, dos imigrantes e de outras minorias.

Assim, OS OITO ODIADOS efetua um retrato da pluralidade social americana. A provocação a Abraham Lincoln (a carta escrita pelo presidente) constitui a cereja no bolo deste retrato da América selvagem entre quatro paredes. A filmagem em 70mm coroa a ironia criativa do projeto: Tarantino desejava ter a maior dimensão imagética possível para retratar um lugar pequeno, obtendo um efeito ao mesmo tempo íntimo e abrangente, minimalista e épico.

O desconforto provocado pelo choque entre a amplitude da imagem e o minimalismo da narrativa contribui a gerar o aspecto de terror, que talvez seja o gênero principal deste projeto. Rumo à conclusão, a obra abandona as ferramentas do faroeste para mexer com os nervos do espectador e manipular seus personagens de um modo que apenas o cinema de horror mais sanguinário costuma fazer. Neste aspecto, OS OITO ODIADOS estabelece um paralelo com outro projeto de exploitation do cineasta, o ótimo À PROVA DE MORTE. A trilha de Ennio Morricone, curiosamente criada antes de o compositor ver uma imagem sequer, reforça a aparência de terror, com o tema tenso, em cordas, se intensificando rumo ao clímax catártico.

No que diz respeito à estética, Tarantino continua mestre da diversidade de linguagens cinematográficas. É impressionante como ele consegue dominar as regras do cinema clássico – especialmente na primeira metade, com as cenas na nevasca –, subvertendo-as na metade final com os recursos mais anárquicos do cinema de gênero. O dinamismo dentro do armazém é impressionante, assim como o controle das atuações, todas homogêneas e eficazes. O cineasta sabe extrair o melhor de Samuel L. Jackson e Kurt Russell, além de pedir a Jennifer Jason Leigh e Tim Roth para fazerem tipos excessivos, algo que ambos executam com um prazer manifesto.

É uma pena que Bruce Dern e Michael Madsen sejam mal aproveitados pela história, e que algumas aparições inesperadas, na segunda parte, tenham uma importância narrativa menor do que o esperado. Percebe-se igualmente a dificuldade do cineasta em ocupar seus oito personagens simultaneamente: enquanto mostra dois ou três odiados de cada vez, imagina-se o que os outros estariam fazendo logo ao lado, presos naquele espaço. Tarantino sabe muito bem o que deseja mostrar, mas não possui o mesmo controle com o espaço sonoro e imagético hors-champ, fora do quadro. De fato, não é fácil controlar oito personalidades tão distintas, presentes ao mesmo tempo, no mesmo local, durante quase três horas. (Seria interessante imaginar o que um cineasta radicalmente diferente de Tarantino, como o mestre da crueldade e do hors-champ Michael Haneke, faria com esta mesma história).

Mas Tarantino permanece um exímio manipulador de sensações, entregando reviravoltas que não tinha prometido, frustrando aquelas que se esperava, voltando em questões que pareciam desimportantes, mentindo descaradamente para o espectador sobre alguns aspectos. OS OITO ODIADOS pode não ser o projeto mais coeso, nem o mais criativo do cineasta, mas revela um autor de 52 anos que filma com a jovialidade e irreverência de um adolescente, transparecendo um prazer imenso em brincar com o público, com a câmera, com os personagens. Enquanto demonstrar tamanha disposição para combinar e transformar gêneros, extrapolar regras e códigos de boas maneiras do cinema, seus filmes serão sempre muito prazerosos de assistir.

