Chapter
The First
Capítulo
de número um
Good
Afternoon, folks. My name is Manny Duke. I am a farmer, sorry, eu sou um
fazendeiro (falemos portuguese, please) aqui do Estado de Idaho, EUA. Nem
sempre eu tenho sido um fazendeiro, isto é, eu usava ser um lawyer quando vivia
lá na cidade grande. Um lawyer, um homem de leis. Cirscunstâncias da life me
levaram, no entanto, a me tornar um farmer, recluso aqui no escondido Idaho, no
munícipio de Crosses Cavern (Caverna das Cruzes), onde possuía já, adquirida
com o dinheiro que ganhei como homem de leis, uma pequena propriedade rural.
Montaigne, um sábio francês, e nós norteamericanos adoramos os franceses, viveu
experiência parecida à minha, a determinado ponto de sua life decidiu abolir
todo contato humano e se recolheu na sua quinta, nos arrebaldes de Paris, de
onde passou a escrever memórias e reflexões.
Eu
também decidi abandonar por completo o contato com os seres humanos, e devo
acabar por expor as razões que me levaram a tal decisão ao longo deste relato.
Não o faço agora por dupla razão: primeiro, não há uma lógica ou um ponto
determinante que me tenha feito optar pela vida em eremitério, the lonely life;
e segundo, se eu fosse enumerar o conjunto de razões por certo haveria de
inviabilizar este que denominei first chapter, capítulo primeiro, passando a já
fazer uma novel do que seria um simple chapter.
Meus
chapters, nesta historinha country, terão sempre o padrão de três parágrafos,
de forma a não cansar os leitores que se disponham a acompanhar. Aliás, here am
I já no terceiro parágrafo deste chapter de hoje, de onde devo estacionar.
Antes, contudo, vou adiantar dois substantivos que bem se podem incluir entre
as razões de minha escolha pelo isolamento no campo: um simple, Galinhas (sim,
chickens) and um nome próprio, Tiffany.
Chapter
The Second
Capítulo
Segundo
Hi,
Folks. Passei o weekend no meu private
Idaho, com minhas galinhas. Que animais fantásticos. Desde que resolvi me
isolar no Idaho, em Crosses' Cavern, tive bem clara a ideia de empreender uma
criação de chickens. Foi então que adquiri, num fornecedor do Alabama, um lote
de cento e cinquenta pintainhos (tweeties), de variadas raças, para corte,
postura de ovos, ornamento, sacrifício religioso, etc. Há três semanas os tenho
acompanhado, e como crescem! Começa a surgir até mesmo alguma afeição entre me
and my tweeties, e é sobre isso que quero filosofar today.
Viver
a rural life pode nos ressignificar a relação com os animals. O homem urbano,
constato, se acanalhou de tal forma que passou, em sua arrogância, a pretender
humanizar os bichos, aos quais atribuiu a detestável alcunha de
"pets". Um pet é a derrota da civilização. Famílias urbanas reservam
mais cota de amor a seus bichos de estima que a outros de sua espécie, que são
capazes de ver nas ruas, em absoluta miséria, com indiferença. Já presenciei
festa de aniversário pra cachorro, batismo de hamster, desfile de moda de
coelhos. Os próprios animais se tornam canalhas, como se humanos fossem, com
tais procedimentos. Ficam arrogantes, enjeitam alimento, avançam na mão que os
provê etc.
Eu
com meus pintos mantenho uma relação de bem querer e respeito mutual. Sabem que
minha função ali é alimentá-los e devem saber, se a intuição lhes sopra, que
meu intuito é o de um dia devorá-los, se necessário. mas não se restringe a uma
troca econômica a nossa relação, e só isso já a justificaria, segundo Karl
Marx. Há, sim um relação de afeto: não os crio em confinamento, não lhes
ministro hormônios para que cresçam mais e vivam menos, serão lançados a campo
onde viverão em liberdade e à noite terão ração fresquinha e água gelada com
que matar suas fome e sede, além de um poleiro limpo pra dormir ao abrigo das
intempéries. Tudo isso justifica sobremaneira a relação que um homem possa ter
com seu animal, é justo para ambos e mais, é digno. Aliás, dignidade é o que a
Tiffany faltou - a cretina usava manter aqueles gatos imundos como dois
parasitas, dois funcionários públicos estáveis, gordos e soltando pelos pela
casa. Paro por aqui hoje. Said papa Hemingway: just three chapters a day. Bye,
folks.
