Jefferson
Almeida decidiu candidatar-se a vereador por um partido de esquerda,
aproveitando a onda, eterna onda, de descrédito da direita. Ele não era um
grande humanista e pouco se lixava pra causa operária, mas achou de fazer o
nome erguendo bandeiras que julgou lhe trariam dividendos. Defendeu minorias às
quais não pertencia e sempre, antes de iniciar qualquer defesa, pedia desculpas
por falar em nome dos oprimidos sem ter "lugar de fala". Não se
situava historicamente, nem se identificava com esta ou aquela classe, mas
sabia falar do que convinha e troca de votos ou likes.
Aproveitando
o fato de laborar num órgão público, por onde se fez conhecido em sua cidade,
adotou o nome de campanha Jeffinho do Detran. Passavam milhares de munícipes
por sua repartição todos os meses, todos à busca de emplacar o carro novo, de
um tempo pra cá tudo que é pobre tem carro zero. Jefferson se solidariza e diz
que é qualidade de vida pra classe operária.
Recentemente
uma lei eleitoral proibiu o uso de alusões a órgãos públicos no nome dos
candidatos. Não pode mais Zezinho da Prefeitura, nem Chiquinho do Cartório.
Jefferson teve que deixar de ser "do Detran". Mas não se julgue que
isso lhe trouxe prejuízo à campanha. Estava ali um homem que sabia se
reinventar e contornar as vicissitudes, sempre com resiliência e buscando
qualidade de vida. Ele mudou o nome pra Jeffinho Lacrador e isto foi muito
positivo pra sua campanha entre os identitários.
FIM
Germano Quaresma, ou Manoel Herzog,
nasceu em Santos, São Paulo, em 1964.
Criado na cidade de Cubatão,
trabalhou na indústria química
e formou-se em Direito.
Estreou na literatura em 1987
com os poemas de Brincadeira Surrealista.
É autor dos romances
A Jaca do Cemitério É Mais Doce (2017),
Dec(ad)ência (2016), O Evangelista (2015)
e Companhia Brasileira de Alquimia (2013),
além dos livros de poemas
6 Sonetos D’amor em Branco e Preto (2016)
e A Comédia de Alissia Bloom (2014).
Aqui, seus mais recentes trabalhos publicados:
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