Tuesday, March 31, 2015

O MELHOR DE CARL REINER COM STEVE MARTIN AMANHÃ NO CINECLUBE PAGU



Crítica de Janet Maslin (The New York Times)
Publicada no dia 21 de Setembro de 1984


Tem coisas que só vendo mesmo para que possamos acreditar. O trabalho em equipe sensacional de Steve Martin e Lily Tomlin em ''Um Espírito Baixou em Mim (All of Me)'' é um deles. Se esta ótima comédia não pegar você de jeito, verifique seus sinais vitais: você pode estar com mais problemas que Edwina Cutwater, a viúva moribunda interpretada por Lily Romlin. A vida de Edwina está por um fio quando o filme começa, e ela está prestes a embarcar em uma operação espiritual em que sua alma vai deixar seu próprio corpo e se mudar para o corpo de uma mulher exuberante.

''E o que faz você pensar que você pode fazer isso?", pergunta Roger Cobb (Steve Martin), o advogado que irrita Edwina. ''Porque eu sou rica", ela responde. De fato ela é: toma suas pílulas mergulhadas em caviar e usa diamantes no leito de morte. Mas, no momento de sua morte, o swami que vai conduzir a "transfusão" de sua alma para outro corpo (Richard Libertini) se atrapalha e o vaso que contém sua alma cai pela janela do prédio na cabeça de Roger, que está saindo do prédio naquele exato momento. Roger fica tão confuso a princípio com a presença de Edwina em seu corpo, falando sem parar na sua cabeça, que desconfia estar captando um capítulo no novelão General Hospital através de suas obturações

Na verdade, antes disso tudo acontecer, Roger está tão descontente com a vida quanto Edwina. As coisas não têm ido muito melhor para Roger do que eles têm para ela. Ele não se importa com os casos que seu futuro sogro entrega para ele. Ele sabe que precisa se concentrar mais duro em seu trabalho legal, mas a presença de Edwina muda tudo, e fornece ao Steve Martin a maior oportunidade cômica de sua carreira até então. Ele lida com os aspectos físicos do papel - Roger comanda o lado esquerdo de seu corpo, e Edwina o lado direito - de forma tão brilhante que há momentos em que é quase possível esquecer que aquilo que estamos vendo é uma ilusão.
Mesmo que fosse apenas uma performance inspirada de comédia física, '' All of Me '' já seria um filme delicioso. Mas como é dirigido por Carl Reiner, escrito por Phil Alden Robinson e interpretado por um elenco maravilhoso, o filme acaba sendo tão genuinamente espirituoso quanto é peculiar. Martin e Reiner haviam tentado algo vagamente semelhante em ''The Man With The Two Brains'' -- exibido nos cinemas brasileiros com o ridículo título "O Médico Erótico" (nota do tradutor) --, mas como naquela ocasião um dos cérebros estava conservado num frasco, os resultados foram um tanto macabros no final das contas. Aqui não. Aqui tudo flui com leveza e suavidade.

Muito disso deve ser atribuído à maneira surpreendente com que Steve Martin e Lily Tomlin se complementam. Embora cada um delas tenha apenas um curto período de tempo para estabelecer uma personalidade individual antes de ocorrer a fusão -- e embora Edwina possa ser vista em espelhos depois de instalada no corpo de Roger -- cada metade dessa criatura bizarra é imediatamente identificável. Quando uma das mãos bate acordando Roger aos tapas pela manhã, por exemplo, não há a menor dúvida de que é a mão de Edwina.

As possibilidades de Roger-Edwina entrarem em apuros são infinitas, e Carl Reiner e Phil Alden Robinson foram astutamente seletivos. Há uma abundância de gags físicas - Steve Martin arrancando-se primeiro para um lado da rua, depois para o outro - mas há piadas mais intrincadas também. Uma cena de tribunal torna-se hilariante quando Roger cai no sono e Edwina toma conta de seu corpo, emulando suas "atitudes masculinas" -- cuspindo, rosnando, colocando os pés sobre a mesa -- e, finalmente, gritando para dentro do corpo para acordar Roger. 

A postura de vida de Edwina é tão diferente da de Roger que eles entram em conflito até quando vão ao banheiro "juntos". Quando ele vai para a cama com a bela loira que vai ceder seu corpo para a alma de Edwina (Victoria Tennant), ela faz com que ele pense em freiras velhas e gatinhos mortos para sabotar sua ereção.
O desempenho surpreendente de Steve Martin é bem mais visível do filme, mas todo o elenco é bom. Richard Libertini faz um swami que vive num mundo à parte, e que medita contrapondo o toque de um telefone com o som da descarga do vaso sanitário na suite do hotel em que está hospedado. Selma Diamond está muito divertida como a secretária de Roger, e Victoria Tennant, apesar de não ser exatamente uma comediante, ostenta uma postura e um semblante que lembram vagamente Grace Kelly. Madolyn Smith também está muito engraçada como a namorada que tenta fazer Roger ''dizer a palavra M''.

Mas são Steve Martin e Lily Tomlin, em seus melhores trabalhos no cinema até agora, que estão no cerne do sucesso do filme, especialmente quando abandonam sua animosidade e tornam-se parceiros. ''All of Me'' termina com uma nota de graça, com os dois envolvidos em uma maravilhosa dança comemorativa. Faz sentido: há muita coisa neste filme para eles comemorarem.




