por Chico Marques
Kevin Kline é um dos atores mais interessantes da cena cinematográfica americana.
Surgido na mesma safra de atores que lançou William Hurt, Kevin Costner e Jeff Goldblum no início dos Anos 80, Kline é poliglota, talentoso ao extremo, e parece ser imune a miscasts, pois trafega tranquilamente entre dramas, comédias, musicais e até westerns.
Há 11 anos, logo após interpretar Cole Porter no sensacional "De-Lovely", de Irwin Winkler, Kline sentiu que os papéis de protagonista iriam começar a minguar dalí pra frente, pois seus 55 anos de idade estavam começando a ficar visíveis. Então, decidiu diversificar e embarcar em projetos independentes, onde ainda conseguia ser protagonista, e, de quebra, buscar papéis em filmes europeus, já que fala italiano e francês fluentemente.
Daí, não é nenhuma surpresa vê-lo encabeçando o elenco desta produção rodada em Paris, MY OLD LADY, de Israel Horovitz -- que aqui no Brasil ganhou o inadequado título "Minha Querida Dama", que faz uma alusão totalmente descabida a "My Fair Lady" --, ao lado da igualmente poliglota Kristin Scott Thomas e da grande dama do cinema inglês Maggie Smith. Kline faz Mathias Gold, um novaiorquino talentoso, que tentou ser escritor e também músico, mas nunca conseguiu achar foco em qualquer carreira por falta de amor próprio, depois de ter presenciado o suicídio de sua mãe. Ele herda do pai, recentemente falecido, uma casa em vários pavimentos com um enorme jardim no coração de Paris. Ao chegar ao endereço para tomar posse da herança, conhece Mathilde Girard (Maggie Smith), nonagenária, ex-amante de seu pai, que é, na verdade, a “proprietária” do imóvel.
(breve pausa para explicar esse fenômeno imobiliário: assim como os aluguéis no West Village, em Nova York, não podem ser reajustados pelas mesmas regras aplicadas pela especulação imobiliária em outros pontos da cidade, existem em Paris mecanismos semelhantes a uma hipoteca que impedem que moradores de uma certa idade sejam desalojados de suas velhas casas, ainda mais se elas forem localizadas em regiões muito disputadas)
Assim, Max Gold, o falecido pai de Mathias, comprou a tal casa extremamente bem localizada por um preço mínimo, com a condição dela continuar abrigando a antiga proprietária até a sua morte, além de pagar-lhe também um "aluguel mensal" vitalício de 2.300 Euros. Detalhe: o imóvel não pode ser negociado enquanto Mathilde for viva. Foi a maneira que Max encontrou de manter sua amante resguardada. Mathias se assusta quando descobre que o não pagamento deste "aluguel mensal", que mais parece uma pensão alimentícia, implica na dissolução imediata do negócio, e na devolução imediata da propriedade às mãos da moradora.
Ou seja: ele, que saiu falido de Nova York, descobre em Paris que herdou não uma casa, mas uma dívida mensal de 2.300 Euros. Mesmo assim, enfrenta a situação e descobre um investidor interessado em assumir a casa, mantendo-a habitada pela nonagenária Maggie até morrer. Claro que nesse meio tempo, Mathias se apaixona por Chloe, interpretada por Kristin Scott Thomas, que, para complicar, pode ser sua irmã por parte de pai. É muito engraçada a cena em que a personagem de Maggie Smith, torcendo por um romance entre Mathias e Chloe, argumenta: "Não tem problema algum se vocês forem irmãos, pois vocês não tem mais idade para ter filhos".
THE OLD LADY é uma comédia com contornos dramáticos intensos que usa da melhor maneira possível os talentos de seu time de atores, e que mostra uma Paris outonal, linda e envolvente. O diretor e roteirista Israel Horovitz deixa tanto Kevin Kline quanto Kristin Scott Thomas e Maggie Smith completamente à vontade para desenvolver seus personagens, e o resultado não podia ser outro: todos brilham na medida certa, e ninguém se excede.
Se você gosta de Kevin Kline, ou de Kristin Scott Thomas, ou de Maggie Smith, ou de Paris, não perca este filme.
MINHA QUERIDA DAMA
My Old Lady
(2014 - 107 minutos)
Direção
Israel Horovitz
Elenco
Kevin Kline
Maggie Smith
Kristin Scott Thomas
em cartaz no Cinespaço Shopping Miramar
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