OS OITO ODIADOS
(The Hateful 8, 2015, 168 minutos)

Direção e Roteiro
QUENTIN TARANTINO

Fotografia
ROBERT RICHARDSON

Produção
RICHARD N GLADSTEIN
STACEY SHEER
BOB & HARVEY FEINSTEIN

Trilha Sonora
ENNIO MORRICONE

Elenco
SAMUEL L JACKSON
KURT RUSSELL
JENNIFER JASON LEIGH
WALTON GOGGINS
MICHAEL MADSEN
TIM ROTH
DEMIEN BICHIR
BRUCE DERN



em pré-estreia no Cinespaço Miramar Shopping




DUAS VISÕES SOBRE "MACBETH", A MAIS NOVA AVENTURA SHAKESPEARIANA NO CINEMA




JUSTIN KURZEL FAZ ADAPTAÇÃO CHEIA DE SOM E FÚRIA DA TRAGÉDIA DE SHAKESPEARE
(por Marcelo Hessel para OMELETE)

O eixo das montagens de William Shakespeare sempre está no texto, na força dos diálogos do dramaturgo, e é a partir dele que adaptações fazem variações na encenação, na ambientação, ou tomam liberdades com a trama. Mesmo filmes como o Romeu + Julieta de Baz Luhrmann, por desvairada que seja a releitura, fiam-se na palavra (no caso, cantada).

Já Macbeth, versão dirigida pelo australiano Justin Kurzel, parte de uma premissa tão corajosa quanto arriscada: inverter o eixo e colocar o visual em primeiro lugar. São as câmeras lentas, os filtros de cor e as intervenções digitais que dão o tom e o ritmo deste seu segundo longa-metragem, em que os diálogos mantidos no inglês arcaico de Shakespeare servem para amarrar situações pautadas pela estilização.

Na tragédia, Macbeth é um general do exército escocês que, influenciado pela profecia de três bruxas, pelo vislumbre do poder e pelos apelos de Lady Macbeth, decide assassinar o rei Duncan e tomar para si o reino da Escócia. Michael Fassbender faz um Macbeth com inegável presença de cena, nas batalhas e na corte, oferecendo o vigor físico necessário para viabilizar a releitura expressionista de Kurzel. Um pouco subaproveitada no papel, Marion Cotillard cria uma Lady Macbeth com as duas facetas indispensáveis à personagem: a sede sinistra por poder e, depois, a fragilidade da rainha.

O que Kurzel não parece entender, porém, é que essa sua inversão de eixo está fadada a implodir. Em Macbeth, Shakespeare trata do ridículo dos grandes planos, da pequenez do homem e seus esforços de grandiloquência - da vida que é como uma história "contada por um idiota cheia de som e fúria e que não significa nada". Essa fala, a mais famosa da peça, está no filme de Kurzel, mas o diretor contraria frontalmente a lição de Shakespeare ao encher sua adaptação de som e fúria, e ao tomá-los como uma certeza, como um norte.

Kurzel não desconfia dos artifícios, enfim, e se seu Macbeth parece terminar como um exercício de exibicionismo, essa impressão só é reforçada pelo texto original. Como a serpente, Shakespeare também pode ser traiçoeiro com os aventureiros.







"MACBETH" EXPLORA A FORÇA DAS PALAVRAS DE SHAKESPEARE
(por Ailton Monteiro para PIPOCA MODERNA)



As palavras têm muita força, ainda mais quando escritas por William Shakespeare. Palavras levaram Othelo à perdição e Hamlet à loucura, mas foi com Macbeth que manifestaram seu poder mais devastador. Ditas por bruxas, são levadas à sério por um nobre demasiadamente mundano, virando maldição ao alimentar o que há de pior na alma humana.


Ver uma nova adaptação de “Macbeth” – assim como, aliás, de qualquer obra popular – é basicamente buscar apreciar o que ela traz de novo, percebendo o quanto da fonte foi preservada e a estrutura escolhida para apresentá-la. Recentemente, até o cinema brasileiro se aventurou pela mesma tragédia shakespeareana, resultando em “A Floresta que se Move”, que nem é tão original quanto se imagina.

A opção do diretor australiano Justin Kurzel (“Snowtown”) em “Macbeth – Ambição e Guerra” foi por preservar as palavras de Shakespeare, mantendo os diálogos rebuscados da peça original, mas montando o proscênio em locações autênticas das Highlands escocesas. O contraste é conflitante como a diferença entre o cinema e o teatro, resultando num trabalho esteticamente belo, mas frio.