3rd.
Chapter
'Mornin,
folks. Yesterday eu estava muito bitter, amargo. Gostaria de me desculpar por
um excesso, ao dizer que Tiffany carecia de dignidade. It's not true. Ela
apenas tem uma predisposição maior que a minha, a nisso a invejo, de suportar a
vida em society, a urban life. O fato de colocar ametistas no chacra frontal de
nossa Shit-su, ou de me recriminar por querer comer ao molho madeira um dos
coelhinhos de nossa daughter, não a torna indigna. Apenas confirma que não
serve pra mim esta relação, e that´s allright, ninguém é obrigado.
Comprei
um lote de cem tweeties, como disse no chapter anterior, mesclados. Havia ali
galinhas brancas, dessas inúteis de granja que só prestam pra comer, havia
galinhas francesas Label Rouge, do pescoço pelado, havia galinhas poedeiras
Rhode Island e galinhas inteiramente negras, de belos olhos e crista vermelhos.
Estas se vendiam caríssimo, um old tycoon, um feiticeiro do underground de
Crosses' Cavern, as comprava para rituais satânicos. Os galináceos são seres
especialíssimos. Têm uma graça natural, não há quem não simpatize com eles,
sempre em volta da gente a nos olhar inquisitivos, curiosos da nossa tão sem
sabor humanidade. Comem o que quer que
se lhes apresente, vegetal, animal, mineral ou celestial. Carne, até a das
companheiras elas comem. Restos de ossos, pelos, cabelos, vísceras, sangue,
pele, pelanca e toda sorte de muxibas, em que estado de frescor ou putrefação
se encontrem. Vegetal, comem de tudo, a casca dos legumes, os grãos, as raízes,
os caules, os frutos e as sementes, inclusive a erva, o capim, e o que mais
viceje. Comem também areia, pedra, casca de ovo, comem, comem e, na medida em
que comem, defecam. Suas fezes têm um teor de nitrato e calcário absurdo, o que
retroalimenta as plantações que haja numa farm ou cottage, e assim criar
galinhas se torna um círculo fechado em que se aduba o que se planta pras
galinhas comerem. São engraçadas e, glória maior, absolutamente burras. Uma
galinha é dos seres mais idiotas e primários que Deus criou, quase tão estúpida
quanto uma anêmona. Não tem sentimentos, o que come é por ela processado com
uma rapidez e indiferença exemplares, não possui memória e nem guarda rancor. E
come, come desesperadamente. Diz-se que se um homem deitar no pasto e mantiver-se inerte elas o
devoram. Creio seja verdade. Billy J., de Oklahoma, garante que seu avô
nonagenário adormeceu sob um pé de oak e quando encontraram o corpo este se
reduzia a um esqueleto, já bastante bicado, pois as galinhas comem ossos
também. Mais um dia de esquecimento do Old Papa J. resultaria em nada se
encontrar além de titica calcárea.
Nem
só a galináceos, contudo, se resume a minha rural life. Ontem, for example,
passei o dia podando apple trees. Com uma tesoura de poda manual fui
desbastando os galhos que as arvorezinhas insistiam em fazer germinar pra
dentro, no sentido do tronco. É sabido, vi-o num curso de youtube com Dan T.,
um velho plantador de mirtilos, que se devem eliminar os galhos concorrentes
numa árvore, aqueles que nascem pra dentro, priorizando os externos, mais
propensos a floração e frutos. A natureza é isso, babies: algo a ser dominado,
instruído, dirigido, orientado por uma entidade mais sábia, como o é um homem
frente a uma estúpida galinha ou a uma árvore de maçãs. É a missão de um homem,
dirigir sua propriedade no sentido, não de oprimi-la, mas de lhe promover o
desenvolvimento. Todas as vezes que pretendi podar os comportamentos de Tiffany
foi justamente por a fazer evoluir, e ela nunca quis entender isso, a rebelde.