UM ESPÍRITO BAIXOU EM MIM
(All Of Me, 1984, 93 minutos)

Direção
Carl Reiner

Roteiro
Phil Alden Robinson
baseado em ''Me Two'' de Ed David

Produtor
Stephen Friedman
para Universal Pictures

Elenco
Steve Martin 
Lily Tomlin 
Victoria Tennant 
Madolyn Smith 
Richard Libertini 
Dana Elcar 
Jason Bernard 
Selma Diamond 
Eric Christmas 
Gailard Sartain 
Neva Patterson 
Michael Ensign 
Peggy Feury 
Nan Martin 


Quarta
1 de Abril
19 horas
CINECLUBE PAGÚ

OFICINA CULTURAL PAGU
Rua Espírito Santo, 17 
quase esquina com Av. Ana Costa
Campo Grande, Santos SP 
Telefone:(13) 3219-2036





Monday, March 30, 2015

CINDERELLA: MAIS UM BELO TRIUNFO DA DISNEY FILMS (por Carlos Cirne)





publicado originalmente em Colunas e Notas


Como todo bom conto de fadas, “Cinderela” começa com o tradicional “Era uma vez...” e segue, apoiado na cartilha Disney, até o final catártico que lhe é devido. Neste trajeto, não espere menos do que excelência. “Cinderela” é um dos maiores acertos do estúdio, que não costuma errar muito.

Espertamente precedido pelo curta “Frozen: Febre Congelante” (2015, 8’), da mesma equipe e com o mesmo elenco de vozes do mega-sucesso “Frozen: Uma Aventura Congelante”, de 2013, com direito a novos e pequenos seres de neve, personagens semelhantes ao boneco Olaf, que farão a alegria das crianças (também), “Cinderela” é um deslumbre visual, como há muito não se via. 

Não que as coisas sejam apenas grandiosas; elas são grandiosas e absurdamente detalhadas, com a riqueza que o mago Dante Ferretti (“O Aviador”, 2004; “Sweeney Todd”, 2007 e “Hugo Cabret”, 2011) traz para a direção de arte, somente equiparada pelos figurinos de Sandy Powell – certamente o vestido de “gelo” de Elza em “Frozen” deixará de ser o vestido mais copiado do cinema nos últimos anos, substituído pelo longo azul claro do baile (ou o de noiva) de Cinderella. Não deixe de reparar. 

Assim como também não perca, na cena do baile, os vestidos das outras princesas da Disney - como Belle, Tiana, Aurora, Branca de Neve, Mulan e Ariel - em algumas das convidadas.

Mas não é apenas o assombro visual que cativa em “Cinderela”. 

O roteiro de Chris Weitz – baseado no desenho da própria Disney, de 1950, e na versão mais conhecida do conto, de Charles Perrault, de 1697 – não toma demasiadas liberdades com o material original, conseguindo “atualizar” a história, eliminando os contrastes bruscos, e inserindo meios tons que aproximam a obra dos adultos também, além de obviamente agradar às crianças. 

Para tal, o humor é fundamental. Cinderela sofre sim, mas também dá seguimento à sua própria trajetória, apoiada na promessa que fez à mãe de manter-se “corajosa e gentil” sempre, não importa o que suceda. E é absolutamente confiante no ser humano, conseguindo ver um lado bom até em sua perversa madrasta – outro show da bela Cate Blanchett, perfeita na caricatura. Menos é mais.

O elenco, bem escalado em sua maioria, apresenta algumas coincidências interessantes: o príncipe Kit (Richard Madden) e o Capitão (Nonso Anozie) são ambos do elenco da série “Game of Thrones”, e Cinderella (Lily James) e Drizella (Sophie McShera) são ambas do elenco da série “Downton Abbey”, dois dos maiores sucessos da TV mundial.
O resumo da história, como se alguém não soubesse: a jovem Ella, filha amantíssima de um casamento perfeito, tem sua vida toldada com a morte da mãe e o consequente casamento do pai com uma viúva, mãe de duas filhas. 
Após a morte do pai, Ella é transformada em empregada pela madrasta, mas nem por isso perde sua bondade inerente. E eis que surge um príncipe, uma fada, uma abóbora e certos sapatinhos de cristal que, por mais que digam o contrário, não devem ser muito confortáveis. E tudo isso somente até a meia-noite.

Dois deslizes, que em absoluto abalam a leitura geral do filme, podem ser apontados: a escolha de Ben Chaplin, com sua constante expressão de junkie em abstinência, no papel do pai de Ella, e a trilha sonora “samba-de-uma-nota-só”, de Patrick Doyle, prolífico compositor e parceiro de Kenneth Branagh em outros trabalhos (“Hamlet’, 1996; “Thor”, 2011), que aqui entrega uma trilha enfadonha, que fica girando em torno de si própria, incomodando até, em alguns momentos.

Destaque para dois pontos: a deslumbrante cena do baile no palácio real – Branagh disse que foi convidado para dirigir “Cinderela” porque sabe como montar uma cena de baile -, e Helena Bonham-Carter, finalmente abandonando a persona “esposa-de-Tim-Burton” e fazendo uma deliciosa fada madrinha.