Na prática, até as cenas de viés épico, que remontam à direção de arte e figurino de “Coração Valente” (1995), com os escoceses pintados e vestidos para a guerra contra os ingleses, são relegadas a mero pano de fundo, servindo para inaugurar o primeiro ato e introduzir o encontro entre Macbeth (Michael Fassbender), um general do exército escocês, com as três bruxas que lhe contarão que ele será um rei.

Aproveitando a encenação ao ar livre, Kurzel explora a paisagem com uma fotografia que privilegia o vermelho em diferentes tonalidades – o próprio céu é lindamente vermelho. Sem, entretanto, atingir o extremo sangrento de Roman Polanski em seu “Macbeth” escarlate de 1971. A nova versão não é tão violenta, mas não é por falta de mortes.

Como se sabe, a profecia das bruxas vira a cabeça de Macbeth que, incentivado pela esposa, Lady Macbeth (Marion Cotillard), passa a acreditar em seu destino e a racionalizar um plano para assassinar o rei vigente, o bondoso Duncan, vivido por David Thewlis. A força das palavras o impulsiona para sua própria destruição.

O filme destaca muito bem essa marca da peça, retomando o tema na cena em que Lady Macbeth ora para as forças do mal dentro de uma igreja cristã, tão disposta que estava em atingir o seu objetivo. Perturbador e um dos melhores momentos do longa, o chamado através das palavras contribui para o terrível pecado, que depois perturbará o espírito daqueles que o cometeram.

Mas a filmagem também contempla silêncios, que servem como contraponto para as palavras fortes e poéticas do texto. Servem também para imprimir uma atmosfera de crescente tensão, acentuada pela trilha sonora de Jed Kurzel, irmão do diretor e guitarrista da banda The Mess Hall, que valoriza instrumentos de percussão nos momentos mais intensos e violentos. Uma pena que todo esse cuidado não resulte na catarse esperada.




MACBETH
(2015, 113 minutos)

Direção
Justin Kurzel

Roteiro
Jakob Koskoff
Michael Lesslie

Elenco
Michael Fassbender
Marilon Cotillard
David Thewlis
Frank Madigan
Jack Madigan



em cartaz nas Redes Roxy, Cinemark e Cinespaço

Sunday, December 20, 2015

O PAPAI NOEL MERGULHADOR DE SEUL E SEU BALLET DE SARDINHAS NA IMAGEM DA SEMANA




Com essa bela imagem
do fotógrafo Chung Sung-Jun,
publicada na capa
do The New York Times
de 12 de Dezembro de 2015,
LEVA UM CASAQUINHO
deseja a todos
Boas Festas
e um 2016
menos obscuro
e menos infame
do que foi 2015

LEVA UM CASAQUINHO
volta 18 de Janeiro de 2016


POEMINHA DE DOMINGO QUASE NATAL (por Vinícius de Moraes)


POEMA DE NATAL
Vinicius de Moraes


Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.





Marcus Vinicius de Moraes
(18/10/1913 - 09/07/1980),
poeta, jornalista, compositor,
músico e diplomata
na linha direta de Xangô,
dispensa apresentações.
No poema acima
ele reflete sobre aquele que,
para muitos, é um dia triste.


PETIÇÃO DE PRINCÍPIO É O BLOG AMIGO DA SEMANA



PETIÇÃO DE PRINCÍPIO é um blog recém-fundado
sobre crítica cultural, filosofia e outros assuntos.

Que reúne um filósofo (Francisco Razzo),
um historiador (William Bottazzini)
e dois romancistas
(Gustavo Nogy e Alexandre Soares Silva)
em torno de um projeto em comum,
que merece toda a sua atenção. 

Para acessar
PETIÇÃO DE PRINCÍPIO
clique aqui



Saturday, December 19, 2015

40 ANOS DE CARREIRA NESTE FIM DE SEMANA NO SESC-BELENZINHO (por Guilherme Arantes)



Há exatos 40 anos eu havia saído do grupo Moto Perpétuo, e ainda morava com meus pais na Alameda Campinas, pertinho da Gazeta.

