COMUNICAÇÕES
Eu falo de mim - daqui -,
desta central,
pelo microfone do corpo,
por esse fio que vem do fundo
eu me irradio:
assim, numa transmissão de
sustos e rangidos,
veia e voz - ao vivo - sob tanto
sangue: - pantera escarlate
que passa e pisa
e se espatifa nesse chão:
pata de lacre,
grito! pingo sobre o alvo
tão tátil da minha carne,
nos panos
instantâneos do meu espanto
nas janelas
onde me debruço sucessivo
e vário, seqüência de mim,
em fotonovelas
me desdobro - quadro por quadro,
nos desenhos
de dentro do que sou e projeto,
aos poucos, - plano e pausa -
para fora
com a vida que me veste
pelo avesso:
- filmes de sêmen onde publico
figuras de suor e celulóide,
numa lâmina
de velocidade e de lembrança,
em fotogramas
de esperas e posturas - falha,
folha de slides-células, sopro
e pulso,
página de pele em que escrevo
o uso
a articulada letra do meu gesto,
o rascunho de rugas & rasuras
feito à unha
nas nuas marcas do meu corpo
no espaço,
e nos lençóis da claridade,
monograma, silueta, cadência,
e a fala
que se imprime nesta fita,
neste sulco:
- a linguagem como um fim,
- a linguagem por um fio,
e a morte em morse
Armando Freitas Filho
nasceu no Rio de Janeiro
há exatos 75 anos.
Publicou em 1963 "Palavra",
seu primeiro livro de poemas.
Desde então, publicou outros quinze.
Em 2003, reuniu seus primeiros
quarenta anos de poesia
no calhamaço "Máquina de Escrever".
Publicou pela Companhia das Letras
três volumes indispensáveis
nesses últimos anos:
"Raro Mar" (2006),
"Lar" (2009)
"Dever" (2013)
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