Ah, sim: a Disney já tem sua nova “Let it Go” (sucesso-chiclete na voz de Idina Menzel, da trilha de “Frozen”, e vencedora do Oscar de Canção de 2013); trata-se de “Strong”, de Patrick Doyle, Kenneth Branagh e Tommy Danvers, cantada pela inglesa Sonna Rele nos créditos finais de “Cinderela”, um pouco antes de ouvir-se Helena Bonham-Carter perguntar “Oh, where did everybody go?” (“Onde foi parar todo mundo”), numa das tradicionais brincadeiras do estúdio. Os “Hidden Mickeys” deste filme estão nos vidros da porta da casa de Cinderela. Repare!




CINDERELLA

(2015)


Direção
Kenneth Branagh

Elenco
Hayley Atwell
Lily James
Helena Bonham Carter
Richard Madden
Cate Blanchett
Holliday Grainger
Sophie McShera
Stellan Skarsgård

Em cartaz no Iporanga 4 
e no Cinespaço Shopping Miramar 
(versão legendada) 





Saturday, March 28, 2015

UM PASSEIO PELO ESPAÇO SIDERAL EM 4 DVDS QUE MERECEM SER VISTOS





Demorou um pouco, mas "Interestelar",
 belíssimo sci-fi de Christopher Nolan,
 finalmente chegou às locadoras
 nos formatos DVD e Blu-Ray. 

Se você não conseguiu ver nos cinemas,
 e ficou decepcionado(a) com a baixa qualidade
 visual e sonora da imensa maioria das cópias
 que circularam pela internet,
 o jeito vai ser dar uma chegadinha
 na sua locadora favorita e locar
 o DVD ou o Blu-Ray do filme.

De qualquer maneira, é sempre bom lembrar
 que nunca o gênero sci-fi esteve tão em voga
 no cinema americano quanto agora.

E que, além de "Interestelar",
 muitos outros filmes do gênero 
-- alguns realmente excepcionais -- 
foram lançados nesses últimos anos.
Pois bem: os três filmes que escolhemos
 para indicar neste final de semana
 são bem diferentes um do outro. 

O primeiro é um road movie sci-fi. 

O segundo, um drama de suspense passado na Lua. 

E o terceiro, um belo filme de aventuras em Marte.

Em comum entre os três,
apenas o fato de serem excelentes exemplos
 de filmes de ficção-científica.

E, claro, de estarem disponíveis para locação 
nas estantes da Vídeo Paradiso.

Vamos a eles:


SOB A PELE
(Under The Skin, 2013, Jonathan Glazer) 
Uma alienígena extremamente envolvente (Scarlett Johansson) seduz homens solitários por vários cantos da Escócia e os desintegra dentro de seu universo sobrio. Enigmático ao extremo e sempre fazendo uso de poucas palavras, o filme revela Glazer como um realizador maduro e inventivo, e Scarlett como uma atriz sempre pronta a encarar papéis corajosos como este. Baseado em romance de Michael Faber. Rodado em locações pelas montanhas e pelo litoral da Escócia.


LUNAR
(Moon, 2009, Duncan Jones)
Sam Bell (Sam Rockwell) é um astronauta que cumpre uma missão de três anos na Lua, para extrair do solo e enviar regularmente à Terra uma substância que ajuda a renovar a energia do planeta. Sam tem apenas a companhia do computador GERTY (voz de Kevin Spacey) e, repentinamente, começa a delirar, sofre um acidente e descobre um clone seu dentro da Estação Lunar. Qualquer semelhança com "2001" não é mera coincidência. Belíssima estréia de Duncan Jones, talentoso filho mais velho de David Bowie, como diretor e roteirista original.
  

MISSÃO: MARTE 
(Mission To Mars, 2000, Brian DePalma)
Quando a primeira missão tripulada a Marte sofre um catastrófico e misterioso desastre, uma missão de salvamento é enviada para investigar a tragédia e trazer de volta possíveis sobreviventes -- e o que eles descobrem é absolutamente surpreendente. Excelentes performances de Gary Sinise, Tim Robbins, Connie Nielsen, Kim Delaney e Dan Cheadle. Notável incursão de Brian DePalma no gênero.


endereço da VideoParadiso é 
Rua Nabuco de Araújo, 60, Boqueirão
Santos SP

(13) 3235-8135 

Delivery de DVDs
de Segunda a Sexta 
das 19 às 21 horas



Friday, March 27, 2015

DE 27 A 29 DE MARÇO, TODOS OS CAMINHOS LEVAM AO BRASILJAZZFEST


Um concerto especial com Wynton Marsalis e a Jazz at Lincoln Center Orchestra e uma muito aguardada apresentação da superbanda de hard-bop The Cookers são as atrações principais do brasiljazzfest, o Festival de Jazz mais antigo do país, que comemora 30 anos de vida neste fim de semana, entre os dias 27 e 29, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, e na Cidade das Artes, no Rio.

brasiljazzfest foi criado em 1985 com o nome FREE JAZZ FESTIVAL pelas irmãs Monique e Sylvia Gardenberg. Ao longo dos anos,  teve vários outros nomes -- TIM JAZZ FESTIVAL E BMW JAZZ FESTIVAL -- e atualmente, é patrocinado pela REDE.