Estava matriculado na Fau USP (Arquitetura), onde não tinha passado do primeiro ano em matérias importantes, como Cálculo 1, Hidráulica 1, Fundamentos Sociais (Leo Huberman, Eric Hobsbawn), estava perdido mesmo...

Eu trabalhava na SEBES como estagiário de Arquitetura na Secretaria de Bem Estar Social, fazendo consertos e reparos nas creches de Itaquera, Guaianazes, São Miguel, creches atoladas de bebês, cheias de problemas...

Eu andava muito angustiado.

Meu pai brigava todos os dias porque eu queria mesmo a musica.

Juntei uns trocados e fiz uma fita de rolo, em 7,5 polegadas, no Estudio Pauta, na Major Quedinho, um estudio de 1 Canal, do querido Luiz Arruda Botelho, que se tornaria um amigão e incentivador...

Nessa fita, estavam "Meu Mundo e Nada Mais", "A Cidade e a Neblina", "Antes da Chuva Chegar", "Pégaso Azul", "Nave Errante", "Descer a Serra", "Não Fique Estática", "Lamento lhe Encontrar Triste", "Águas Passadas", entre muitas outras músicas inéditas, só com piano e voz.

Fizemos várias cópias, eu e o técnico, o querido "Black" Claudinho -- me lembro como se fosse hoje...

Deixei cópias na Philips, na RGE, na RCA, na Continental, e por fim fui me aventurar na Som Livre, na Rua Augusta, perto da Estados Unidos, onde fui recepcionado pela Sueli, secretária do Antonio Paladino.

Quem ouviu a fita foi o Otávio Augusto, cantor e compositor conhecido como Pete Dunaway, que nada prometeu, disse apenas pra eu deixar meu telefone.

Sem grandes ilusões, só me restava esperar...


Fui então para o Guarujá, por volta do dia 11 de Dezembro, com a mamãe, com o papai, com a Ana e com a Heloisa, pois já eram férias, e lá passaríamos o Natal e o Ano Novo...

No meio de Janeiro de 76, mamãe me pediu pra ir pra SP apanhar contas de água, luz, telefone.

Ao abrir a porta do apartamento, o telefone estava tocando.

Atendi: era a Sueli, da Som Livre. "Meu Mundo e Nada Mais" havia entrado na trilha da novela Anjo Mau, e eu precisaria gravar IMEDIATAMENTE.

Três dias depois, a gente gravaria nos estudios da Gazeta o meu primeiro compacto: "Meu Mundo e Nada Mais" no lado A e "Pégaso Azul" no Lado B. O LP só gravaríamos se o compacto fizesse sucesso.

Como tudo deu certo, fomos para o Rio, eu e o querido Otavinho, meu produtor, no mês de Junho.

O LP sairia no segundo semestre, agora com a adição de "Cuide-se Bem", que eu fiz em Maio.


Agora, estamos celebrando tudo isso neste show no SESC Belenzinho, dias 18, 19 e 20 de Dezembro, dedicado ao disco de estréia, o LP de 1976. 

Adivinhem qual é o repertório?

Acertaram: o daquela fita.

Há exatos 40 anos, eu não sabia o que iria acontecer na minha vida, daí, deixo um abraço a todos que conhecem esta história. 

Por essa minha história, e tantas outras, de pessoas comuns como eu: NUNCA DESISTAM DOS SONHOS E NUNCA PENSEM QUE A VIDA É SÓ ISSO QUE SE VÊ.

Como diz o sábio e magistral Paulinho da Viola: "Que a vida não é só isso que se vê/É um pouco mais/Que os olhos não conseguem perceber/E as mãos não ousam tocar/E os pés recusam pisar...

EM FRENTE, QUE É VIDA QUE SEGUE !!!!