E eu sempre, todas as vezes, fui eu quem se deixou podar, direcionar, governar
por ela.
4th.
Chapter
Hi,
folks. Esta noite fui despertado por um nightmare, um pesadelo horrivel. Um
alarido vindo dos lados do galinheiro. Corri lá por ver o que havia, e
presenciei uma coisa inusitada: as galinhas de postura deblateravam numa
plenária de partido. A vermelhinha Rhode Island presidia os trabalhos e deu voz
à galinha preta, que estava inscrita. "Toda semana, especialmente às
sextas-feiras, uma galinha preta é assassinada! E a mando de um capitalista,
que lucra com o sacrifício." A caipira pé duro, namorada do galo índio,
inscreveu-se também: "Os galos têm fixação por cu. Meu namorado vive
naquelas rinhas de galo, e agora só come os franguinhos viados. É preciso
lembrar que nós também temos cu. Os humanos, pelo menos, nos querem pelo que
temos de melhor, botar ovos. Eles valorizam nosso cu."
A
galinha branca, de granja, também deu seu pitaco: "Uma galinha trabalha
duas vezes a jornada de um frango, e ganha menos. Há uma hegemonia no mercado
profissional, podem ver, só galo branco adulto e hetero ganha bem nessa porra.
Não passarão!" E foi assim que passei a me apropriar do conceito de
postura, uma postura radical. Minhas aves tinham sido levadas ao verdadeiro
"empoderamento".
Era
de fato um dream bem idiota. Mesmo depois de desperto e do dream estar over,
contudo, eu continuei muito impressionado. Uma tristeza de opressão me apertava
o peito fazendo lágrimas brotarem de my eyes. Ai ai ai I should have done
better, tocava essa música chata na rádio mental. A tristeza e a solidão me
invadiram na night solitária do Idaho. Eu tinha visto muito bem na plenária das
galinhas comunistas, o rosto da branca que deblaterava contra os homens era o
dela. Tiffany.
5th
chapter
A
sensação ruim do nightmare, a visão do rosto de Tiffany num corpo de ave me
acusando de todas as culpas pela desgraça do mundo acabou evanescendo com cinco
minutos na doce atividade de poda de apple trees. Era como se, manuseando a
tesoura, a livrar a árvore do excesso de galhos, eu próprio livrasse minha aura
de satélites obscuros, pensamentos ruins que orbitavam em torno de minha
cabeça. Estava já bastante distraído e leve, sentindo o prenúncio dessa
Springtime em pleno frio de agosto, quando um homem soturno bateu à porteira da
Farm:
"'D'morne.
Estou procurando Mr. Emmanuel Duke."
"Seu
criado."
"Big
Morgan P., muito prazer. Me recomendaram sua cottage, preciso de um fornecedor
de galinhas fixo."
Admiti-o
à propriedade e lhe mostrei as instalações do pinteiro, com os primeiros
animais em plena adolescência. Contou-me que era um capitalista, e que sua
atividade principal era o off-shore. Mesmo sendo um intelectual, um lawyer com
absoluto domínio da língua inglesa, eu embatuquei. Achei a princípio que fosse
um insólito piloto de lanchas off-shore, atividade de todo incompatível com as
gélidas montanhas do Idaho. Mas ele me fez ver que era outra coisa: cambalacho
financeiro, pilantragem, obtenção de ganho sem trabalho, especulação. Era
riquíssimo, um verdadeiro Tycoon. Propôs um preço bem razoável apenas pelos
pintainhos negros, aqueles sem uma única pluma de outra cor. Compraria quantos
eu produzisse."
(CONTINUA
SEMANA QUE VEM)
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