Sob curadoria do jornalista e crítico musical Zuza Homem de Mello, do músico, arranjador e produtor musical Zé Nogueira e do produtor Pedrinho Albuquerque, parceiros inseparáveis de Monique, a edição 2015 do festival ocupará o palco principal da Cidade das Artes, no Rio, e o Auditório do Ibirapuera.

“Ao longo de três décadas, o festival se manteve como uma realização de peso na área musical do país e como uma vitrine de inúmeros músicos consagrados ou na iminência de se consagrarem que, reunidos numa lista, representam o que há de melhor e mais significativo e consequente no jazz e na música instrumental brasileira desses 30 anos. De tal modo que quem tenha tido a oportunidade de acompanhar todas as edições pode se considerar um verdadeiro diplomado em jazz. Sem sair do Brasil”, enfatiza Zuza.

Além de Marsalis e dos Cookers, o brasiljazzfest traz este ano o quarteto do saxofonista porto-riquenho Miguel Zenón e os trios do pianista norueguês Tord Gustavsen e do brasileiro André Mehmari


WYNTON MARSALIS 
JAZZ AT THE LINCOLN CENTER ORCHESTRA
Há exatos dez anos sem se apresentar na América do Sul, Wynton Marsalis se tornou o nome mais influente do jazz contemporâneo. Ele, que esteve pela primeira vez no Brasil na segunda edição do festival, em 1986, repetindo a dose em 1991, volta agora como diretor musical e trompetista da Jazz at Lincoln Center Orchestra. Grande atração da edição deste ano, ele fará uma apresentação no Rio e três na capital paulista (duas na Sala São Paulo e uma, gratuita, na manhã de domingo, no palco do Auditório Ibirapuera voltado para o parque). Formada por Wynton em 1988, para a programação de verão do Lincoln Center, em Nova York, essa  big band com 15 instrumentistas virou uma referência no gênero. Em quase três décadas, em seus concertos e discos, eles tanto recriam clássicos de lendas como Duke Ellington, Thelonious Monk, Charles Mingus, Billy Strayhorn e Dizzy Gillespie quanto mostram repertório inédito, composto especialmente por gente como Benny Golson, Joe Lovano, Wayne Shorter e Freddie Hubbard, entre outros. Marsalis e a orquestra também já passearam pela obra de Moacir Santos, redescoberta no Brasil e no mundo graças ao álbum Ouro Negro (arranjado e produzido por Mario Adnet e Zé Nogueira, um dos curadores do brasiljazzfest). Para as apresentações no Brasil, Marsalis pretende celebrar a influência das tradições musicais de todas as Américas sobre jazz. Segundo ele, "a música da diáspora afro-latina constitui um dos pilares fundamentais de expressão jazz", começando com Jelly Roll Morton e ecoando através das gerações.

THE COOKERS
Formado por um time de sonhos do jazz contemporâneo, esse grupo reúne sete lendas do gênero, que também atuam em carreiras solo. Com quatro álbuns lançados, os Cookers se apresentam pela primeira vez no Brasil com um tributo a Lee Morgan, o influente trompetista morto precocemente em 1972, aos 33 anos, de forma trágica (sua mulher o matou a tiros em pleno palco). Dois dos Cookers, o saxofonista e clarinetista Bennie Maupin e o saxofonista Billy Harper, participaram do último grupo de Morgan. Já o trompetista Charles Tolliver chegou a gravar com ele num disco de Jackie McLean. Completam a atual formação do septeto o baixista Cecil McBee, o baterista Ralph Peterson, o pianista Donald Brown e o trompetista David Weiss.  

MIGUEL ZENÓN QUARTET
Uma das revelações do Jazz no Século XXI, nascido e criado em Porto Rico, onde se formou em saxofone clássico, Zenón prosseguiu os estudos na Berklee College Of Music e na Manhattan School Of Music. Sua formação acadêmica foi acompanhada de intensa atividade como instrumentista. Um dos fundadores do SFJAZZ COLLECTIVE (ao lado de, entre outros, Joe Lovano, Bobby Hutcherson, Joshua Redman e Nicholas Payton), Zenón também trabalhou com Fred Hersch, Charlie Haden e a Mingus Big Band. Aos 36 anos, ele tem oito discos como líder - o primeiro, Looking Forward, saiu em 2002. Como saxofonista e compositor, Zenón alia como poucos instrumentistas de sua geração  inovação e tradição e vem ampliando o diálogo do jazz com os ritmos caribenhos e latino-americanos. Seu penúltimo álbum, Rayuela (2012, com o pianista Laurent Coq), é inspirado no romance de vanguarda do argentino Julio Cortázar. Ele se apresentará no brasiljazfest ao lado do pianista Luis Perdomo, do baixista Hans Glawischnig e do baterista Henry Cole

TORD GUSTAVSEN TRIO
Outra estrela contemporânea, difinido pelo crítico britânico Stuart Nicholson como “um solista excepcionalmente lúcido, com senso de estrutura melódica e imaginação lírica”, esse pianista e compositor norueguês de 44 anos já lançou 6 discos pela ECM Records e há uma década tem marcado presença no circuito internacional de Jazz. Gustavsen foi uma das boas surpresas na edição de 2011 do festival, mas com apresentação restrita a São Paulo. Agora, ele vai se apresentar também no Rio com seu trio completado pelo baixista Sigurd Hole e pelo baterista Jarle Vespestad, representando um pouco do melhor do jazz europeu produzido atualmente.