GUILHERME ARANTES
ÁLBUM
18, 19 e 20 de Dezembro
21 horas
SESC-BELENZINHO

BRAD PITT COMPLETA 52 ANOS QUASE NO NATAL E NÓS COMEMORAMOS AQUI

por Chico Marques


Se Brad Pitt se tornou uma espécie de ideal masculino para as mulheres dos 30 anos de idade em diante, a responsabilidade disso é única e exclusivamente do diretor, ator, produtor e Sundance Kid Robert Redford. Bob precisava de um ator fisicamente semelhante a ele para defender um jovem jornalista rebelde que, infelizmente, por limitações de idade, não dava mais para ele, já cinquentão, encarar. E então Brad Pitt ganhou seu primeiro papel como protagonista no terceiro filme de Bob Redford como diretor: o belíssimo "A River Runs Through It - Nada é Para Sempre" (1992). Daí para a frente, sua carreira foi uma sucessão gloriosa de papéis marcantes, graças a sua beleza física e -- claro! -- ao seu talento indiscutível como ator.


William Bradley Pitt nasceu em Shawnee, Oklahoma em 18 de Dezembro de 1963. Foi criado em Springfield, Missouri, onde cursou Jornalismo e Publicidade e Propaganda, sempre se destacando nas atividades esportivas, representações teatrais, debates, e musicais. Quando estava a apenas duas semanas de se formar, largou a faculdade e mudou-se para a Califórnia, com idéia fixa de se trabalhar em cinema. Mas o sucesso não foi imediato. Para sobreviver, teve que trabalhar como motorista, carregador de refrigerantes e até mesmo vestido de galinha gigante na promoção de uma rede de fast-food chamada El Pollo Loco. Só a partir de 1989 começou a conseguir ser escalado para pequenas pontas no cinema e na TV, até chegar ao papel do namoradinho de Geena Davis em "Thelma & Louise" (1991).
Seu grande apelo perante o público feminino veio com os épicos românticos "Lendas da Paixão" (1994), "Sete Anos No Tibet" (1997) e "O Curioso Caso de Benjamin Button" (2007), mas o sucesso com essa fatia do público não o impediu de seguir aceitando papéis desalinhados, trabalhando pelo piso salarial do Sindicato dos Atores em produções como sócio na bilheteria. Brad se deu tão bem em suas apostas em filmes independentes que acabou fundando sua própria produtora de cinema, a PLAN B.

Tem de tudo na filmografia de Brad Pitt. Desde comédias extravagantes como "Queime Depois de Ler" dos Irmãos Joel & Ethan Coen e "Bastardos Inglórios" de Quentin Tarantino até dramas intensos como "A Árvore da Vida" de Terrence Malick (2011) e "O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford" (2007) de Andrew Dominik. Desde thrillers românticos como "A Mexicana" (2001) de Gore Verbinski e "Amor à Queima-Roupa" (1993) de Tony Scott até produções que desafiam classificações como "Os Doze Macacos" (1995) de Terry Gilliam", "Entrevista Com O Vampiro" de Neil Jordan (1994) e "Babel" (2006) de Alejandro González Iñarritu. Além, é claro, dos três deliciosos filmes da série "Ocean", onde contracena com George Clooney, Matt Damon, Julia Roberts, Dan Cheadle, Andy Garcia, Elliot Gould e Carl Reiner.
Brad Pitt sempre foi cortejdo por mulheres exuberantes. 

Com algumas delas, até se casou -- vide Juliette Lewis, Gwyneth Paltrow, Jennifer Aniston e Angelina Jolie. 

E cada vez que ele anunciou a separação de alguma delas, a mulherada do Planeta Terra entrou em polvorosa.

Na medida em que nenhuma de suas ex-mulheres saía por aí falando (muito) mal dele, cada separação servia para promovê-lo ainda mais como ícone sexual.
Uma curiosidade sobre Brad Pitt que pode talvez não agradar muito ao público feminino é que em 1994 ele comprou uma mansão de US$ 1,7 milhão no sul da Califórnia, que pertenceu à atriz da série de terror B "Elvira, a Rainha das Trevas". 

A casa é decorada com antiguidades e é repleta de objetos vampirescos, um gosto que ele adquiriu ao rodar "Entrevista com o Vampiro". 

Ao que consta, Mr. Pitt mantém a casa até hoje.
No aniversário de 52 anos de Brad Pitt, escolhemos cinco de seus filmes mais audaciosos e desalinhados. 

Em comum entre eles, apenas o fato de estarem disponíveis nas estantes da Vídeo Paradiso.



ENTREVISTA COM O VAMPIRO
(Interview With The Vampire, 1995, 123 min, direção Neil Jordan)
O filme conta a história de Louis de Pointe du Lac (Brad Pitt), um vampiro que foi transformado no século XVIII por Lestat de Lioncourt (Tom Cruise). Enquanto Lestat acredita que deu a Louis a maior dádiva que pode existir, este acredita que na verdade foi condenado ao inferno, e só encara a morte como válvula de escape, enquanto o medo o aflige. Ele passa sua vida imortal à procura de um significado para a sua condição, ou pelo menos algum outro de sua espécie. Sempre relutante em tirar a vida de seres humanos, Louis no início se alimenta apenas de animais. Um dia, porém, não resiste e morde uma garotinha, Claudia (Kirsten Dunst). Lestat, ao descobrir, fica extremamente empolgado, transforma-a em vampira e a "dá de presente" a Louis. Os dois (Claudia e Louis) tornam-se muito amigos, sendo um a razão de ser do outro. Claudia, entretanto, não é feliz, pois, assim como uma criança humana, ela amadurece e torna-se adulta, mas fica eternamente presa no corpo de uma menina. Lestat, enciumado da relação dela com Louis e também farto de suas "crises existenciais", acaba por afastar-se de ambos e tratá-los cada vez pior. Claudia considera que ele é um peso a ser eliminado, e então assassina-o. Para comemorar, ela marca com Louis uma viagem para a Europa. Mas logo antes de embarcarem, para surpresa e pânico de ambos, eles descobrem que Lestat na verdade não morreu. Em Paris, Louis conhece Armand (Antonio Banderas), o líder de um grupo de vampiros, e espera que ele, já que é provavelmente o mais velho vampiro existente, dê-lhe algumas respostas, o que descobre não ser possível. Logo após, o grupo que Armand lidera assassina Claudia, levando Louis a uma fria vingança que não poupa ninguém, a não ser o próprio Armand. Por fim, Louis volta sozinho aos Estados Unidos, onde continua sua vida. Um filme magnífico, em todos os sentidos.

OS 12 MACACOS
(The Twelve Monkeys, 1995, 126 minutos, direção Terry Gilliam)
Um vírus mortal apaga quase toda a humanidade em 1996, forçando os sobreviventes restantes a viver no subsolo. Em 2027, James Cole (Willis) é um prisioneiro que vive em um abrigo subterrâneo sob as ruas de Filadélfia. Cole é selecionado para uma missão, onde ele é treinado e enviado de volta no tempo para recolher informações sobre o vírus, a fim de ajudar os cientistas a desenvolver uma cura. Enquanto isso, Cole é atormentado por sonhos recorrentes que envolvem uma perseguição a pé, terminando com ele levando um tiro no aeroporto. Cole chega em Baltimore em 1990, não 1996, como planejado. Ele é preso, em seguida, internado em uma instituição mental sobre o diagnóstico da Drª. Kathryn Railly (Stowe). Lá ele encontra Jeffrey Goines (Pitt), um doente mental com vista fanática. Depois de uma tentativa de fuga, Cole está trancado em uma cela, mas logo desaparece, retornando para o futuro. De volta ao seu próprio tempo, Cole é entrevistado pelos cientistas, que jogam uma mensagem de voz distorcida que revela a localização do Exército dos Doze Macacos e afirma a sua associação com o vírus. Também é mostrado para ele fotos de várias pessoas suspeitas de estarem envolvidas, incluindo Goines. Em 1996, Railly dá uma palestra sobre o Complexo de Cassandra a um grupo de cientistas. No momento da assinatura do livro de pós-palestra, o Drº. Peters (Morse) questiona a sustentabilidade a ela sobre a humanidade na Terra e assinala que a destruição gradual do ambiente da humanidade pode ser a verdadeira loucura. Cole chega ao local depois de ver folhetos, e quando Railly se afasta, ele sequestra-la e força-a a levá-lo para a Filadélfia. O que se segue é aterrador e interessantíssimo. Um filme sensacional de Gilliam, ex- Monty Python. E uma performance espetacular de Brad Pitt, que serviu como afirmação para sua carreira recém-deflagrada.