ANDRÉ MEHMARI TRIO
Aos 37 anos, Mehmari já aacumula muitos prêmios como pianista, arranjador e compositor graças a uma obra que passa pelo Jazz, pela música clássica e pela canção popular. Ele tocou e gravou com Milton Nascimento, Mônica Salmaso, Guinga e Toninho Horta. Compôs obras para orquestras e ballets, e lançou cerca de 10 álbuns como artista solo, como líder de um trio ou ainda como solista de orquestra. No trio que forma com Neymar Dias (contrabaixo) e Sérgio Reze (bateria), Mehmari apresenta temas originais e recriações de clássicos do jazz e da música brasileira. Em sua apresentação no festival, ele também fará números solo, incluindo composições de Ernesto Nazareth, a quem homenageou no álbum Ouro Sobre Azul, lançado em 2014



Confira a programação 
do Auditório Ibirapuera:

Dia 27 de março, sexta-feira, 21h
André Mehmari Trio
Tord Gustavsen Trio

Dia 28 de março, sábado, 21h
Miguel Zenón Quartet
The Cookers

Dia 29 de março, domingo, 11h 
GRATUITO
Wynton Marsalis 
Jazz at Lincoln Center Orchestra


brasiljazzfest
27, 28 e 29 de Março
Auditório Ibirapuera
Oscar Niemeyer
Av. Pedro Alvares Cabral, s/n
Portão 2 do Parque do Ibirapuera
(Entrada para carros pelo Portão 3)
Dias 27 e 28
preço único R$ 20
Dia 29
gratuito na área externa
do Auditório Ibirapuera
Pontos de venda:
Bilheteria da casa: 
Sexta-feira e Sábado
das 11h às 22h
Domingo
das 11h às 20h
Internet: www.ingressorapido.com.br
Capacidade: 800 lugares
Mais informações
www.auditorioibirapuera.com.br

Thursday, March 26, 2015

AS 13 GRANDES SURPRESAS DO SOUTH BY SOUTHWEST FILM FESTIVAL 2015



Marcelo Pestana e Carlos Cirne 
para o Colunas & Notas 


Os estúdios realizaram grandes mostras 
no SOUTH BY SOUTHWEST FILM FESTIVAL,
 que acontece toda primavera em Austin, Texas
dentro do SWSW - Music Film Interactive.

Isso ficou evidente neste ano pelas concorridas
 premières de TRAINWRECK e SPY,
 assim como exibições secretas da performance final
 de Paul Walker em VELOZES E FURIOSOS 7.

Felizmente, para além dos grandes orçamentos,
 o festival ofereceu também uma sólida grade
 de diretores estreantes e talentos emergentes,
 incluindo os premiados KRISHA e PEACE OFFICER,
 os thrillers HANGMAN e THE INVITATION,
 além de documentários musicais como
 DANNY SAYS e MADE IN JAPAN.

 Veja abaixo 13 pérolas selecionadas
 pelos críticos da revista VARIETY.


SIX YEARS
O drama de Hannah Fidell,
 estrelado por Taissa Farmiga e Ben Rosenfield,
 foi filmado como um documentário
 sobre as desventuras do amor,
 e as interpretações lembram outro drama
 sobre jovens-em-desespero,
 O CASAMENTO DE RACHEL (2008),
 de Jonathan Demme.
 “6 Years” é o filme perfeito para assistir num dia chuvoso,
 se você estiver se sentindo mal por ser solteiro.


CREATIVE CONTROL
 Esta absorvente ficção de Benjamin Dickinson,
 como uma bizarra campanha publicitária para o Google Glass,
 usa de sua sofisticada atmosfera de preto e branco
 para discutir como a tecnologia pode nos mudar,
 ou como não. Argumento devidamente reforçado
 pela música clássica que pontua praticamente
 todos os impecáveis frames do filme.


DANNY SAYS
Um dos destaques do festival,
 o documentário de Brendan Toller
 abre espaço para que Danny Fields
 – jornalista e executivo da indústria musical
 norte-americana, conhecido como “o Pai do Punk” –
 distile algumas de suas anedotas
 – e parecem ser milhares –
 sobre músicos como Jim Morrison,
 Iggy Pop, The Velvet Underground,
 The Ramones e muito outros
 com quem teve contato direto.


THE FINAL GIRLS
Quando irrompe um incêndio durante a exibição
 de um clássico de terror brega dos anos 1980,
 uma jovem mulher e seus amigos se vêm,
 repentinamente, transportados para o universo do filme
 – um tipo de SEXTA FEIRA 13, cheio de assassinatos
 de adolescentes sedentos por sexo.
 O roteiro esperto de Mark Fortin e Josh Miller
 torna a sátira/homenagem de Todd Strauss-Schulson
 um deleite para os fãs.


FOR GRACE
Se houvesse uma escala de medida para documentários,
 os cineastas Kevin Pang e Mark Helenowski certamente
 receberiam 5 estrelas por este fascinante retrato
 do chef Curtis Duffy, um perfeccionista
 que devota seu coração e alma
 para conseguir abrir seu sofisticado restaurante.
 A história por trás da história da obsessão de Duffy
 torna o filme extremamente emocionante.


HANGMAN
O especialista inglês em filmes de horror Adam Mason,
 e seu usual parceiro nos roteiros Simon Boyes,
 injetam “sangue novo” numa história
 tipo “filmagem-perdida-recuperada”
 (como A BRUXA DE BLAIR, por exemplo),
 sobre uma família que retorna das férias
 e descobre que sua casa foi toda vasculhada.
 O que eles não percebem
 é que o intruso ainda está lá,
 com pequenos truques e câmeras escondidas
 para controlar cada movimento da família.


HELLO, MY NAME IS DORIS
O diretor Michael Showalter
 (num roteiro que co-escreveu com Laura Terruso)
 escalou Sally Field como Doris,
 uma sessentona obsecada por um colega
 bem mais jovem (Max Greenfield, da série NEW GIRL).
 O genial do filme é que ele nunca resvala para o clichê,
 reservando a Sally Field seu melhor papel
 desde NUNCA SEM MINHA FILHA (1991).


THE INVITATION
Alcançando um resultado bem melhor no gênero Horror,
 do que em seu sucesso de 2009, GAROTA INFERNAL,
 Karyn Kusama alcança aqui um clima de tensão contínuo,
 num thriller sobre um jantar que vai horrivelmente se distorcendo.
 Cheio de reviravoltas e com interpretações bem dirigidas,
 o filme resulta no seu melhor trabalho de direção
 desde sua aclamada estreia, em 2000, com BOA DE BRIGA.


KRISHA
Vencedor do Prêmio do Júri e também do Público,
 o filme é um perfeito exemplo de projeto pessoal
 de baixo orçamento bem sucedido.
 Escalar seus parentes, filmar na casa dos pais
 e roteirizar sua própria história de vida,
 pode soar como a receita mais autoindulgente do mundo,
 mas o astuto Trey Edward Shults (roteirista
 e diretor estreante)  acaba se colocando
 no “conforto do lar”,  no melhor dos sentidos.


LAMB
O emocionante filme de Ross Partridge (roteirista e diretor),
 sobre a amizade entre um homem (Partridge)
 e uma garota de 11 anos (a impressionante Oona Laurence)
 resvala num sensível território que poucos filmes ousam trilhar,
 mas isso é feito de uma maneira tão delicada
 e com um sentimento tão profundo,
 que não é possível se ofender com o resultado.


MADE IN JAPAN
Tomi Fujiyama, a primeira estrela de country music
 japonesa nos EUA, retorna ao Grand Ole Opry
 (teatro-santuário da country music americana, em Nashville),
 mais de cinco décadas depois da noite onde foi
 a única apresentação a ser aplaudida em pé pela plateia,
 apesar da presença de estrelas do porte de Johnny Cash.
 O documentário de Josh Bishop registra ainda
 a frustração da septuagenária cantora ao perceber
 que raramente o raio cai duas vezes no mesmo local.


PEACE OFFICER
A crescente militarização dos Departamentos de Polícia
 norte-americanos é debatida neste poderoso documentário
 de Scott Christopherson e Brad Barber,
 vencedor do Prêmio do Júri e do Público na categoria.
 O protagonista do filme, Dub Lawrence,
 é um policial aposentado, que quatro décadas atrás
 formou a primeira equipe da SWAT em Utah
 – a mesma que, alguns anos atrás, executou seu genro
 numa batida que pode ser definida como
 a personificação do termo “uso excessivo da força”.


TWINSTERS
O número incontável de casos de adoção por casais
 do exterior registrados na Coréia do Sul
 durante os anos 1980  gerou, e continua gerando,
 um sem número de emocionantes histórias pessoais.
 Algumas, entretanto, chegam a nosso conhecimento,
 como o documentário de Samantha Futerman
 (co-dirigido por Ryan Miyamoto),
 onde ela descobre a existência de sua irmã gêmea
 (elas não sabiam da existência uma da outra),
 graças justamente à tecnologia que possibilitou
 a feitura do filme.


Wednesday, March 25, 2015

JAMES FARM VEM A SANTOS LANÇAR SEU SEGUNDO LP: "CITY FOLK"


James Farm é um quarteto de jazz acústico formado pelo famoso saxofonista (tenor e soprano Joshua Redman, mais Aaron Parks (piano), Matt Penman (contra-baixo) e Eric Harland (bateria). Todos são músicos altamente respeitados na cena jazzística. Apesar de Joshua Redman ser a grande estrela do grupo, faz questão de manter o perfil baixo e se comporta como apenas mais um integrante da banda, que existe há cinco anos.

Aos 46 anos de idade, 25 de carreira, e com quase um metro e noventa de altura, Joshua é um gigante em todos os sentidos -- no palco, nos discos, no meio musical e em sua vida pessoal. Filho do saxofonista Dewey Redman (1931-2006), que contribuiu para alguns dos melhores trabalhos de Ornette Coleman e Keith Jarrett, com o fôlego com que prolonga o tempo musical e sua esperteza nos fraseados rápidos, Joshua também parece um exemplo clássico de talento hereditário. Foi muito influenciado por ele, em todos os sentidos.