OS SETE PECADOS CAPITAIS
(Seven, 1995, 127 minutos, direção David Fincher)
Brad Pitt e Morgan Freeman interpretam dois policiais de estilos opostos: Sommerset (Freeman) é um detetive culto e conservador, que quer se aposentar e já não acredita mais em sua carreira; Mills (Pitt) é jovem, recém-chegado a cidade grande, é a encarnação da ambição e dedicação ao trabalho. Os dois são encarregados de identificar e capturar um serial killer que mata suas vítimas de acordo com os sete pecados capitais (gula, preguiça, vaidade, inveja, luxúria, avareza e ira). Eles precisam prender o maníaco antes que os sete pecados terminem, o que faz o filme seguir um ritmo alucinado, apesar da atmosfera sinistra. Grande filme de David Fincher. Estupenda performance de Brad Pitt. 

SNATCH
(Porcos e Diamantes, 2000, 104 minutos, direção Guy Ritchie)
O ladrão e contrabandista Franky Quatro-Dedos (Benicio Del Toro) rouba um diamantes de 84 quilates em Amsterdã. De passagem por Londres antes de ir para Nova York entregar a gema ao seu chefe, Primo Avi (Dennis Farina), decide apostar em uma luta ilegal de boxe. Ao mesmo tempo, o criminoso ex-KGB Boris o Punhal (Rade Šerbedžija) contrata dois estúpidos donos de uma loja de penhores, Vinny (Robbie Gee) e Sol (Lennie James) para roubar a casa de apostas e sequestrar Franky em busca do diamante. Enquanto isso, dois promotores de lutas chamados Turco (Jason Statham) e Tommy (Stephen Graham) veem seu boxeador George Bonitão (Adam Fogerty) ser nocauteado pelo pugilista cigano Mickey O'Neil (Brad Pitt) e tem de convencer Mickey a lutar em seu lugar antes que atraiam a ira do gângster Tijolão (Alan Ford) - notório por jogar seus desafetos para serem comidos por porcos - que quer organizar a luta (a mesma em que Franky quer apostar) de forma que ele já saiba o resultado. Já Avi, impaciente com a demora de Frankie Quatro-Dedos, vai para Londres se hospedar com seu primo Doug o Cabeça (Mike Reid). Eventualmente Avi e Doug contratam o mercenário Tony Dente de Bala (Vinnie Jones) para encontrar Frankie e os diamantes. Brad Pitt está simplesmente sensacional como o pugilista cigano.
QUEIME DEPOIS DE LER
(Burn After Reading, 2008, 95 minutos, direção Joel & Ethan Coen)
Osbourne Cox (John Malkovich) é um analista que trabalha para a CIA. Ao chegar em uma reunião ultra-secreta ele descobre que foi demitido. Revoltado, ele resolve se dedicar à bebida e a escrever um livro de memórias. Katie (Tilda Swinton), sua esposa, fica espantada ao saber da demissão de Osbourne, mas logo deixa o assunto de lado por estar mais interessada em Harry Pfarrer (George Clooney), um investigador federal casado que é também seu amante. Paralelamente Linda Litzke (Frances McDormand), funcionária de uma rede de academias, faz planos para uma grande cirurgia plástica que deseja realizar. Ela tem em Chad Feldheimer (Brad Pitt), um professor da ginástica que é seu melhor amigo. Até que um dia um CD perdido cai nas mãos de Linda e Chad, entregue por um faxineiro da academia. Ao perceberem que se trata de material confidencial, eles ligam para Osbourne Cox tentando conseguir dinheiro para evitar que seu conteúdo seja divulgado. Uma sátira implacável à serie Bourne, com o humor ácido dos Coens jorrando sem parar. Brad Pitt está engraçadíssimo como o personal trainer desmiolado e ambicioso.