Voltando ao James Farm: se engana redondamente quem acha estar diante de um quarteto de jazz tradicional. James Farm usa como ponto de partida um bebop bem contemporâneo, e sai fundindo isso com canções pop, baladas country e algumas variações de folk music americana e européia. Detalhe: tudo isso sempre recheado de muito improviso musical providenciado por seus talentosíssimos quatro integrantes. O resultado disso tudo é surpreendente. E pode ser conferido nos dois LPs que a banda lançou até agora, pela prestigiosa Nonesuch Records: "James Farm" (2011) e "City Folk" (2014)




O James Farm veio ao Brasil pela primeira vez dois anos atrás, para se figurar no BMW Jazz Festival, e agora está de volta para uma apresentação na edição deste ano do Noblu Jazz Festival, no SESC Pompéia, além de uma apresentação adicional no Teatro do SESC-Santos. 

Todos os quatro amam a música brasileira de forma entusiasmada. 


Já passaram por aqui diversas vezes, e fazem questão de afirmar que nossa música os encanta.




LEVA UM CASAQUINHO: Uma pergunta inevitável: vocês gostam de tocar no Brasil?

Joshua Redman: Eu adoro vir aqui, o público é sempre fantástico e emocionado, é um lugar muito musical.


Matt Penman: É incrível estar aqui. Há tanta alegria na cultura brasileira e quando as pessoas escutam música, querem experimentar esta alegria. Você vê os sorrisos e quer fazer com que eles sintam cada vez mais isso. Porque todos gostam de alegria na música.


LEVA UM CASAQUINHO: Outra pergunta inevitável: o que vocês conhecem da música brasileira?

Joshua Redman: Conheço alguma coisa da Bossa Nova, amo João Gilberto, Milton Nascimento, Djavan. A música brasileira é tão maravilhosa e variada, cheia de facetas. Há muitos gêneros diferentes dentro da música brasileira e todos são, de alguma maneira, muito bonitos. Existe uma fragilidade muito bonita em toda esta musicalidade.


Matt Penman: Sou um grande fã de Djavan e Milton Nascimento. Recentemente descobri o cantor e violonista Guinga e me apaixonei por sua música. Adoraria tocar com ele ou com Milton Nascimento. Vocês têm muita sorte, há muitos artistas de qualidade do Brasil.  


Eric Harland: Eu amo Ivan Lins, ele definitivamente é um dos meus favoritos. Mas há diversos grandes artistas brasileiros.


Aaron Parks: Ouço muita música brasileira desde sempre. Comecei a ouvir música brasileira provavelmente na mesma época em que comecei a ouvir jazz. Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal foram grandes influências quando comecei a tocar e a lista continua. Adoro a música brasileira e sua harmonia é incrível. Muitas coisas da música brasileira podem ser consideradas jazz, sinto que elas estão próximas em muitas maneiras.


LEVA UM CASAQUINHO: Muitos artistas pop estã incorporando traços de jazz em seus trabalhos. O que vocês acham disso?

Matt Penman: Os artistas estão ultrapassando os gêneros. Gênero hoje é uma maneira de identificar suas influências musicais, mas isso não significa que é a única coisa que faça. Joss Stone, por exemplo, é uma artista pop com influências de jazz. Nós somos um grupo de jazz que ouve muita música pop. Afinal, é tudo apenas música. Podemos dizer que esteticamente escolhemos um caminho, mas acredito que os músicos mais interessantes são bastante abertos para transitar entre os gêneros.


Eric Harland: Músicos e artistas estão provando que amam todo tipo de música. Gostamos da liberdade de um ritmo, a estrutura de outro, o groove do outro ou a harmonia de um outro. E quando tentamos reunir tudo isso, fica mais difícil classificar em gêneros.




LEVA UM CASAQUINHO: Joshua, essa aqui é para você. Muita gente o compara a Dewey Redman e vê em você uma das principais características dele: um músico de vanguarda e do free jazz mas sempre ligado às estruturas tradicionais. É um caso de "tal pai, tal filho"?

Joshua Redman: Não cresci ao lado do meu pai. Meus únicos contatos com ele, na verdade, foram ouvindo os discos dele. Ele vivia em Nova York e eu cresci em Berkeley, na California. Eu só o via quando ele ia para a minha cidade, o que era, talvez, uma vez por ano. Fui muito influenciado, mas descrever a música dele e a minha não é uma coisa em que eu seja bom. Acho que o som dele é um dos mais bonitos sons de sax tenor na história. O calor e a alma com que ele tocava, a maneira como podia criar um poder tão grande só por meio da sonoridade... Há um profundo sentimento vindo do blues em toda a música. Meu pai também trabalhou em muitos estilos. E isso é uma coisa que eu também gosto.


LEVA UM CASAQUINHO: Mas vocês tocaram juntos, e chegaram a gravar dois discos juntos. Como foi tocar e gravar com ele?

Joshua Redman: Foi ótimo! Uma excelente oportunidade de aprender ao lado de um mestre, de meu herói. E também uma grande oportunidade de conhecê-lo, porque eu não o conhecia realmente bem.


LEVA UM CASAQUINHO: Como vocês definem a sonoridade do James Farm?

Matt PenmanCriamos o James Farm como uma cooperativa, em vez de ser "meu" grupo ou o grupo deste ou daquele músico. Estamos muito animados com a música que estamos fazendo. Definitivamente é jazz, é improvisado. Ele vem da influência da linguagem do jazz, mas a música tem um monte de outras influências, de estilos. Em termos de grooves, climas e texturas, tem um pouco mais da sensibilidade do rock do que alguns dos outros projetos dos quais participei. E também na estrutura das músicas, na maneira com que integramos a improvisação.


LEVA UM CASAQUINHO: Tocando em um grupo como o James Farm, vocês percebem um novo público ou um estilo em formação?

Matt PenmanO jazz está continuamente mudando e se desenvolvendo. Esta é uma forma de arte que, de certa forma, é sempre nova porque está sempre se reinventando; pela improvisação, ele está sempre fresco, vital, é sempre uma música do presente. Seria excelente que houvesse mais jovens ouvindo jazz. 


Aaron ParksDemograficamente, o público típico de um show de jazz é mais velho. Mas acho que é uma questão de dar chance às pessoas de ouvirem esta música. 


Joshua RedmanHá certas formas de arte que requerem um pouco mais de paciência e também um pouco mais de experiência do ouvinte. O jazz com certeza é uma delas, é uma música à qual é preciso continuar se expondo, ouvindo de novo.




LEVA UM CASAQUINHO: Hoje há grandes músicos de jazz que jamais pisaram em Nova York, Nova Orleans ou Chicago. Como vocês vêem esse fenômeno de desterritorialização? O que há de bom e de ruim nisso?


Joshua Redman: Acho que é ótimo, é música mundial, a informação musical viaja tão rápido, é uma revolução tecnologia que a nova geração sofreu. Você não precisa ir até Nova York para ouvir grandes bandas de jazz nova iorquinas, põe na tela da internet e um segundo e ouve. Sim, é uma globalização do jazz que se acelerou muito, eu acho maravilhoso. A internet acelerou tudo. Em geral, acho muito bom. Há mais informação musical acessível instantaneamente para mais músicos. 

Matt Penman: Eu já acho que jazz é, em algum nivel, uma música do povo e das comunidades, e que deveria ter mais algum... sentido de conexão com o seu lugar, em um sentido físico. O jazz é a música  da cidade, da vila, da vizinhança, as pessoas tocam e ouvem juntas em um local. Eu acho que com todos os avanços na tecnologia, que são maravilhosos e permitem a tráfego de informações, não podemos perder de vista a importância que o jazz tem na existência em espaços físicos, no sentido de agregar pessoas em comunidade, para tocar e ouvir. É importante preservar isso, mesmo no meio de todos os avanços tecnológicos. 


Joshua Redman: Tem razão, o excesso de informação também pode gerar uma perda de foco. Lembro que, quando estava crescendo, significava tanto comprar um disco na loja. Você pegava aquele disco, botava para tocar, tinha uma relação física com  o disco e a música. E agora tem tanta música – e tudo linka a outra coisa. Então, acho mais difícil as pessoas ouvirem música com foco e atenção, a consequência é ter menos profundidade. Mas acho que os músicos mais sérios e dedicados sabem como usar as ferramentas tecnológicas a seu favor.


LEVA UM CASAQUINHO: Vocês entendem bossa nova como jazz brasileiro?

Joshua RedmanNão sei muito para poder falar com autoridade, mas nunca a considerei assim. Bossa nova é bossa nova, uma forma de arte por si. Há uma grande relação entre ela e o jazz, sim. 


Matt PenmanAlguns dos primeiros compositores da bossa foram influenciados por coisas que estavam acontecendo no jazz. Há muita sobreposição, colaborações históricas como a de Stan Getz e João Gilberto. Mas bossa é um gênero próprio. E todo músico de jazz hoje foi influenciado por ela de alguma forma em termos de harmonias, melodias e ritmos. Ela é parte da nossa linguagem.


LEVA UM CASAQUINHO: Joshua, uma pergunta  para você movida pela minha curiosidade pessoal. No seu blog, alguém perguntou: "Por que a música em vez de advocacia?". A sua resposta foi: "Por que não?". Qual foi a razão da guinada?

Joshua RedmanQuando me mudei para Nova York, me vi de repente com a chance de tocar com alguns dos melhores músicos, tanto com alguns que eram meus heróis como também da geração mais jovem. Então percebi o quanto a música significava para mim, o quanto ela completava o desejo que eu tinha de me expressar e viver de uma maneira que eu não conseguia com outras coisas.


LEVA UM CASAQUINHO: Para encerrar: dos grupos de jazz atuais, quais vocês acham os mais relevantes em termos musicais e sintonizados artisticamente com vocês? 

Eric Harland: Somos todos fãs incondicionais do The Bad Plus, que reinterpreta de Nirvana a Stravinski e mistura de suingue a techno, é altamente cativante. E eles também adoram tocar aqui no Brasil.






JAMES FARM AO VIVO 
TEATRO DO SESC-SANTOS
QUINTA
26 DE MARÇO de 2015
21 HORAS
Rua Conselheiro Ribas 136
Telefone: 2378-9800